3. A exposição de pop art
A galeria estava repleta de cores e jovens ingleses, tudo combinando perfeitamente com o mundo otimista da década de 1950.
A Segunda Guerra havia chegado ao fim e um turbilhão de novidades permitia o acesso à cultura: eram revistas coloridas, televisão na maioria das casas, propagandas de alta qualidade, produtos com embalagens belíssimas, o cinema estourando e o mundo da moda lançando o que tinha de melhor. Foi nesse contexto que nasceu a pop art, uma expressão popular, jovem e produzida em massa.
Não era uma arte vazia, como pensava o senhor White. Na verdade, ela tinha muita ideologia em seus traços – uma crítica à sociedade que se lambuzava no consumismo. Algum tempo mais tarde, Andy Warhol pintou Marilyn Monroe, logo depois que ela morreu. E, se você não sabe, a obra era um contraste entre várias imagens coloridas, simbolizando o auge da atriz, e outras em preto e branco, lembrando o quanto somos passageiros nesta terra. O ícone americano era a prova de como a sociedade midiática pode esvaziar as pessoas, como objetos prontos para o consumo em massa.
Enquanto Lucy se deslumbrava com a exposição naquela tarde, um rapaz entrou no salão pedindo a atenção de todos para que vissem sua tela. Era uma magnífica colagem com vários artigos de consumo. Obviamente, ele foi expulso porque fazia barulho e a obra não estava catalogada.
Todos riram do vexame, mas logo voltaram a se distrair com os artistas renomados. A moça, por outro lado, foi domada pela infeliz empatia herdada pela mãe. Em passos rápidos, acompanhou o desconhecido até vê-lo sendo enxotado pelos seguranças.
— E não volte mais aqui! - gritou um deles.
— Vocês ainda vão ouvir falar de mim! - respondeu, enquanto se levantava do chão e limpava o quadro.
— Com licença... o senhor está bem? - perguntou a jovem, cheia de pudores.
— Pareço bem, madame?
— Bem...eu...queria dizer que apreciei muito a sua colegam!
— Ah! É mesmo? - ele sorriu animado - Obrigado! Meu nome é Thomas Scott, prazer!
— Lucy! Lucy White! O prazer é meu, senhor Scott!
— White? White...Conheço alguém...
Lucy não estava à vontade. Thomas cheirava à álcool e parecia um pouco confuso.
— Hã...o senhor gostaria de vender o quadro? - foi logo ao ponto.
— Vender? Só se a senhorita me provar que merece levá-lo!
— Provar? Eu tenho dinheiro, senhor Scott! Acho que isso basta para uma venda.
— Ah, o capitalismo! - gritou - Eu sou um artista, senhorita White! Sem reconhecimento, é verdade, mas um artista! Eu não estou negociando chuteiras! É poesia em tela! É denúncia em cores! - reduziu a voz e completou – Nenhum dinheiro do mundo pode pagar por este quadro, mas se me disser porque o deseja, então o darei como um presente sincero.
Lucy sorriu aliviada, ele não era louco, afinal de contas, era um poeta - nem sempre é fácil distinguir. Sem perceber, em vinte minutos os dois estavam sentados numa cafeteria do outro lado do quarteirão, rindo como velhos amigos e comparando as pinturas britânicas com as obras americanas. Por fim, marcaram um encontro para a semana seguinte, no mesmo lugar e horário. Thomas prometeu ensiná-la algumas técnicas com tinta acrílica e látex.
— A senhorita promete que virá? - ele perguntou com certa ansiedade.
— Senhor Scott, eu dei a minha palavra. Isso é o bastante, acredite.
Lucy voltou para casa com a sensação de que levava um pouco de Thomas consigo. A empatia que herdou da mãe havia se transformado em apreço. Ela não via a hora de reencontrá-lo. Você sabe como são as moças, podem dormir como anjos quando estão imensamente felizes depois de tanta cortesia.
No entanto, aquela noite não terminou bem. O senhor White estava no escritório com uma bolsa de gelo no olho roxo. Ele havia brigado com um membro do clube de torcedores do Chelsea pela manhã.
— Ah, meu Deus! Quem o feriu, papai?
— Você não o conhece...
— Que absurdo! Que deselegante!
— E tudo por causa de futebol, Lucy! Papai desmereceu um dos jogadores e o homem resolveu fazer o que fez - lembrou Sophia, ainda revoltada com desfecho da história.
— Mas ele tem que pagar por isso! O senhor não chamou a polícia?
— Deixei passar, Lucy. O infeliz se chama Thomas Scott, é um bêbado desordenado, sobrinho de um grande amigo meu... deixei passar...
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As aventuras de Victor Scott (degustação)
Ficção GeralDurante a década de 50, um garoto inglês sobrevive num bairro pobre de Londres. A fome e a violência doméstica o levam para longe de casa. Por onde passa, Victor Scott deixa uma mensagem que muda a vida de todo mundo para sempre. A história é narra...