Capítulo 1

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Todos os dias eu acordo com uma única certeza de que tenho que aproveitar ao máximo meus dias felizes com minha mãe. Ela tenta se manter firme, inabalada, forte, mas eu sei o quanto está fragilizada com a volta do câncer. Camile faz de tudo para me mostrar seu lado forte, fico triste por ela não confiar em mim ao ponto de conversarmos sobre isso.

Acho que mamãe pensa que eu não suportaria. Tenho dezesseis anos posso conversar tudo com ela e queria que ela fizesse o mesmo comigo agora.

Ontem acabei escutando uma conversa dela com a minha avó. Ela chorava tanto que chegou a soluçar, eu senti sua dor em cada palavra dita "eu não quero a deixar sozinha". Minha mãe acha que vai morrer, faz nem dois meses que ela descobriu da volta do câncer e sinto que ela desistiu de lutar, está entregando os pontos.

Ela não pode fazer isso comigo, de novo não.

Eu tinha cinco anos quando ela teve a primeira vez. Não lembro de tudo, mas lembro-me da sua despedida ajoelhada ao meu lado da minha cama, acariciando meus cabelos e pedindo desculpas por não poder ficar. Meu coração dói só em pensar que ela vai repetir tudo de novo.

Eu não vou suportar carregar essa barra sozinha, preciso que ela lute também.

Mamãe me sorrir, saboreia a panqueca que a mesma fez.

— O que foi, meu anjo? — perguntou-me ela

Estou pensativa demais e mãe percebe que esse não é o meu normal, pela manhã sempre estou falante.

— Nada, senhora mamãe. — Depois que nós duas assistimos o episódio em que o Darwin chamava a mãe dele assim, eu comecei a usar com ela que sempre acha graça nisso

Mamãe me sorri e sem consegui segurar dá uma risada. Gosto muito do som da risada dela. Queria nunca ter que vê-la triste, pena que isso não depende de mim.

— Ainda estou achando você muito estranha, senhora filhinha. — eu suspirei.

— É a escola. Cabeça cheia, sabe? — minto.

Camile me olha semicerrado. Ela não acredita em mim. Para a minha sorte ela deixa para lá e terminamos nosso café da manhã em silêncio. Me sinto mal por isso. Fiquei emotiva e ela percebeu e quer me dar espaço.


Antes eu gostava de vim à escola, não pelo motivo de estudo, os amigos e a atenção que recebo era confortante. Pessoas se importavam comigo ao ponto de fazerem coisas idiotas para chamar minha atenção. Confesso que fui uma sacana com alguns, mas precisava ficar bem na fita dos outros populares. Mesmo eu sendo uma popular tinha um padrão a seguir, antes era legal, agora me sinto presa nele, tão presa que não consigo mais me libertar da personagem.

Beatrice Cooper é uma fraude.

Eu sou uma fraude.

A minha psicóloga me disse que eu tinha que me abrir para alguém e assim me libertar da farsa. O que ela não sabe é que eu gosto do poder que eles me dão, pois, é isso que torna alguém popular ou não, os outros. E eu sou babaca o suficiente para interpretar bem o meu papel.

Agora me visto de grosseria para espantar curiosos e tentar ficar sozinha. Mas não adianta, meus amigos não me deixam em paz, querem sugar cada energia que eu tiver. Para mim a gota d'água foi a casa mal-assombrada, ainda não entendo o que aconteceu aquele dia, mas sei que quase morremos por uma brincadeirinha estúpida dos meninos. Passei dias sem consegui dormir direito, tinha pesadelos todas as noites, acordava tremendo.

Antes eu suportava os garotos, agora quero feri-los do mesmo jeito que me feriram.

Eles zombaram dos meus relatos e das meninas da mesma maneira como eles zombam dos nerds que eles pegam no pé. Odeio o bullying que eles fazem com alguns alunos.

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⏰ Última atualização: Apr 29, 2022 ⏰

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