XI

103 12 24
                                    

Os olhos grandes de Jimin encaravam o relógio atentamente, na esperança de os minutos passarem mais rápido. Intercalava o olhar entre as horas na parede e seus pés pois temia encarar a mulher sentada em sua frente. Estava há trinta minutos em silêncio, apenas observando curiosamente as cortinas, porque a senhora não havia conseguido arrancar nada de seus lábios. Com um suspiro demonstrando impaciência, a psicóloga continuou.

"Então, Jimin, quer retomar como tudo começou?" Seu olhar era suplicante e quase desesperado.
"Nós já não falamos sobre isso?"
"Bom, você deu informações muito vagas, e elas não servirão."
"Hm... tudo bem, eu posso fazer isso. Acho que, antes de nosso debut. A situação se agravou quando estreamos como um novo grupo, claro, mas sinto que sempre odiei o que via no espelho." Jimin surpreendeu-se por estar conseguindo pôr o que pensa para fora.
"Qual era o motivo desse seu ódio?"
"Acho que... eu queria atingir a perfeição, entende? Ninguém consegue debutar com o peso que eu tinha e minha aparência." O loiro deixou uma risada fraca escapar de seus lábios pálidos. "Coxas grossas demais, bochechas em destaque no meu rosto... sem abdômen definido, quem admiraria alguém assim?"
"Então, podemos dizer que você faz isso em busca de aprovação?" A voz da morena era baixa, como se tivesse medo que suas palavras, de certa forma, o ferissem.
"Talvez. Eu apenas... queria me sentir bem comigo mesmo, e queria ser alguém digno de alguma admiração. Queria, não, quero. Não via outra maneira de atingir a perfeição sem ser fazendo tudo o que faço..." Um silêncio instalou-se no ambiente e o menor remexeu-se desconfortavelmente em seu assento.

A mais velha assentiu e lançou um sorriso mínimo em direção a Jimin, tentando reconfortá-lo. Mexendo em alguns papéis em seu colo e analisando as palavras escritas, ela retomou a sessão.

"Aqui está dizendo que você canta e dança. Pode descrever sua relação com essas artes?" O sorriso dela cresceu e Jimin estava começando a sentir-se menos desconfortável. Reunindo a coragem que ainda restava em si, disse:

"Acho que é algo que carrego comigo desde pequeno, uma paixão que não morreu ainda. Me sinto bem dançando, é algo que sinto que sou bom. É como se estivesse predestinado a fazer isso pelo resto de minha vida." Jimin brincava com os dedos em sinal de vergonha, ainda não conseguindo abrir-se completamente.

"E quanto a música, Jimin?"
"Já fui desencorajado a cantar diversas vezes... críticas sobre minha voz estão sempre surgindo. Então, é um tanto quanto difícil eu me sentir seguro com isso. Porém, é nela em que eu boto a maioria de meus sentimentos, e tento escrever algumas também." A psicóloga analisava cada movimento seu, aparentando estar tentando ler seus pensamentos e decifrá-lo.

"Se importaria de dar um exemplo de músicas que você ja escreveu?"
"Acho que... Lie." Jimin parou a si mesmo antes de dar detalhes pessoais demais sobre sua composição, ainda relutando.

"No caminho para cá, eu escutei essa. Procurei seu trabalho e, devo admitir, gostei muito." A mulher agora apresentava um sorriso de orelha a orelha, tentando encorajar o mais novo ao aplicar um elogio sincero. "Mas, então, pode me dizer de que forma você interpreta a letra da música?"

Vendo-se sem saída, o loiro se obrigou a dar mais alguns detalhes à mulher que estava se dispondo a ajudá-lo.

"Hm... claro. Na letra eu acho que... imploro para ser salvo. Refiro-me, também, a uma voz que sussurra coisas horríveis e eu não consigo fazê-la ir embora, ou fugir." Sentindo seu peito mais pesado do que nunca, Park Jimin respirava alto e constantemente, com as mãos suando e a voz trêmula.

"Jimin, durante toda a consulta, você usou a expressão 'acho que' diversas vezes, eu podia até contar. Como se você estivesse inseguro demais, ou... Jimin, acha que não tem nenhuma certeza em sua vida?" As palavras calmas e bem articuladas da mais velha o pegaram de surpresa, fazendo-o perder o ar por alguns segundos. O menor repassou a pergunta diversas vezes em sua cabeça, analisando-a de trás para frente, porém, incapaz de formular uma resposta coerente.

Measuring Tape // YoonMin Onde histórias criam vida. Descubra agora