Capitulo 2

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A luz do sol invadiu a janela do quarto refletindo em meu rosto. Não havia dormido bem, minha cabeça pesava em meu corpo e sentia meus músculos reclamarem a cada movimento. Sem citar que minha mente voltava constantemente para o momento que tive com Keeran.

Droga, odeio sentir isso, odeio me sentir culpada.

Meus pés tocam o chão frio enquanto olho em volta, minhas roupas estavam em cima de uma escrivaninha velha juntamente ao meu canivete.

Tudo que tinha havia encontrado pelos lugares que conheci durante o tempo que estive fora de casa. Keeran me presenteava com algumas coisas do lado de lá, mas ainda sim, gostava de sair a procura de coisas que eu escolheria para mim se fosse em outra situação.

Pego minha faca e olho meu reflexo na lâmina. Meu cabelo extremamente grande e preto estava bagunçado, minhas bochechas estavam levemente coradas enquanto meus olhos com olheiras não tão profundas mas ainda sim evidentes, denunciavam a noite mal dormida. Eu parecia algo fácil de ser quebrado. Pensei.

Sei que não tenho a força para lutar contra um guarda. Mas com certeza sou mais inteligente e rápida para escapar de um.

Visto-me apressada e guardo minha arma em um lugar estratégico em minha roupa, escuto um barulho vindo da cozinha e sei que ele já estava lá me esperando.

O lugar que morávamos não era muito grande nos dando a oportunidade de escutar o menor dos barulhos. A sala tinha apenas o mínimo. Havia um sofá branco, uma pequena televisão e uma mesa no centro que ficavam fotos de nossa família. Eu, Mary e Keeran. A sala de jantar era pequena e iluminada, com uma janela quadrada que dava um ar mais arejado, tinha apenas uma mesa e quatro cadeiras que ficavam próximas a um balcão que a separava da cozinha, que igualmente era simples mas confortável, os quartos eram pequenos e havia apenas um banheiro que dividíamos. E isso formava o que chamávamos de lar.

Keeran estava sentado de costas para mim, ele estava diferente. Distraído, talvez. Seus braços estavam apoiados nos joelhos e sua arma em cima da mesa, ele olhava algo pela pequena janela quadrada da cozinha. Fico observando-o em silêncio por algum tempo encostada na fresta da porta. Seu cabelo bagunçado e os músculos rígidos lhe denunciavam. Ele também não havia dormido bem.

— Oi!

Ele vira me encarando dos pés à cabeça, seu olhar denunciava preocupação o que logo disfarçou sorrindo.

— Oi, quer café? – faço que sim e ele levanta para me servir. Sento-me observando seus movimentos suaves, ele então vira a cadeira ficando de frente para mim.

— Você está bem? – pergunto sem lhe direcionar o olhar contemplando os desenhos que a fumaça do café fazia. Ou que talvez eu imaginava que faziam.

Minha voz havia saído baixa e por algum motivo eu me sentia nervosa.

"Talvez você não se sinta confortável para falar sobre ontem e espera que ele não fale sobre isso"

— Você sabe que não. Sabe que daqui a alguns dias virão buscá-la.

— Como pode ter certeza de que me levarão? – mordo um pedaço da torrada calmamente, agora olhando em seus olhos.

— Eu sei como as coisas funcionam Hope, e você está mais do que saudável para eles. – ele suspira passando a mão em seus cabelos bagunçando-os, era um claro gesto de nervosismo.

Encaro meu reflexo pelo líquido escuro e flamejante a minha frente. Sim, eu também sabia que iriam me levar e provavelmente o que fariam comigo mas isso não parecia tão importante naquele momento. Não tinha medo mas sim raiva por saber que era uma causa perdida, que Dealer só fazia isso para nos manter sob seu controle.

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