O cemitério

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"To die would be an awfully big adventure" - Peter Pan


Sleepy Hallow. Outubro de 2017.


Todas as luzes tinham se apagado.

Era isso que restava ali, enquanto seu nariz estava sujo com o pó branco diabólico. Ele tinha desmaiado, ou estava em êxtase de novo - era muito difícil saber. Seus olhos escuros estavam vidrados, opacos, cegos de bom senso. Axl sentia-se livre, e pensou sentir a escuridão na ponta de seus dedos, como insetos dançantes. Algo tinha se quebrado nele há muito tempo. E ele nem sabia o que era. Ele queria tomar tudo que a vida tinha para oferecer e isso nunca parecia ser o suficiente. Mais. Ele queria mais. Muito mais. E mais de novo.

Sleepy Hallow era seu lar, mas também uma porra de uma maldição. Uma cidade pequena, com gentinha do tipo bem burra. Axl iria embora se pudesse, mas ele tinha feito 19 anos aquela semana e nem tinha terminado os estudos. Todo aquele estilo de vida, as gangues e as apreensões tinham sido uma pedra no caminho. Estudos não eram sua prioridade. E certamente ele não era bom aluno.

Não deveria ser importante. Gentinha conformista, fazendo coisas conformistas. Ele iria embora, só tinha que se meter com os negócios certos. Talvez, mais drogas, talvez, assaltos. Ele não se importava mais. Ele queria sua liberdade, nem que isso custasse tudo que seus pais idiotas tinham o ensinado. E o que eles sabiam? Dois professores de merda. Fazendo trabalhos de merda.

- Eu ouvi dizer que é totalmente mal-assombrando. - Disse um dos membros da gangue, rindo alto e pegando outros 5 gramas para si. - E dizem que a vibração é muito maior para nós, que não temos a cabeça enfiada no cú.

- Isso é crendice idiota. - Axl riu, dando de ombros, aproveitando a viagem. - Onde ouvi essa bosta?

O rapaz chegou a forçar o corpo para cima, tentando manter a cabeça sob controle enquanto encarava dois membros de sua gangue. Seu casaco preto, totalmente imundo e manchado não refletia o quanto ele era classe média. Sua jeans, seu rosto de garoto-problema, tudo nele gritava reformatório.

- Se tem tanta coragem, por quê não vai lá? - O rapaz falou. - Aposto que você cagaria nas calças, valentão.

O cabelo castanho de Axl caiu em seu rosto. E ele sorriu um sorriso macabro e de desdém.

- Vá à merda, Kyle.

- Vá você, seu medroso. - Provocou o rapaz. - Aposto que você se cagaria todo, se fosse.

- O que você me dá se eu for?

- Se você for... e se entrar em um dos túmulos, eu te dou um mês, grátis. - Mostrou uma porção de pó branco. Vou falir, mas vai valer a pena.

- Você só pode ser fodido da cabeça. - Ele virou-se de lado, bufando o ar quando sua visão tornou-se desfocada.

Axl forçou o corpo para se levantar e mexeu no bolso, imaginando o celular ali, para tirar fotos comprobatórias. Isso, uma boa selfie na cena. Dentro de uma tumba ridícula que aquelas pessoinhas de merda construíam por serem burras demais para acreditarem em um Deus de misericórdia. Misericórdia o caralho.

- Eu vou, e vocês vão ver só! Vão engolir a porra da língua de vocês.

- Cara... não vai. - O outro amigo disse sério. - Isso é ideia de maluco. Você pode ser preso, sabia?

O cemitério não era o tipo de lugar que Axl gostava de frequentar. Góticos iam ali para beber e se sentir perto daquela merda toda, mas ele preferia as ruas. Preferia as gangues. O cheiro dos carros. Agora, a ideia de ter seu precioso pó branco à sua disposição não era de todo ruim. Ora, se ele podia apostar alguma coisa, podia pelo menos se beneficiar. Drogas eram caras, e Axl não tinha muito direito.

Além do túmuloOnde histórias criam vida. Descubra agora