III

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Estacionada na escura e isolada garagem do prédio, era como se suas pernas estivessem grudadas no banco. Seu cérebro demandava que ela se levantasse e corresse para o quarto dele, enquanto seu corpo se mantinha estático no lugar.

Respirou fundo e finalmente recobrou seu controle corporal, agora andando rapidamente e fazendo seus saltos Miu Miu estalar sob o concreto plano. Cinco minutos de caminhada adentro, e ela se arrependeu amargamente de pedir para que o motorista estacionasse o carro na parte deserta do lugar, pois aparentemente todo o hospital era deserto. A única coisa que ela conseguia enxergar em todo o trajeto eram paredes fastidiosamente brancas e janelas de vidro meticulosamente cristalinas.

Mais cinco minutos e ela finalmente encontrou um elevador que não fazia ideia de onde a levaria, mas decidiu apostar em suas chances. Suspirou de alívio quando avistou o pequeno botão luminoso ao lado da porta com uma plaquinha indicando que ele a transportaria para a recepção.

Um minuto que pareceu dez.

Assim que ouviu o sino quase atropelou as enormes portas de metal, e correu para o balcão onde uma garota que aparentava ter não mais que vinte e dois anos preenchia papéis calmamente.

A sala de espera abrigava cerca de vinte pessoas, a grande maioria aparentava não ser um paciente em espera, um silêncio desconfortável assolava o lugar, era como se ninguém estivesse ali.

– Olá! Bom... – observou o relógio analógico na parede logo acima, indicando que eram duas e meia da tarde – Boa tarde. Estou aqui para uma visita.

– Nome e número do quarto? – perguntou sem levantar o olhar para encará-la.

– Mayer. O quarto não sei ao certo te informar.

– Senhora nós não podemos passar informações sobre pacientes.

– Eu não tenho como saber o quarto do paciente, já que ele muito provavelmente está desacordado...

– Infelizmente são as regras. – deu de ombros, ainda sem encará-la.

– Primeiramente você poderia olhar pra mim enquanto falo com você? – encarou a pequena etiqueta sob o uniforme dela com os dizeres "Beverly". – Beverly?

A garota bufou e finalmente decidiu a encarar, seus olhos quase pularam de seu rosto no segundo em que ela percebeu de quem se tratava.

– D...D...D... Desculpe senhora, qual o nome novamente?

– Mayer. – ergueu o cenho, a encarando esbarrar nos objetos sobre a mesa enquanto se arrastava para frente do computador.

– Quarto setecentos e trinta. Sétimo andar. – falou vislumbrando fixamente a tela sem olhá-la, Beverly parecia estar prestes a ter uma síncope.

– Obrigada Beverly. Tenha uma boa tarde. – disse, e lançou um beijo no ar debochadamente antes de voltar para o elevador.

Prestes a pressionar seu botão de destino reparou em um pequeno mapa ao lado dele, o pequeno nome indicando o andar da loja imediatamente a atraiu.

Pressionou o botão para o quarto andar, e escorou-se sob a parede gelada, estava exausta e cada vez mais nervosa.

Não precisou procurar muito para avistar uma sala de vidro, decorada com uma placa de neon vermelha em letras garrafais com os dizeres PRESENTES.

Adentrou a saleta, e o cheiro de dezenas de flores misturadas atingiu seu nariz quase que imediatamente.

Caminhou pelos cinco corredores do recinto analisando todas as opções calmamente. Flores, ursos, cartões, chocolates, bibelôs... O que seria adequado? E o que não seria?

– Olá posso te ajudar? – uma voz fina quebrou sua linha de pensamentos e a fez dar um pulo de surpresa.

– Hm, talvez.

– O que você procura e para quem procura? – questionou amigavelmente.

Por alguns segundos ficara tentada a responder que um presente para sua avó, mas resolveu que um pouco de sinceridade para um completo estranho não a mataria.

– Bem algo que diga: Olá, ainda estou apaixonada por você. Será que você tem algo assim?

– Específico. – o rapaz disse repousando o indicador no próprio queixo – O que acha de flores? São bem românticas.

– Talvez... O que você me sugere?

–  Isto depende do seu orçamento... Nós temos desde rosas por três dólares, até um bonsai por duzentos e setenta dólares. – falou apontando para um pequeno vaso em um canto isolado da prateleira.

– É isto.

– Rosas?

– O bonsai. E aquele balão. – apontou para um balão de gás hélio com os dizeres "Fique bem logo princesa".  

I M M I N E N C EWhere stories live. Discover now