Cadu
Admitir que errei e que fui impotente perante o álcool foi algo realmente duro. Não aceitava de forma alguma que havia perdido o domínio sobre minha vida. Mas foi o passo inicial para que mudasse meu comportamento.
No AA (existe um programa chamado: Doze passos. Veja, não sou um modelo de virtude, mas estou tentado seguir esses passos. Não é algo fácil você admitir que está errado.
Ninguém gosta de admitir que errou, mas não quero mais afligir dor a ninguém. Todas as noites quando me deito em minha cama, e fecho meus olhos, passam por minha mente com exatidão as coisas ruins que fiz.
Errei de forma irreversivelmente.
A imagem de minha mãe chorando é a mais forte. Magoei-a de todas as formas possíveis. Sinto escorrer pelo rosto lágrimas de arrependimento. Quantas noites sem dormir ela passou por minha causa? Quantas vezes solitariamente ela percorreu as esquinas, os becos, os botecos, e a sarjeta a minha procura? Não sei precisar, foram incontáveis.
Como por exemplo, a festa de aniversário de um amigo de faculdade.
A festa na maior boate da cidade fervia. Minha alegria era contagiante. A noite mal havia começado e já me encontrava bêbado. Caindo de tão embriagado. Eu ria e dançava como um louco na pista. As pessoas me olham e riam. Para elas eu estava curtindo.
A sociedade hipócrita te permite beber socialmente, então eu bebi. Bebi até a inconsciência. Acordei sem camisa, sem minha carteira com meus documentos e jogado na rua. Mal podia andar, foi quando eu percebi a presença de minha mãe ao meu lado.
Ela me amparou e me levou para casa. Essa mesma rotina se estendeu por um ano até que meu pai me expulsou de casa.
Não achei ruim, pelo contrário, foi providencial. Não teria mais que esconder minhas garrafas de bebidas, não precisaria mentir para encobrir minhas escapadas.
Então a coisa degringolou para orgias dia sim outro também. Não trabalhava mais. Minha vida se resumia a beber e beber. Até que meu pai também me retirou do empreendimento da família. Deserdou-me ao aparecer apenas de cueca, mijado e bêbado na frente de todos os acionistas da empresa.
Minha aparição nada convencional foi parar nos tabloides sensacionalistas. Sem saber o que fazer, e sem um tostão no bolso, passei a me prostituir para manter meu vicio. No começo eu ficava com nojo das mulheres que me procuravam, então eu bebia para ter coragem de enfrentar a situação. Depois que eu estava entorpecido, fora de mim para ligar para qualquer coisa, aceitava-as sem pensar.
Perdi contato com minha família e não me importei com isso. Eu só me importava com o álcool. Ele me fez o grande favor de me tornar alguém deprimente, digno de desprezo e pena.
Dois Anos Atrás
Meus olhos ardem e pisco zonzo. Onde porra estou? Sento-me e tento me situar. Levo a mão a cabeça. Caramba, parece que tudo lá dentro vai se dissolver. Olho ao redor com os olhos semicerrados e percebo então estar rodeado de pessoas. Pessoas bem vestidas.
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A Redenção de Cadu
General FictionPara todos que foram e são afetados pelo alcoolismo.