1. A garota da mesa 5

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- O que te trouxe aqui?

Ela sorriu, colocando o copo na minha frente.

- É uma longa história.

- Bom, você está só no primeiro copo, a gente sabe que você ainda vai ficar aqui por um bom tempo.

Respirei fundo e comecei, com o álcool já queimando a garganta.

"Eu trabalho num café, de segunda a sexta a tarde.

Estudo de manhã, apenas nas sextas e sábados a noite eu trabalho no bar.
Já deve pensar em quantas histórias eu ouço por dia, não é?

E era uma quinta normal.

15 horas da tarde, tinha apenas uma garota sentada em uma mesa do canto, pediu um café e só, ela ficou lá por incontáveis minutos até finalmente provar da xícara.

A tal garota tinha os cabelos curtos, fios castanhos levemente enrolados.

Ela tinha olhos que, dependendo de para onde ela olhava, ficavam dourados como a luz do lugar.

Ela usava calças jeans e bota de couro, uma blusa branca com mangas compridas.

Apesar de suas roupas e do seu cabelo, que era como o de um cara da minha turma de inglês, ela era muito feminina.

Saberia que era uma mulher só pelos olhos, eles eram belos e delicados.

Ela estava séria desde que chegou mas aposto que seu sorriso era bem "menininha" também.

Ela estava escrevendo algo no caderno, escreveu muito até dar outra golada na xícara.

Eu gosto de observar as pessoas, do fundo do balcão no meio da tarde, não é como se reparassem.

Era muito interessante o modo como eu podia imaginar a vida delas.

Eu não podia imaginar nada sobre aquela garota, tudo sobre ela me parecia curioso.

Foi exatamente isso que me obrigou a ir até lá, perguntar se ela queria mais alguma coisa quando, na verdade, eu queria muito saber como era a sua letra.

Bom, a curiosidade me empurrou e o meu chefe que já estava querendo fechar as portas.

Will era um cara maneiro, ele me empregou aqui e isso era uma coisa legal por que eu precisava do dinheiro, sabe?

Lembro que na minha primeira tarde ele me disse que o lado bom daqui era ver, eram os sorrisos, os 'boa tarde' era as pessoas indo lá com quem gostavam e o que significava pra elas, ele disse, até, que nós não trabalhavamos com café, nós trabalhavamos com almas.

'cafeina e amor meio que funcionam iguais, te mantém acordado nas horas difíceis, te vicia, te suga mas ninguém larga, por que é nos deixa vivos, nos deixa quentes'

Ele devia ter seus vinte e tantos anos, sua cabeça careca (por opção) ficava até que bem nele, a barba sempre raspada logo no começo fazia ele parecer mais velho, mais vivido, ele era um cara ranzinza e negativo mas quando se quer saber de uma boa história ou de um conselho, ele é o cara perfeito.

Conhece tudo aqui, ele é esse lugar inteiro, ele tem o cheiro de café e esperança grudado nas roupas, ele tem o olhar daqueles mesmos senhores que vem até aqui, procurando um bom livro, um lugar pra relaxar.

Aqui era quieto, simplesmente quieto e era um silêncio que não incomodava.

Como ele mesmo dizia 'O silêncio daqui não perturba, preenche. É onde a gente fica cara a cara com nós mesmos pra esquecer do vazio dos outros'

A Garota Da Mesa 5Onde histórias criam vida. Descubra agora