O Presidente e O Embaixador

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Casa • 01/3
Quarta-feira • 22:37

Não há nada mais confortante do que olhar o mar através de minha janela, a altitude do prédio transforma as ondas do mar em dobras de um longo vestido azul.

Sempre temi a sutileza do mar, ele é algo tão intenso, tão imersivo, tão mortal. Entretanto, é charmoso, delicado. Algo estranho de se pensar, sentia como se observasse um urso usando uma luva.

Meus pensamentos são gratificantemente interrompidos pelo som de notificação de meu computador, como não há muitos aplicativos instalados, tinha certeza de que se tratava de um e-mail. Não hesitei em abri-lo:

Boa noite, Srta. Pichón.

Desculpe-me por interrompe-la a este horário, porém ocorreu um caso inesperado na O.M.D.H. sem precedentes neste setor de orgonizações, preciso que ajude a solucioná-lo uma vez que o assunto é a nível internacional e a polícia local não tem mais o cabimento e aval de interferência.

Preciso que um laudo da vítima, bem como sua ficha, além da de aomenos um suspeito sejam entregues até a data de hoje no horário local em que estiver.

Estou ciente de que está em seu período de férias, mas devido à complexidade do caso e ao seu histórico, não encontrei melhores opções.

Sua viagem para Pretória está agendada, por favor compareça ao aeroporto às 14:00.

Conto com sua colaboração, boa sorte.
Att.,
Delegado Gilles Touré.

A última coisa que eu esperava receber no meu primeiro dia de férias era um caso, estou decepcionada com o corpo investigativo da polícia, ele não conseguem manter um detetive de férias?

Contudo, enquanto acendo um cigarro, refleti sobre as palavras do Sr. Touré: "Devido à complexidade do caso e ao seu histórico, não encontrei melhores opções". O quão complexo o caso poderia ser? Complexo o suficiente para cancelar as férias de uma detetive no seu primeiro dia? Nunca desconfiei do Sr. Touré, e não é dessa vez que vou.

Não cheguei a terminar o cigarro, apenas o ponho no cinzeiro adornado que trouxe da Índia em uma das viagens com meu pai, sentia falta daquela época. Fiquei admirando o mar por mais alguns instantes antes de dormir e, quando fui, mantive a janela aberta para evitar que esquecesse o barulho das calmas águas. 

Aeroporto Charles de Gaulle • 02/3
Quinta-feira • 13:02

Não chego tão cedo ao aeroporto quanto deveria, mas ainda sim estava dentro do horário, afinal, não pegarei um voo comercial. Procuro um lugar para aguardar e tento ficar o mais próximo possível do embarque, acho uma ilha de cadeiras vazias no centro do corredor próximo à saída 9 e me sento em uma delas, posicionando minha bagagem sob meus pés.

Reflito sobre meu destino, a última vez em que estive na África do Sul foi com meu pai, por sinal, foi a última vez que o vi. Tento afastar esses pensamentos e a primeira coisa em que penso é sobre a organização a qual iria, já ouvi falar sobre ela, mesmo não tenho certeza quanto à sua função, porém, não me lembro de nenhum crime jurídico ou de qualquer outra natureza relacionado ao nome da empresa. 

Fico tão dispersa em meus pensamentos que esqueço-me do tempo, decido pegar o meu celular para checar o horário, mas ouço meu nome ser chamado. Quando levanto o olhar, vejo um trio com malas prontas andando em minha direção. Uma mulher loira, baixa de olhos verdes usando roupas sociais brancas se dirige a mim:

— Com licença — sua voz firme, porém simpática se introduz — você é a detetive Pichón?

— Sim, a própria, posso ajudar em algo? — Sou simpática na resposta e entrego um sorriso cordial.

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