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     Mais um dia que eu não acho nada para comer e beber. Estou fraca, desnutrida e toda machucada. Respirar ficou difícil depois de tudo o que vem acontecendo. O mundo não é mais o mesmo. Antes éramos predadores, vivíamos comandando o mundo. Não havia nada que podia nos parar. Doenças? Tínhamos cura para todas. A fome? Cada um com os seus problemas. A pobreza? Foi ignorada pelo ser humano. As máquinas? Acabaram nos dominando.

     Depois de andar, ou melhor, rastejar. Porque ficar cinco dias sem ter o que comer acaba dificultando minha sobrevivência. Eu acabo achando uma caverna no meio de uma floresta densa. "Aqueles malditos jamais me acharam aqui"- bom, era o que eu esperava.

     Entrei em meu novo e belo lar. Um pequeno buraco por fora e uma grande caverna por dentro. Sem animais ou insetos, infelizmente.

     Comecei a arrumar minhas coisas. Três cobertas forradas no chão, uma para me cobrir. Me sinto no paraíso, finalmente vou poder descansar. Deitei em minha cama arranjada e começo a me lembrar do passado. Era tudo perfeito, lindo e meio destruído.


         Dia 03 de fevereiro de 2017, estou fazendo 13 anos! me sinto responsável! Na verdade sempre fui. Cuido dos meus dois cachorros, sozinhas! Dou banho, comida, água, limpo suas necessidades e até faço carinho. Tenho uma vida bem difícil. Eu limpo a casa para ajudar minha mãe, estudo de manhã e de noite tenho aula de arco e flecha, meu pai diz que um dia vou precisar ter uma flecha em mãos, ele é meio doido. Mas mesmo assim eu gosto dessas aulas, sou proficional quando o assunto é ter mira!
     Hoje é um dia especial, começo das aulas e meu aniversário. Não tem como ser melhor. Vou conhecer meus novos professores e vou rever meus colegas de classe. Ser sociável não é comigo, mas eu tenho meus amigos e minha melhor amiga.
     Acordo, faço minha higiene pessoal e vou tomar café com meus pais e minha irmã mais nova.
     Eu tentei não prestar atenção no que a TV dizia, mas era impossível!

  "Hoje nossos inventores tiveram um avanço incrível com sua nova criação! Montaram mais uma parte importante para nossa revolução."

     Eu não entendia o que iria surgir, pensava que eles iriam criar carros voadores ou algo do tipo, mas era bem diferente, eu duvido que eles pensavam no nosso bem com essa criação.

  " O doutor Félix Covertion, um dos inventores, falou hoje em uma entrevista sobre sua criação: "Eles iram melhorar nossas vidas, ajudar o mundo a evoluir e sempre lembraram de nós, humanos, como seus criadores"

     Isso é estranho, não acredito que vai dar certo, mas se der, aposto que vai ser irado!
   
     Fui para a escola pensando e comentando sobre isso, minha amiga pensava o mesmo que eu. Combinamos de ter um carro voador, quando lançar, para irmos para Marte em uma viagem com nossos pais. Pareceu ser muito legal, bem, pelo menos o que a gente imaginou foi legal!

     O dia passou rápido. Todos falavam sobre a nova revolução industrial. Meu professor de ciências estava empolgado, enquanto o de filosofia não gostou muito dessa nova criação humana.
     Conheci um garoto novo hoje, ele era estranho, mas tão bonito, todas as meninas foram atrás dele. Coitado, um monte de vaca tentando seduzir o garoto. Eu fico até com nojo. Beijar na boca? ECA! Não estou na idade disso, ou talvez eu esteja só não queira.
      Eu tentei falar com o garoto e mesmo parecendo algo impossível eu consegui. Seu nome é Eric, tem cabelos pretos, pele branca, olhos azuis e tinha uma cicatriz em baixo de seu olho esquerdo. Ele foi simpático comigo, mas parece não ter gostado das meninas da minha sala. No meio da nossa conversa, percebi que seu braço esquerdo era enfaixado até a altura dos cotovelos, perguntei se ele estava machucado e ele disse que tinha torcido o braço em um jogo de basquete.
      Quando cheguei em casa, contei tudo o que aconteceu para minha mãe que ficou curiosa para saber quem era o menino. Não entendi o por quê, talvez ela o conheça de algum lugar e eu não saiba.
      

       Era engraçado minha inocência na época. Amava todos da minha escola, nem todos, talvez eu não gostasse de quase ninguém...
       Gostava daquela época, não tinha riquezas, mas meus pais trabalhavam duro para eu estudar em uma escola boa. Minha mãe era professora e meu pai policial, talvez seja por isso que eu faça aulas de arco e flecha, minha família sempre amou ver minhas habilidades nessa área.

        Fecho meus olhos e uma lágrima solitária escorre pela minha bochecha e assim adormeço, com as lindas lembranças de meus pais e amigos.

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