ASAS E BRASAS

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Não era que ele estivesse procurando briga, Cassian disse a si mesmo quando ele circulou por cima da propriedade pela quinta vez, apesar do frio tão brutal da intempestiva madrugada que poderia roubar a respiração até mesmo de um guerreiro Illyriano em uma batalha sangrenta. Rhys lhe pediu para entregar sua última carta às rainhas humanas, já que Az estava ocupado
tentando se infiltrar em qualquer defesa desagradável que eles mantinham ao redor do palácio, e Mor não queria pisar em reino mortal a menos que fosse necessário. Amren, naturalmente, estava fora de questão simplesmente porque ela era Amren e seria como enviar um gato das planícies em pele de cordeiro.
Então só restou ele.
Bom, Feyre também, mas ela e Rhys estavam... ocupados.
E, talvez ele tenha concordado em vir um pouco rápido demais, mas... Cassian examinou a propriedade, os terrenos lamacentos, descongelados, a aldeia distante e a floresta que se aproximava. Ele tinha saído de seu primeiro encontro aqui não inteiramente certo de onde eles tinham parado, ou quem era superior. E, maldita mãe, nas últimas semanas ele se encontrou remoendo cada palavra e olhar que ele trocou com ela, uma e outra vez.
Nada disso fora agradável, cada sílaba de sua boca era como farpas viciosas e... Cassian bufou entre os dentes rasgando e afastando o vento. Ele não poderia dizer o que era pior, ter pensado tanto sobre isso, ou ele ter corrido tão rápido para lá. E agora estava... vagando.
O pensamento o enviou para um mergulho rápido e quase imprudente para a propriedade de telhado verde, o manto de sua magia tornando-o pouco mais que um vento caído e um boom oco de asas. Os cavalos dos estábulos vizinhos agitaram-se com a sua aproximação, mas seus cavalariços examinaram os arredores, não encontrando nada de estranho, retomaram o seu trabalho.
Cassian tentou não pensar em como era fácil, como essa falta de consciência, essa falta de instinto, provavelmente lhes custaria à vida se o muro fosse derrubado. Se alguém como ele transformasse esta propriedade em um terreno de caça pessoal.
Ele tinha visto isso acontecer na última guerra, não que muitos humanos tivessem sido ricos o suficiente para possuir propriedades. Mas ele tinha testemunhado o que tinha sido deixado de campos escravos inteiros quando um dos feéricos decidiu se divertir. A ideia foi suficiente para ele apertar os dentes e aperfeiçoar seu foco na porta diante dele.
Eles haviam mandado uma mensagem ontem sobre quando precisamente esperá-lo. Assim quando ele bateu na porta da frente, foi uma questão de um batimento cardíaco antes dela ser aberta.
O movimento agudo lhe disse qual irmã o estava esperando.
Contudo, com sua magia escondendo-o, Nesta Archeron e seu rosto
incrivelmente perfeito viram nada além de manchas de neve no gramado
lamacento e o declive que cortava através dele, os paralelepípedos reluzindo com correntes de gelo derretido. Ela casualmente abriu a porta para que ele passasse, e falou para a governanta insuportavelmente intrometida que ninguém estava na porta e que o som tinha sido apenas do vento.
Certo. Porque esvaziar a casa tão frequentemente levantava mais suspeitas do que era seguro. Especialmente com a outra irmã noiva de um caçador de feéricos.
A governanta entrou no imaculado vestíbulo para confirmar por si mesma que não havia ninguém ali, mas Nesta apenas lhe informou que ia subir e não queria ser incomodada pela próxima hora.
A mulher abriu a boca para questionar, mas Nesta, com uma vulgaridade bastante impressionante, repetiu sua ordem e começou a subir pela grande escadaria acarpetada.
Os olhos da governanta diminuíram como fendas quando a jovem se afastou e Cassian manteve seus passos quietos como a morte quando ele passou em torno da mulher envelhecida, então subiu as escadas também.
Ele estava tão concentrando mantendo silêncio, mantendo suas asas apertadas para que elas não se mexessem, que ele mal percebeu o vestido pesado, roxo pálido, mais simples do que os outros que ele tinha visto Nestha usando, apertado o suficiente no corpete para mostrar sua cintura fina, as mangas exibindo seus braços esbeltos. Uma versão mais magra de Feyre e Elain tirando os seios generosos que ele vislumbrava quando Nestha alcançou o topo das escadas e virou à esquerda.
Não que ele os olhasse. Muito.
Para qualquer um que olhasse, Nestha estava meramente caminhando para seu quarto, talvez um pouco rabugenta e atordoada. Mas assim que entrou no quarto espaçoso, enfeitado com veludos e sedas de vários tons de azul e prata, fechando a porta de carvalho um momento depois, a pesada e lenta postura desapareceu junto com o barulho da porta.
