Capítulo sem título 8

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Minha mãe sabia que havia alguma coisa estranha quando resolvia atar em perguntar se a Duda e eu estávamos estudando mesmo na casa da Ju, embora nada disso fosse verdade e eu partisse direto para a casa do Arthur e a Duda para a casa do Mateus, combinando sempre um horário num ponto de ônibus na Rua Jardim Botânico para podermos entrar em casa do jeito que saímos. E foi assim durante os fins de semana que se seguiram.

Vi pela janela do meu quarto a caminhonete do Mateus parada na rua. Estranhei porque raramente ele fazia aquilo. Era tarde da noite quando vi a Duda descer desembestada do carro com muita raiva no rosto, sem se importar com o barulho que a porta fez ao fechá-la. Me escondi atrás das cortinas para não ser visto pelos dois. Mateus desceu da caminhonete e puxou o braço da Duda com força antes que ela atingisse o portão. Ela quis se desvencilhar do seu aperto, mas ele parecia alucinado demais, não querendo largá-la e puxando-a para si. Tentei fazer uma leitura labial de ambos. Sem sucesso. Os dois discutiam na frente de casa quando do nada o Mateus se impacientou e deu um tapa na cara da Duda sem que ela pudesse reagir. Meu corpo todo ficou arrepiado com tal cena quando tombei para trás e desci as escadas com tanta rapidez que sequer sentia o chão direito. Abri a porta da sala e caminhei até lá fora, quando a Duda me puxou, vindo de encontro a mim.

- Onde está esse covarde? – eu já não estava em juízo perfeito. A única coisa que eu queria fazer é dar uns socos na cara do covarde do Mateus.

Larguei os braços da Duda e corri até o portão. Fui em direção a rua quando a caminhonete já desaparecia na noite. O chão estava gelado quando notei que estava descalço.

- Por favor, irmão – Duda me abraçou, sussurrando tão baixo no meu pescoço. – Não grite para não acordá-los. O Mateus não fez por mal, eu o provoquei.

O abraço da Duda me fez sentir melhor, me fazendo esquecer por um momento as coisas ruins que imaginei fazer com o Mateus se o encontrasse na minha frente novamente. O vento frio fez a minha espinha doer e querer entrar rapidamente em casa.

- Por que ele foi tão agressivo com você? – simplesmente eu não sabia o que pensar ou perguntar sobre o que aconteceu com eles. Entrei em casa tremendo de frio, logo atrás da Duda.

- Vamos pro seu quarto? – Duda andou depressa na minha frente. Seu nervosismo era aparente demais.

Quando tranquei a porta do meu quarto, ela se virou para mim. Jogou sua bolsinha em cima da minha cama e se sentou, colocando as mãos no rosto. Jogou o cabelo para trás e me encarou.

- Nós estávamos na social de um amigo dele. Acho que você o conhece, é o Pietro do segundo ano – começou. Fiquei encostado na porta, ouvindo cada palavra com atenção. – Já imagina o porquê que eu briguei com ele, né?

- Faço ideia – balancei a cabeça ao dizer.

- A social estava regada a álcool e fumo – vociferou, levantando-se e andando de um lado para o outro. – Ele fumou tanto que acabou doidão demais. Eu mandei ele parar porque senão iria embora sozinha. Ele ficou com raiva e começamos a discutir. As horas foram passando e o clima esquentou quando eu o vi cheirando pó. O esculhambei na frente de todos e disse-lhe que eu queria ir embora... Brigamos até aqui, e antes de descer da caminhonete, eu lhe disse que poderia até suportar a sua maconha, agora pó, não! E se ele não estivesse satisfeito com a minha exigência, eu terminaria com ele.

- Foi nessa que ele enlouqueceu e te deu um tapa no rosto – completei. – Você acredita que ele voltará a cheirar novamente?

- Eu não sei, mas agora eu penso no quanto eu sempre relutei contra as suas investidas no ano passado sabendo do seu vício em maconha. Eu não queria ter que sofrer por causa de mais algum vício que pudesse surgir – ela parou e estendeu os braços, incrédula. Sem que eu pudesse dizer mais alguma coisa, ela continuou: – Mateus não é um garoto ruim. Foi a primeira vez que ele reagiu dessa maneira comigo.

(IM)PERFEITOOnde histórias criam vida. Descubra agora