Capítulo 1

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PRÓLOGO






ESTEBAN olhou para o caixão no fundo da cova aberta. A terra que haviam jogado ali estava dispersa sobre a tampa, assim como algumas flores solitárias jogadas por amigos, conforme eles iam embora, e conhecidos. Alguns deles eram homens, perturbadoramente desconsolados. Ficava claro que havia alguma verdade nos rumores de que a deslumbrante Esperanza Christakos tivera amantes durante seu terceiro casamento.


Esteban sentia muitas emoções contraditórias, além do óbvio pesar por sua mãe falecida. Não poderia dizer que ele e a mãe tinham sido próximos um do outro; ela era quase uma estranha para o filho e parecia estar sempre envolta em um manto de melancolia. Esperanza havia sido muito bonita. Bonita o bastante para levar o pai dele a ficar louco de dor quando ela o deixou.

O tipo de mulher com a habilidade de fazer qualquer homem adulto perder completamente seu senso de dignidade e de si mesmo. Não era algo que fosse acontecer com ele. O único objetivo de Esteban era sua carreira e a reconstrução do império de Motores Falcone. Mulheres bonitas eram uma diversão agradável, e nada mais. Nenhuma das suas amantes tinha qualquer ilusão ou esperava nada além do transitório prazer de sua companhia.Sua consciência alfinetou nessa afirmação arrogante. Tivera apenas uma amante que testara seus limites, mas aquela era uma experiência que Esteban não se permitiria novamente... não mais.

Seu meio-irmão, Alexio Christakos, virou-se para ele e sorriu. Esteban sentiu uma dor familiar em seu peito. Amava o meio-irmão desde o momento em que ele nascera, mas o relacionamento deles não era tranquilo. Havia sido difícil para Esteban testemunhar o irmão crescer com a certeza do apoio e do incentivo do pai dele, tão diferente da sua experiência com o seu. Esteban se ressentiu por muito tempo, o que não havia ajudado na óbvia antipatia que o padrasto nutria por um filho que não era seu.

Os irmãos se afastaram do túmulo, absortos nos próprios pensamentos. Da mãe, ambos haviam herdado expressivos olhos verdes, embora os olhos de Alexio fossem mais dourados do que os atraentes olhos claros de Esteban. O cabelo de Esteban era mais volumoso e de um tom de castanho mais escuro, comparado aos cabelos curtos em tom de ébano do irmão.

Diferindo apenas um pouco na altura, os dois tinham alguns centímetros além de 1,80m. A constituição física de Esteban era mais ampla e impressionante. Seu irmão era tão forte quanto ele, mas mais magro. A barba malfeita sombreava a linha firme da mandíbula de Esteban e, ao se aproximarem dos carros estacionados, Alexio fez um comentário rude.

– Você não poderia ao menos ter se limpado para vir ao funeral?

O aperto que parecia esmagar o peito de Esteban enquanto estivera de pé ao lado do túmulo de sua mãe dava sinais de alívio. Ele driblou o desejo de dar uma resposta defensiva para esconder a vulnerabilidade que sentia e enfrentou o irmão, falando pausadamente, com um brilho nos olhos.

– Eu levantei muito tarde.

Esteban não podia explicar ao irmão que havia, instintivamente, preferido o escape momentâneo de uma noite de paixão com uma mulher sem importância a encarar os sentimentos que a morte da mãe tinha despertado. Escolheu não enfrentar a dolorosa sensação de abandono que experimentara com o fim amargo do casamento dos pais, e a lembrança do homem alquebrado e devastado que o pai se tornara. Tantos anos depois, o pai de Esteban ainda era um sujeito amargo e cheio de rancor, que se negara a despedir-se da ex- mulher apesar dos esforços do filho, que havia tentado trazê-lo até o último momento.

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