Havia chegado a hora pelo qual os dois parceiros, a Divisão de Operações Especiais e o próprio Capitão Lewis da Polícia de Rat’s Bay esperavam. Jackie tentava não parecer eufórica no carro alugado pelo departamento.
Cerca de quinze minutos antes foi assolada por uma crise de ansiedade. Lembranças de como Jaweer, seu antigo chefe no bar onde trabalhava disfarçada a vendera a Júlio, um dos líderes de gangues no Vosk, por um punhado de drogas. Meses depois ela foi entregue por um homem chamado Dom à Conselheira do Comércio, que, na ocasião, disse para ser tratada por Madame. A coleira em seu pescoço ali, por escolha própria, somada às recordações, a deixaram agitada.
— Mestre, — os dois já estavam bem mais habituados àquela forma de tratamento.
— Sim, Jackie?
— Vou ao banheiro.
Viu seu parceiro dar de ombros como quem diz: “vai, ué, a casa é sua”. Sem hesitar, trancou a porta, pegou o cubo branco – que já estava com quase menos da metade – a lâmina de depilar e o canudo de metal. Alguns instantes depois sentava-se encostada no móvel da pia, aproveitando a súbita onda de relaxamento causada pela droga. E agora, no carro, segurava as mãos para não parecer eufórica, olhando pela janela do banco.
— Está quieta, Jackie.
— Estou bem. Vai dar tudo certo. É só... — Notou que estava falando rápido demais, recomeçou. — Está tudo bem, Kleave. É só nos atermos ao plano, e tudo ficará bem.
— Mas você sabe que tem muitas pontas soltas nessa operação. Não sabe?
— Tentemos não pensar nisso.
Mas era inevitável não pensar. Ela sabia que havia um monte de falhas. Ela estaria sozinha no palco, desarmada e, provavelmente, presa a um poste. Seu parceiro estaria desarmado e, ainda que os rapazes da DOE fossem estar de prontidão, ela já esteve em uma festa que deu errado. Tudo acontecia muito rápido. Talvez, mais rápido que o suporte conseguisse agir.
Os dois viram o imóvel, um antigo armazém com pintura alaranjada descascada e gasta em diversos pontos. Como previsto, havia uma passarela superiora pelo lado de fora, e em cada esquina havia um segurança armado. Rondando em alguns pontos no nível da rua, outros dois seguranças vigiavam. A entrada era por uma porta lateral, menos, para pessoas. A imensa porta de carga, que outrora recebia contêineres, estava fechada, e, segundo levantado pela equipe de reconhecimento, haveria uma outra porta, para carros, na parede oposta à de carga. Pararam o carro em uma esquina próxima, Kleavon pegou o telefone e apertou o ícone para entrar em contato com a DOE.
— Chegamos no local. Tudo está como previsto, pelo menos seis seguranças, mas eu estimo uns dez.
— Entendido, Líder 1. Equipes 2 e 3 estão em prontidão. Entrada em T menos quarenta e cinco minutos.
— De acordo, capitão. Boa sorte.
— Boa sorte para vocês dois. Equipe 1 desligando.
Virou-se para a parceira.
— Está pronta?
— Vamos lá. — Respondeu Jackie. Sentia o coração acelerado, parte devido à droga, parte devido à situação. — Agora não tem volta. — Postou-se ao lado do parceiro, levantou a cabeça e segurou o cabelo para o lado, para que prendesse-a à guia.
— Vamos, menina. — Ordenou o homem.
Kleavon se pôs a andar, causando um leve puxão no pescoço da parceira. Naquele momento, ele devia esquecer-se de que eram parceiros, dos sentimentos que tinha por ela. Deveria ser um mestre, cujas garotas são sua posse, objetos para serem usados, e nada mais.
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Um Conto de Natal (da série Crônicas de Rat's Bay) [COMPLETO]
KurzgeschichtenJackie planeja uma operação para acabar com a escravidão em Vosk, impulsionada pelo que passou naquele lugar.