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Visto o moletom rosa e uma calça skinny preta, me sinto confortável. Hoje vou com minhas botas de couro falso, estou nervoso. Passo um perfume de Gemma e desço as escadas, mamãe me espera lá em baixo, reviro os olhos para ela que sorri e me avisa que devo tomar cuidado e voltar até meia-noite.

Pego o carro e sigo até a casa de Louis. Hoje vou falar, acho que ele vai gostar.

Ele sai de casa e vejo duas garotas observando ele na janela, ele está estonteante, seus tênis combinam perfeitamente com o jeans, que por sua vez combina perfeitamente com o moletom branco, que por sua vez combina perfeitamente com ele, com os olhos e com a barba rala por fazer, com o topete e com os lábios finos. Ele entra no carro.

— Meus pais querem falar com você — ele diz olhando para frente, assinto e abro a porta, vou com ele até a entrada, ele abre a porta e eu entro primeiro. As duas garotas na janela são as primeiras que me cumprimentam, depois vejo a mãe dele na cozinha, ele me leva até ela e ela se apresenta como Johannah, mas eu posso chamá-la de Jay. — Ele não gosta muito de falar, então não se assustem. — Louis diz e senta numa das várias cadeiras em volta da mesa. Respiro fundo.

— Eu posso falar. — Digo e olho para Louis, que dá um sorriso sem mostrar os dentes. Um homem chega na cozinha e se apresenta como Mark, me apresento e ele senta do lado de Jay na mesa.

— Que faculdade você presente fazer Harry? — Jay pergunta e Louis arregala os olhos, não esperávamos esse tipo de interrogatório.

— Não sei. — Respondo e Mark me olha com reprovação.

— Quantos anos? — Ele pergunta.

— Dezessete.

— Irmãos?

— Uma.

— Nome?

— Gemma.

— Pai?

— Morto. — Respondi com uma falha na voz, ele havia tocado no ponto fraco e meus olhos estavam cheios de lágrimas.

— Vocês já pararam de ser escrotos? — Louis perguntou para os pais, os dois estavam chocados com a minha reação, acho que no fundo era para ser uma brincadeira dos dois para parecerem durões, mas o tiro saiu pela culatra.

— Desculpe — disse Jay, ela levantou e me abraçou.

Louis levantou e pegou minha mão, saímos.

— Nossa, me desculpe por isso, meus pais são bem chatos, eles acham que isso é "zoeira" e que os torna mais legais, não os torna. Espero que você não tenha desistido, por favor não desista. Mas se quiser desistir pode, não vou te forçar a nada, acho que a noite começou muito errada, será que ainda tem chances dela dar certo? Harry? Você está bem? — Eu estava sufocando no carro, precisava abrir os vidros, fiz isso e o ar bateu em mim e me aliviou.

— Onde vamos? — Perguntei.

— Não sei, ao McDonald's? — Ele pergunta e eu assinto e ligo o carro. O caminho é silencioso, deixo que ele pegue o iPod e escolha a música. New Rules toca e ele cantarola um pouco, mais algumas músicas da Dua Lipa tocam até chegarmos no nosso destino. Pedimos dois Big Tasty com batata média e suco de laranja, ele não deixou eu pagar. — Você pode pagar a sobremesa. — Ele disse e eu assenti.

Não parava de pensar no meu pai. Na morte dele.

Não sabemos o quanto alguém pode nos fazer falta, até que perdemos essa pessoa e então pensamos em todos os momentos que podíamos ter com ela.

— Sabe, seu olhar está triste e é horrível te ver assim, espero que melhore logo, se não eu vou ficar um pouco mal também. — Ele pega uma batata e estende para mim, eu pego a mesma e como, não era preciso ele me dar a batata, mas ele deu mesmo assim. Me inclino até ele e deposito um pequeno selinho nos seus lábios, dou um sorriso nervoso logo depois e ele levanta e vai até um caixa pedir pacotes para a viagem. A noite não vai acabar aqui. — Vamos caminhar um pouco. — Ele diz.

