Capítulo 1

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                    20 de novembro de 2089

As poucas pessoas que encontravam-se nas ruas eram guardas comandados pela ordem. Todos aquela hora deviam estar em suas casas. Como prisioneiros.

Não era permitido a saída de quaisquer pessoas sem a autorização de um guarda.

Éramos como reféns dentro de nosso próprio mundo.

Odiava sentir minha liberdade ser diminuída a um cubículo onde eu residia, talvez eu fosse uma adolescente normal que odiava ser aprisionada. Mas esse não era o caso.

Não, absolutamente não.

Eu não era apenas uma adolescente normal. O mundo agora era apenas o que restará dele, vivíamos sendo governados por um homem tirano, vivíamos sabendo que devíamos trabalhar para eles para que recebêssemos um pouco do soro ou morreríamos. Mas já vivíamos sabendo que nosso fim estava próximo.

Então eu não era apenas uma adolescente querendo sua liberdade. Eu era alguém que ansiava ardentemente por ela. Porque eu sabia que um dia já não a mais teria.

Então como toda adolescente. Eu fugia.

Eu sabia como me esgueirar dos olhos astutos e rápidos dos guardas, sabia como manipula-los, sabia o que deveria ou não falar. Isso me dava a oportunidade de descobrir o que eles tentavam esconder de nós. Ou quase descobrir.

"Os Esquecidos", era como eles nos chamavam.

O mundo estava uma bagunça e eu fazia parte, nada era como antes. E eu nem conhecia o antes, tudo que sabia era devido aos livros. Mas como a maioria das coisas, eles também eram proibidos.

Como toda educação é uma ameaça à qualquer governo, eles ditavam o que devíamos ou não aprender.

Definitivamente, eles não queriam que soubéssemos tanto quanto eles, queriam que fossemos dependentes deles. Estávamos à mercê de suas ordens.

Morávamos apenas eu e Keeran em um apartamento simples que estava abandonado, era daqueles que não havia elevadores, mas sim escadas. Keeran tentava cuidar de mim. Quando conseguia. Ele era um guarda da ordem, tinha seus privilégios mas se abdicava deles para que não descobrissem o que ele escondia em sua casa.

"Bom, agora não mais os abdicava"

Certo dia em uma dessas minhas fugas um guarda conseguiu me prender, e Keeran teve que intervir por mim. Sendo assim agora sabem que eu existo, mas como irmã de Keeran. Sim, ele teve que manchar a imagem de sua mãe ao contar a pequena mentira de que eu havia sido um fruto de um rápido relacionamento de sua mãe com um esquecido. Mary foi como uma mãe, e Keeran certamente é como um irmão, mas não deixarei que ele se sacrifique mais por mim.

Mas eu não iria ficar escondida por muito tempo, quando o dia da "escolha" chegar, terei que ir. Keeran não poderá me salvar desta vez se eles me escolherem.

A noite escura da rua juntamente aos prédios e casas abandonadas davam a impressão de uma cidade fantasma, os homens que andavam com suas armas a procura de pessoas aquela hora mais pareciam caçadores, suas roupas pretas e a máscaras que cobriam seus rostos davam-lhe um ar sombrio. Como se não estivessem ali não para nós vigiar e sim matar.

Sentada no parapeito da janela de meu quarto, que encontrava-se parcialmente escuro, percorro meu olhar por todo o perímetro. Apenas a luz da lua que invadia meu quarto não deixava-o na completa escuridão.

"Talvez eu fosse nictófila". Sim, a escuridão me trazia algum conforto e eu sabia disso"

Sempre conseguia encontrar paz em lugares assim. Escuros e solitários. Conseguia pensar melhor.

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