Um piscar de olhos foi seu único aviso de desconforto ou surpresa e ele pode ou não ter deixado suas asas se espalharem um pouco mais quando ela olhou para ele.
"Você está dez minutos atrasado," ela disse, movendo-se para a parte mais distante da sala, onde o fogo crepitou contra o frio da primavera. Onde o som Edas chamas poderia encobrir suas vozes. Menina esperta.
"Eu tenho outros afazeres, você sabe," ele disse com a mesma calma, brindando-a com um sorriso.
Como sobrevoar a casa porque ele estava juntando uma lista de insultos para lançar contra ela, respostas a um diálogo inventado. Como um idiota completo.
"Aqui estava eu", disse Nesta, um pilar de gelo e aço ao lado da lareira,
"pensando ter ouvido você sobrevoando por minutos. Deve ter sido um pombo preso em uma das chaminés."
Cassian apenas olhou para ela. E ela olhou para ele.
Seu temperamento subiu em uma velocidade vertiginosa com as palavras, a perfeição absurda dela. Uma lâmina sendo forjada, é o que ela era.
Ele sorriu lento e vicioso, precisamente da maneira que ele tinha aprendido a fazê-la ver vermelho. Um sorriso que ele instantaneamente soube, desembainhou aquelas garras adoráveis dela.
"Olá, Nestha. É bom te ver".
Nenhuma reação, nenhum deslocamento em seu cheiro, o sorriso que normalmente fazia seus inimigos começarem a correr. Nada, exceto pelo delicado brilho de suas narinas. "Como está minha irmã?"
Se curando, ele quase disse. Tentando superar o fato de que ela está se
apaixonando por Rhys, e ignorando o fato de que ele está apaixonado por ela há muito tempo. Todos os sinais apontam que eles são parceiros, mas eu não sou estúpido o suficiente para dizer a nenhum deles.
Então simplesmente disse, "Ocupada".
Um lampejo em sua garganta. "Tão ocupada que não pode se dignar a visitar, ao que parece."
"Feyre tem muito com que lidar com a situação com Hybern, entre outras
coisas".
Enquanto inclinava a cabeçam, o fogo tirou o brilho dourado do cabelo de
Nesta. Um predador avaliando um oponente digno. - "E qual é o seu papel em tudo isso?"
Cassian afastou os pés do chão. "Eu comando os exércitos de Rhys."
Seus olhos azuis cintilaram sobre ele em uma varredura que poderia ter
cortado as bolas de um macho menor. "Todos eles?"
"Os mais importantes".
Com um bufar ela olhou para o fogo. Com uma rejeição e desprezo que ele já conhecia.
Cassian ficou rígido. "E o que exatamente você faz de importante?"
Sua cabeça levantou-se. Oh, isso a tinha atingido.
"Por que eu deveria me incomodar em me defender", disse Nesta com um tom frio letal, "para um homem que está tão inflado em seu próprio senso de importância que não há espaço suficiente na sala para sua enorme cabeça?"
Foi sua vez de piscar.
Então ele estava perseguindo-a, com passos longos diminuindo o espaço entre eles no tapete ornamentado. Ela não recuou, não deu um passo para trás. Só ergueu o queixo para olhar em seus olhos enquanto ele se erguia sobre ela, esticando as asas ligeiramente, e disse entre os dentes, "você tem notícias das rainhas?"
Suas sobrancelhas se estreitaram. "Líder dos exércitos do Grão Senhor, e
ainda permanece bruto. Você não pode me alcançar com palavras, então você tenta me intimidar através do seu tamanho."
"Brutamontes"
"Você precisa de mim muito mais do que eu preciso de você. Então eu sugiro que você simplesmente concorde, dobre essas asas de morcego e pergunte direito."
Ele não fez tal coisa.
Mas ele deu um passo mais perto, apoiando uma mão na lareira, e se inclinou o suficiente para respirar o perfume dela.
Levou cinco séculos de treinamento para focar em seus olhos ao invés de
deixar suas mãos rolarem para trás de sua cabeça, para se manter lá ao invés
de enterrar seu rosto no vale entre seu pescoço e seu ombro, para evitar se aproximar, de... tocar.
Nenhum rubor tomou suas bochechas enquanto ele ajustava a distância entre eles, uma distancia dificilmente maior do que uma mão entre seus rostos.
Ela era jovem, vinte e dois, vinte e três no máximo. Mas ela tinha um homem?
Ele não deveria ter se importado, ou estar se perguntado, isso não fazia
diferença para ele, mas... normalmente ele podia dizer. Ela... Cassian não conseguia lê-la. Então ele moveu sua cabeça mais perto, seu cabelo escuro deslizando sobre sua testa, e ronronou, "Há outras maneiras que eu poderia jogar com você, Nestha Archeron".

Capítulo Extra de Corte de Névoa e Fúria Onde histórias criam vida. Descubra agora