peach

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                                   dia um.

Sons e risadas eram possíveis de ser escutadas no recinto, ainda que estivessem constantemente abafadas pelo calor que as cercava tendo o incrível contraste com o frio vazio do ambiente, formando algumas lufadas de ar quente, por causa do grave inverno.

Aos poucos as imagens começavam a ser produzidas pelo cérebro de Jimin, as paredes em tons pastéis com detalhes rústicos que davam uma personalidade pessoal dele eram fofos. Os fracos feixes de luz adentrando nas paredes de vidro da loja esquentando mais os clientes -se é que era possível- que se sentavam próximo. Ele sorriu.

Aquele era apenas mais um dia normal em si, os caminhoneiros acordaram cedo e partiram em suas viagens cansativas, os donos das tabernas começaram a estacionar seus veículos e a por as placas de "aberto" nas portas. Com Jimin não fora diferente, ele acordava junto com a cidade, e fazia a mesma caminhada entediante de sempre, descia a serra com sua bicicleta rosa retrô, que havia ganhado num sorteio de sabonete*, e estacionava próximo a sua própria cafeteria.

"Ah... como era bom poder ter algo inteiramente seu"-pensou-. Todo esforço, noites em claro e bicos para ter uma grana extra foram muito proveitosos.

Não contem a Jimin que lhes informei de tal fato, mas seria um pecado não mencionar que o documento escondido na gaveta da cozinha de sua mãe havia colaborado uns bocados. Sua avó, que falecera no começo do ano passado havia deixado uma carta e era destinada ao mesmo, ela havia depositado uma quantia considerável de dinheiro para seu neto. Ele apenas não entendia a razão de ter sido uma conta bancária no exterior e o fato de não tê-lo avisado na época. Tinha muita sorte de ter visto uma barata entrar naquela gaveta e ter achado a carta. Estava em dívida com o bichinho.

Jimin odiava baratas mas aquela em especial era do bem.

Ele amava sua avó, sempre fora uma amiga. E mesmo com a onda de tristeza que o cobria, seu coração pulsava intensamente em saber que ela estava fazendo o que fazia de melhor, pintando suas melhores artes no paraíso.

Afirmo tal crença pois toda tarde quando Jimin fechava a loja e fazia o mesmo percurso para casa, o céu sorria para ele, e sua avó, quando viva, sempre pintava paisagens do céu, em tons amarelados e rosados.

O movimento do local estava calmo, mesmo com a quantidade razoável de pessoas, sempre eram as mesmas pessoas.

Só que sempre entravam diferentes.

Ele achava que era a mudança de humor de cada uma. Seus rostos eram sérios e frios do lado de fora e quando entravam era um semblante calmo e sorridente.

As pessoas refletem por fora o que sentem por dentro.

Sua mente trabalhou arduamente enquanto andava apressado para a cozinha e entregar os bilhetes com os pedidos para um de seus melhores amigos, Seokjin, que cozinhava em sua cafeteria.

Quando pôde finalmente se sentar, tocou na xícara de seu chá favorito e tomou um bom gole, sentindo um arrepio pelo choque de térmico. Mas o arrepio permaneceu e o mesmo sentiu a aura do local se tornar mais densa, podia ser a porta que cada vez que era aberta permitia a brisa entrar, porém ninguém mais havia entrado se não o sininho teria soado. O que estava presenciando tendia a ser um sexto sentido.

Era como se um balão invisível e enorme tivesse sido enchido e preenchido o espaço. A sensação deixava difícil de respirar.

Seus dedos frívolos adotaram uma tonalidade arroxeada nas unhas, todavia seu corpo se sentia morno. Algo estaria fazendo isso com ele, mas que sensação... Jimin ergueu a face com as bochechas -agora enrubescida- pela primeira vez a quantidade de agasalhos que usava, naquela manhã deram o ar de inutilidade.

Quando suas mãos afastaram os cabelos loiros para que sua nuca esfriasse seus olhos se focaram num ponto específico.

Sim, era alguém.

Alguém conhecido por sinal. Mas que nunca havia entrado ali.

Ele sabia.

Ele era muito organizado no quesito clientes, e tinha sua própria agenda com as informações básicas dos clientes, que não eram muitos, mas eram presentes todos os dias.

Seus olhos ainda encaravam esse alguém, e eles estavam malcriados, se negavam em manter a atenção em outro lugar se não nele.

A pessoa sendo observada estava de pé e encarava a parede de vidro atenta ao anúncio de "Semana do Chá". As pessoas daquela cidade não era amantes de chá, com toda certeza não eram.

Mesmo sendo uma cidade pequena é rústica, a mudança de pessoas vindas da cidade grande havia instalado um estresse local, e as pessoas não queriam beber algo que as deixasse 'zen' e sim algo mais forte que deixassem acordadas para poder produzir mais nas indústrias. A "Semana do Café" surgiu por essa causa.

O inverno muitas vezes era violento, chegava sem avisar e se tornava insurportável, e ele percebera que os jovens haviam se adaptado aos chás.

Todas as sextas à noite e aos sábados os estudantes marcavam e se reuniam lá.

E tomavam os chás.

Já que cafeína não era aconselhável para jovens que precisavam render bem os estudos.

Um sorriso tímido brotou em sua face ele retirou a mão do bolso do casaco grosso e com o dedinho fino encostou nas linhas e seguia as palavras como se aquele ato fosse melhorar sua leitura. O ato parecia inútil.

Claramente não daria atenção para esse lado da mente.

Pois a cena era amável, aquecera seu coração, como a xícara do seu chá favorito.

O garoto deu um meio sorriso quando o dedo pausou no nome específico de uma bebida.

"Então você gosta de chá de pêssego..."

Deu um pulinho quando o até então "desconhecido" abriu a porta com muita força, mais do que devia, chamando a atenção das poucas pessoas ali.

Ambos coraram. Por motivos totalmente diferentes, mas nas intensidades iguais.

O casaco grosso deslizara suave pelos braços pálidos do mesmo e ele teve de conter o 'rolar dos olhos' quando a cabeça dele afastou o cabelo "estilo Justin Bieber".

Qual a razão dos rapazes terem esse cacoete?

Nada contra mas pensa... vai que numa dessas alguém quebra o pescoço ou leva uma cabeçada inesperada. Essa pessoa vai ter que andar toda torta.

Jimin murmurava sem se importar com a altura da voz.

Logo se calou quando o mesmo a encarava, espantado pelo flagra.

Park Jimin
Tome vergonha nessa sua cara
Se Nárnia existir mesmo
Que essa xícara de chá te leve pra lá
Mas nada
Nárnia não atende pedidos assim...

peach | myg + pjmOnde histórias criam vida. Descubra agora