Saímos do McDonald's e seguimos em direção contrária ao local onde deixei o carro, ele fala que as irmãs mais novas dele (todas) estavam ansiosas para me ver e que o maior motivo de Mark ter feito todas aquelas perguntas sem noção era que ele nunca havia levado ninguém para casa. Também disse que tecnicamente não havia me levado, mas eles não se importavam, só queria conhecer um namorado.

— Eu expliquei que você não é meu namorado e que nem nos conhecemos direito, expliquei que você estava substituindo Zayn e que apenas íamos sair porque não queríamos ficar em casa numa noite de sábado. — Ele falava enquanto eu olhava para o chão, a voz dele era realmente fofa e eu poderia escutar ela a noite toda, mas o relógio já marcava onze da noite, em uma hora eu deveria estar em casa. Resolvemos voltar para o carro e eu larguei ele em casa, Jay me deu tchau e um beijo na bochecha, Mark pediu desculpas por ter me feito chorar. Cheguei em casa e não houveram perguntas, nem mensagens. Deitei e dormi. Não falei mais com Louis naquele fim de semana.

///

O jogo ia começar, podia escutar o barulho dos torcedores, estava nervoso. O time estava fervoroso, o técnico tentava acalmar todos, impossível.

— Quero que todos vocês saibam, que independente do resultado, somos ganhadores por termos chegado aqui, estamos fazendo história, é a primeira vez que chegamos em uma final! Somos as primeiras ovelhas que jogarão contrato os tigres, eles não perderam nenhum jogo e estão se vangloriando desde já, não deixem que eles atinjam vocês! Nós somos capazes e vamos conseguir, já somos ganhadores! — Niall gritava e todos comemoravam, seguimos para o jogo.

De um lado estão todos de azul, os tigres. Do outro lado estão todos vestindo vermelho, as ovelhas. O nervosismo me atinge e travo, mas Liam logo me empurra em direção a goleira. Liz está com as líderes de torcida, nosso mascote está dançando no campo, travando uma pequena guerra com um tigre.

O jogo começa e todos estão apreensivos, mas não demonstramos. Olho para a arquibancada e vejo Gemma e mamãe, elas me vêem também, acenam, mas não respondo.

Um garoto de azul vem na minha direção, me preparo. Ele passa por Louis, por Niall e por Liam, passa por Jack e Nick, ele vai chegar em mim. Bato uma mão na outra e fico em posição, estou no centro da goleira e ele chuta a bola para a esquerda, está alta. Pulo e me atiro para a esquerda, a bola bate nos meus dedos e voa para trás da goleira, eu defendi. Há uma comemoração e o jogo recomeça. Louis está com a bola, passa para Jack e ele passa para Niall, depois alguém dos tigres pega a bola e me preparo. Liam pega a bola rapidamente e passa para Louis que chuta em direção a goleira, o goleiro pega a bola nas mãos e joga, um dos garotos de azul vem em minha direção, chuta a bola e me atiro em direção a ela, pego na mão e atiro para Liam.

Nosso time é unido, percebo isso pelo modo como um passa a bola para o outro, não há nada individual, ao contrário do outro time, onde um pega a bola e somente ele fica com ela, é raro os passes. A união faz a força, a força vence.

Louis chuta a bola em direção ao gol e a bola passa entre as mãos do goleiro, marcamos. 1x0. O primeiro tempo acaba e seguimos para tomar água.

Quando voltamos, avisto toda a família de Louis na arquibancada, eles estão no extremo oposto da minha pequena família.
Nenhum gol é marcado no segundo tempo, mas quando acaba o jogo o time comemora como se não houvesse amanhã. Era a primeira vez que ovelhas ganhavam de tigres.

— Festa na minha casa, merecemos! Espero vocês lá. — Liam disse quando chegamos no vestiário, tomei banho e segui para casa, precisava avisar mamãe. Quando cheguei ela já estava lá, havia saído logo que o jogo acabou. Me parabenizou e deixou eu ficar na festa. Gemma não quis ir.

Fui para a festa e jurei me divertir como se não houvesse amanhã.

Sweet Creature | LarryOnde histórias criam vida. Descubra agora