Primeiro

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Cadu

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Cadu

Não sou um alcoólatra. Não mesmo. Falo fluentemente três idiomas, cursei duas faculdades, sou bonito e muito rico. Alcoólatra é o mendigo da esquina do meu edifício de luxo.

Sim, fui esse prepotente. Fui bem mais que isso. Fui manipulador, inconsequente e cheguei ao fundo do poço. A beira da morte. Perdi tudo. Respeito, admiração e dignidade. Os significados dessas palavras foram arrancados da minha vida pelo consumo excessivo do álcool, e mesmo assim foi difícil assumir que sou um alcoólatra.

Os médicos me trouxeram de volta de minha terceira overdose. Como aconteceu? Simples, eu dei o primeiro gole. É sempre assim que acontece e eu bebi por prazer, por status, por inibição, por depressão, tudo para mim era motivo para beber.

Ainda é.

Aos quatorze anos já havia experimentado todo tipo de bebida alcoólica. As minhas preferidas eram vodca, ou cachaça pura. Minhas mãos tremem e sinto um aperto no estômago ao lembrar-me do sabor da bebida. Do seu aroma.

Se ainda bebo? Não. Estou limpo há um mês. Não apenas por vontade própria, mas porque aceitei ser interditado. Interditado pela única pessoa que nunca me abandonou. Minha mãe. Dona Helena é tudo o que me sobrou. O restante de minha família não quer me ver nem pintado de ouro. O que eu fiz para merecer isso?

Nem queira saber. Bem... talvez você deva, quem sabe assim você não comete os meus erros. Olho as copas das arvores da pequena e gradeada janela e suspiro. A abstinência está me sufocando. Mesmo com a medicação eu sinto seus efeitos. Estou tentando ser forte, mas não é fácil.

Porra, não é mesmo!

É a pior coisa que já fiz na vida. Mesmo sentindo que as paredes brancas do quarto de reabilitação podem me esmagar permaneço quieto. Por quê? Bem, porque estou tendo alucinações, e tenho medo de machucar as pessoas. Bebi tanto que acabei fodendo meus miolos. Eu tenho 30 anos e fui diagnosticado com esquizofrenia. Logicamente que minha genética me preparou essa surpresa, entretanto se não tivesse consumido tanto álcool não estaria apresentando os sintomas tão cedo.

Mas uma coisa extraordinária que o alcoolismo me presenteou. Ou melhor, eu mesmo me dei.

Não quis enxergar no que me tornei. Eu, um cara bem apessoado, um dos playboys mais cobiçados do Brasil alcoólatra? Impossível! Virar um mendigo então? Fora de cogitação! Mas aconteceu. Fiz coisas que nunca pensei que faria. Magoei pessoas que nunca pensei que magoaria e perdi o controle da minha vida como nunca pensei que perderia.

O que eu aprendi? Naquela época louca da minha vida? Droga nenhuma! Achava-me invencível. Poderoso. Hoje? Depois de frequentar o AA (alcoólicos anônimos) assimilei muita coisa, mas ainda estou em aprendizagem.

Cada dia é uma nova luta, uma nova conquista. Todavia não vou desistir de recuperar o que sobrou de mim mesmo.

Também a dias de derrota. Ficar sem o álcool está me matando aos poucos. Mas procuro não desanimar. Jamais vou esquecer que para todas as minhas ações impensadas, ou criticamente calculadas vou pagar um preço muito alto pelas consequências. Já estou pagando na verdade.

Respiro fundo e mentalizo as palavras de Lucas Mendicino:

"Só por hoje viverei sem drogas e sem o álcool. Só por hoje..."


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Olá, estão preparados para Cadu? Aviso que ele não é um mocinho bonzinho. Então não esperem muitas cenas de romance, mas sim cenas fortes. Postarei na integra, e não terá  muitos capítulos.  Espero que eu consiga entreter e aos mesmo tempo alertar para essa doença extremamente preocupante e mais atual impossível. Abraços e até breve.

A Redenção de CaduOnde histórias criam vida. Descubra agora