Capítulo 2

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CAPÍTULO 2

– Mãe a gente agora pode ver os carros na TV?

Marí colocou a mão na cabeça de Milo e murmurou:

– Por que você não vai começando?

Eu já vou, tudo bem?

Milo saiu correndo, deixando um silêncio tenso entre Marí e Esteban. Ele sabia. Ela podia senti-lo nos ossos. Ele soube assim que olhou nos olhos do filho. Tão idênticos. Ela odiava que alguma coisa no reconhecimento imediato dele de seu próprio filho fizesse com que algo dentro dela se abrandasse. Esteban a encarava com tanta intensidade que ela sentia como se sua pele ficasse marcada. Uma marca a ferro.

– Deixe-me entrar, María. Agora. Ao mesmo tempo trêmula e sufocada, Marí recuou e terminou de abrir a porta. Esteban entrou, e sua figura alta e forte fazia o vestíbulo parecer menor. Ele tinha um cheiro levemente picante e almiscarado, e o choque das lembranças fez o coração de Marí dar um tranco.

Marí fechou a porta da frente e andou rapidamente até a cozinha no final do corredor, passando por onde Milo estava sentado de pernas cruzadas na frente da TV assistindo a um conhecido programa sobre carros.

Ela ia fechar a porta que ligava a sala ao corredor quando uma voz seca atrás dela instruiu:

– Deixe assim.

Ela tirou a mão da maçaneta, tensa. Esteban estava olhando para Milo, que parecia hipnotizado pelos carros na TV. Ele tinha uns três de seus carrinhos favoritos nas mãos. Caso os olhos dele e sua pele morena não fossem uma indicação fatal de sua ascendência, seu amor por carros poderia ser o pior tipo de ironia.

Marí recuou e entrou na cozinha. Ela não conseguia sentir as pernas. Parecia enjoada, tonta. Voltou-se e viu Esteban segui-la e encostar a porta, sem realmente fechá-la.

Esteban estava pálido por baixo de sua tez morena. E parecia à beira de cometer um crime.

Trincando os dentes, disse:

– Agora é aquela hora em que você me diz que por algum extraordinário acaso da genética essa criança ali não tem aproximadamente 3 anos e 3 meses. Que ele não herdou exatamente a mesma cor de olhos que herdei da minha mãe. Que ele não é meu filho.

Marí abriu a boca.

– Ele é.... – Mesmo agora, neste último segundo, seu cérebro buscava desesperadamente algo em que se agarrar. Alguma maneira de justificar aquilo. Ele era o pai do menino.Ela não tinha mais o direito. Ela nunca tivera o direito. – Ele é seu filho.

desabando meu mundoOnde histórias criam vida. Descubra agora