Capítulo 1

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Eu não a amava! Na verdade, nunca a amei. Toda vez que a via meu coração se enxia de dor e lagrimas escorriam pelo meu rosto. Conviver com uma pessoa que para você é repugnante te causa uma extrema desilusão com a vida. Observá-la no quarto, expondo todas aquelas marcas e expressão abatida me causava nojo. Diversas vezes me perguntei em qual parte do tempo eu havia parado, e quando foi que deixei isso acontecer.

Confesso, do fundo do meu coração, que realmente queria considera-la atraente, mas é algo impossível. Aquele conjunto de cabelo mal cuidado por falta de tempo, as marcas deixadas pelas garotas da escola, aquele óculos ridículo que sempre insistia em usar, suas roupas sempre amaçadas e o corpo todo desproporcional não me deixava olhar para nada que fosse bom nela. Tentei tantas vezes dizer que havia coisas para se orgulhar. Tudo em vão! Estava estampado na minha cara o quanto não me encontrava contente.

Tenho certeza que nesse exato momento você deva estar pensando em quanto sou cruel por dizer todas essas coisas. Mas não devemos ser hipócritas, todos somos cruéis em algum momento de nossas vidas. E nesse caso, estou a penas dizendo algo que é verdade. Quero apresentar uma das maiores decepções da minha vida: Fiona Rossi. Para o tipo de pessoa que ela é, o nome Fiona combina direitinho.

Algo que ela sempre gosta de ficar relembrando é em seus momentos de infância. E isso como se fosse uma coisa boa. Com os pais separados e todo aquele dilema e tortura ao ficar pulando de casa em casa, nunca soube o que é ter uma família de verdade. Morar com a mãe era algo complicado já que ela nunca tinha tempo por precisar trabalhar dobrado. Sua vida foi composta por uma solidão inacreditável, mas ela gostava de relembrar isso, e no fundo nunca entendi muito bem o porquê.

O motivo da separação de seus pais foi por simplesmente não se suportarem mais. O tempo fez com que a relação se desgastasse e ambos ficassem exaustos um do outro, e a melhor alternativa, na visão de cada um, seria seguir seus caminhos de forma individual. O que não levaram em consideração é que um fruto da junção dos dois estava para nascer. Se isso mudou algo para eles? Obvio que não! Estavam todos preocupados em resolver seus problemas e dane-se o resto.

George, seu pai, logo resolveu seus problemas. Saiu de casa, arrumou um lugar para ficar, e continuou trabalhando como advogado, só que dessa vez bem longe delas. Já Lily, sua mãe, passou a se desdobrar para manter-se. Trabalhava como garçonete, cuidava de crianças, limpava a casa dos outros. Fazia de tudo! Nunca tinha tempo ruim. As vezes George mandava dinheiro para ajuda-las, e as vezes ele nem se quer se lembrava. Quando Fiona nasceu, ele nem se quer foi visita-la no hospital. Passaram-se um ano, dois, três...e suas aparições e participações como pai eram mínimas. Não sei o que se passou na cabeça dele. Talvez fosse algum tipo de medo de se aproximar, ou então ele achava que uma criança inocente poderia o privar de tudo que esperava recuperar de seus anos. Orgulho? Quem sabem! Quem sou eu para julgar? Mas sei que Fiona sempre quis saber o motivo dele nunca ter se aproximado.

Contar tudo isso em voz alta me deixou somente uma explicação do porquê ela gosta tanto de se lembrar de sua infância. E... a resposta que encontrei para isso, é que ela não gosta nem um pouco. A verdade é que ela só volta no passado, por que precisa entender todos os erros na esperança de concertar o seu futuro. O que ela quer é tapar todos os buracos da própria vida, e...de uma forma meio louca, eles começaram antes do que possa imaginar.

Por que tudo isso? Você deve estar se perguntando. A única coisa que quero de você é que me ajude a entende-la. Assim como seus pais fizeram, estou prestes a deixa-la, mas percebo que no fundo, não é isso que quero fazer.

Quem é você?Where stories live. Discover now