Prólogo

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   A luz que entra embaixo da porta já é o suficiente para acordar os seis prisioneiros. Todos se encolhem contra a parede. Um som de dígitos e de travas de ferro destrancando-se toma o ambiente da sala escura. Um médico, de jaleco alvo como as nuvens, entra e analisa a pupila dos presos, ausculta seus pulmões e verifica seus batimentos cardíacos. Depois de um aceno com a cabeça e um leve franzir de testa, ele se retira e um enfermeiro entra. Esterilizando o local de aplicação, o enfermeiro passa em movimentos circulares um algodão úmido na garganta de William. Engolindo a seco e com tremores, William levanta a cabeça e cerra os dedos contra o chão áspero. Aquele era o sinal de que William era o escolhido. Os outros prisioneiros, todos de nacionalidades diferentes, se espremiam contra a parede e assistiam William ser arrastado através da porta de ferro.

Entre emaranhados de botões e telas, Hans analisava com esmero cada número que aparecia em seu monitor. Atrás dele, Earl, em outro monitor, ajustava a data de viagem. Ambos ansiosos e confiantes para que aquele experimento desse certo.

Puseram William sentado à cadeira de ferro.

- Earl, confirme a data, por favor.

- 19 de abril de 1889, senhor.

Os braceletes da cadeira de William se apertaram junto ao seu braço, prendendo o membro à cadeira. O mesmo enfermeiro que tinha o sedado, agora vem e lhe liga a uma sonda nasal, lhe cega com uma venda e implanta um ponto em seu ouvido.

Uma cabine de aço desce em torno de William. Hans acena para Earl, e ambos consentem em iniciar o processo.

Dentro da cabine, um gás é liberado levemente. Em questão de segundos, o gás condensou-se em William e, então, a cabine é ligada. Em movimentos centrífugos, raios luminosos eram lançados. Houve uma leve queda de energia no laboratório. Todos apreensivos olhavam para a cabine e o monitor de Hans. Depois de um instante, Earl pressionou o botão que levantou a cabine e, estarrecidos, todos contemplavam o sucesso do experimento de Hans e a ausência de William.

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Deitado em um campo regado de orvalho, William ainda estava desacordado. De seu monitor, Earl enviava impulsos nervosos através da capsula implantada na garganta. Em um susto William acordou sufocado. Não sabia onde estava. Suas pupilas estavam dilatadas. O ar que batia em sua retina fazia-o gemer de dor.

- William, está tudo bem! Acalme-se! – disse Earl através de um microfone.

A voz que ecoou no ponto de William serviu somente para amedronta-lo.

- Onde estou? – disse em tom de choro.

- 19 de abril de 1889, Branau am Inn, Áustria. – disse Hans em meio a sorrisos, vendo que seu experimento era um sucesso.

- O quê? Como? Vocês só podem estar brincando comigo.

- Está vendo aquele prédio de três andares com janelas gradeadas no térreo? – perguntou Earl.

- Sim, estou.

- Vá até lá.

Em passos entrelaçados e desgovernados, causados pelas fortes dores de cabeça e vertigem, William caminhou pelo gramado, indo em direção do pequeno prédio. Ele nunca tinha visto uma vegetação tão viva e fresca em sua vida. Suas lembranças de como era a vida fora da Cúpula eram tão gastas que se confundiam com sonhos ou lembranças falsas. O que lembrava era apenas do chão seco e arenoso de Ohio. Lembrava dos cães que brigavam entre si para comer os corpos de soldados mortos. Mas, ali, sentindo o soprar da brisa, o ar vivo e limpo, sentindo os capins roçando em sua perna, ele encheu-se de satisfação.

Depois de um certo tempo, William chegara em frente a porta de entrada do prédio.

- Ok, William, em seu bolso esquerdo há uma chave que abrirá esta porta. Você deve ter muita cautela para não despertar os moradores. Você subirá as escadas e entrará no primeiro quarto à direita (a chave deste quarto está no bolso direito).

William, em meio ao breu e o silêncio da noite, andava nas pontas dos pés. Estava confuso do porquê de tudo aquilo. Mesmo desconfortável com a situação, ele seguiu adiante. Sabendo que haviam chaves em seus bolsos, ele resolveu checar os bolsos traseiros à procura de novos objetos. Achou um canivete e uma seringa nos bolsos traseiros.

- O que é isso? Para quê?

- Você está prestes a matar a mãe de Hitler e, com certeza, irá impedir o Apocalipse.

- Eu não vou fazer iss... – William, como se tivesse sendo enforcado, levou as mãos ao pescoço para interromper o engasgamento.

- Você vai. – disse Hans.

Seu rosto estava avermelhado e suas veias saltadas. Com medo de mais um enforcamento, William obedeceu as ordens de seu superior.

Chegando em frente ao quarto, lembrou-se da chave do bolso direito. Abriu a porta em silêncio. Passo por passo, se dirigiu até o corpo da mulher grávida. Ele tremia em saber que cometeria um homicídio que evitaria um genocídio.

- Essa seringa contém um teor anestésico que não fará ela sentir dor alguma.

- Você acha certo alguém morrer só porque seu filho é mal?

-Às vezes, William, precisamos sacrificar as boas coisas para não sofrermos com as más. 


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Cúpula do TempoWhere stories live. Discover now