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Jimin's POV
"Você não precisa disso. Só ficará mais inútil e repulsivo. Não sei como se olha no espelho sem vomitar. Eu, com certeza, o faria. Você já comeu uma vez hoje, não precisa de novo. Uma refeição por dia, Park Jimin. Lembre-se disso, não precisamos de um peso morto no grupo."

Palavras tentavam sair de minha boca em forma de sussurros, mas sem sucesso. Era como se meu corpo inteiro estivesse paralisado, e nem sons conseguiam sair por entre meus lábios. Todo meu ser tremia e minhas mãos estavam molhadas. Não conseguia sentir minhas pernas. A única parte do meu corpo que estava trabalhando bem era meu cérebro. Vozes vinham e o enchiam com os mais diversos dizeres, mas todos tratavam sobre a mesma coisa: meus maiores medos e inseguranças. E minha incompetência, e insuficiência. Tentei chacoalhar a cabeça seguidas vezes para espantá-las, porém a situação aparentou piorar. Talvez, essas falas cruéis sejam para meu bem. Talvez, a voz que permanece em minha cabeça desde o início da minha adolescência, seja eu mesmo. Para me controlar, guiar-me e aconselhar-me. Entretanto, era quando elas tiravam meu sono e faziam-me ficar acordado por toda a noite, que eu desejava pará-las.

"Você comeu demais hoje. E treinou pouco. Sabe o que significa? Irá ter suas bochechas de volta. Mochi, não é, Jimin? Sei o quanto detesta esse apelido, e é por isso que faço questão de usá-lo, para lembrar-se o quão repugnante você se torna com aquelas bochechas enormes. De qualquer forma, você é assim sempre. Talvez nunca deixará de ser."

E era naquele quarto escuro de hospital que elas estavam mais altas do que nunca. Mesmo se eu passasse o dia inteiro sem tocar em algum alimento, elas sempre me visitavam, para me lembrar de que todo esse sofrimento era para meu próprio bem, para eu conseguir olhar-me no espelho sem querer quebrá-lo.

O início foi o pior. Começar a odiar a pele que habito, cada fio de cabelo, da ponta dos pés até o topo da minha cabeça, foi sufocante. Evitar sair de casa por dias para ninguém ver meu estado, usar roupas de tamanhos gigantes, passar fome por dias... o início foi devastador.

Com o tempo, pode parecer assustador, mas acostumei-me com o ódio ao meu corpo. As vozes tornaram-se mais frequentes, e os treinos exagerados e desmaios também. Às vezes, as vozes até sugeriam ações, porém, nunca cogitei executá-las. Penso que minha mente esteja tentando me enganar, fazer-me submeter a cenários diferentes e dolorosos todos os dias. Mas, talvez, eu mesmo me submeta a tudo de ruim pelo o que já passei na vida.

Ver o sol nascer, treinar enquanto ele me observa logo pela manhã, iluminando todo cômodo com seus raios amarelados. A luz do sol traz um certo conforto à mim. Me faz esquecer que treinei a madrugada inteira e sem descanso, em busca de um resultado mais rápido. É como se ele fosse o único que me perdoasse por agir daquela maneira. E todo dia, não importa o que tenha acontecido à noite, ele me fornece seus raios e renova minhas energias, e por um instante, penso que tudo ficará bem.
Após, comer o mínimo para manter-me acordado, enganar meus hyung's ao colocar uma quantidade exagerada de comida no prato, mas botar tudo na lixeira depois. Ou, comer todo o tipo de porcaria possível. Entretanto, como meu estômago não está acostumado com essa quantidade absurda de comida, botar tudo para fora depois.
Entretanto, é quando chega a noite que meu coração acelera e tenho a impressão de que saltará pela boca. Minhas pernas viram gelatina, e minhas mãos não são capazes de segurar nada devido ao suor que se instalou em minhas palmas. O medo de ser pego e ter que passar pela tortura de sermões, ou pior, explicações, me corroía. Mas, geralmente, a única que me observava era a lua. A lua era minha pior inimiga. Era quase como se, ao me ver treinando incansavelmente, estivesse me julgando. Mesmo sendo minha única fonte de luz na madrugada, sei que condenava cada giro, salto ou movimento que eu executava. Como se estivesse me obrigando a parar com todos os hábitos que me destruíam, dia após dia, constantemente.

Measuring Tape // YoonMin Onde histórias criam vida. Descubra agora