Capítulo 1

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       O pôr do sol despertava seu olhar e assim pôde perceber, que mesmo em tempos difíceis tinha sonhos pendentes e urgentes para serem realizados todos os dias.

        Talvez, viver com poesia doesse menos. Uma moça de 30 anos, linda de ver o sol nascer! Suas noites eram tão saudosas que até os sonhos dela sentiam saudade. Olhos de jabuticaba, jeito doce, ar angelical de menina, cabelos escuros de anjo. Seu nome? Lisbela, adorava se apaixonar pelos detalhes. O versejar entrelaçava entre os dedos. Seus versos pareciam lãs para os ouvidos, teciam calmo sobre cada palavra. Para ela, bastava caber amor na caminhada. Dizia sempre antes de cair à noite. "Quando é amor de todo jeito é bom...somos capazes de atravessar grandes regiões, um oceano inteiro. Temos a necessidade de enxergar com mais carinho o lado de dentro das pessoas."

        Infância traumática. Aos 10 anos sofreu um grave acidente quando viajava com os pais Dona Glória, as chamavam de Glorinha por ser anã e Seu Duque, de Conde, por ser um homem rude e sistemático. O pai tentou desviar-se de um animal na estrada; o carro perdeu o controle e veio a capotar. Pai e mãe morreram na ora, Lis, seu apelido, sofreu várias escoriações pelo corpo. A perna direita teve uma pequena fratura. O trauma foi devastador. Lis, durante um bom tempo não conseguia mencionar o nome dos pais. 

        Andar de muleta a irritava muito. Às vezes sentia-se mal e um peso no corpo.

        Morou com a sua avó Dona Erminê ou Nina de 70 anos, era assim que a chamavam; por ser uma senhora muito simpática e carinhosa com todos. A neta e Dona Nina passaram a morar juntas. Mesmo criança teve que se adaptar à vida adulta antes do tempo.

       A saudade dos pais ficavam marcadas na mente por onde quer que fosse. Com o tempo a poesia passou a fazer parte também de sua vida. Tudo começou aos 15 anos.

        Aliviava parte das dores internas. Cada verso a manteve viva, desgarrada do sofrimento. Tinha que ser feliz logo.

        Lis morava em Santa Efigênia, pequena cidade onde o frio era constante na região. Todos ali eram conhecidos pelo apelido. Seu Augusto da mercearia Jurema, era chamado de Gotinha, por ser de estatura muito baixa. Dona Milena, da loja de sapatos Julita, de Mimi, ficava de fofoca com a vizinhança. Quem entrava na cidade já era apelidado.

        Deu-se início ao um lindo anoitecer. A lua cheia tomava seu posto de amante no céu. A moça dormia pouco. Aflorava as ideias diante daquele monumento estrelado poético.

        Num caderno velho desbotado, redigia o primeiro poema:

Lisbela - Um único segredoOnde histórias criam vida. Descubra agora