Colisão

Jamille

Ela trabalhava num call-center e chegava em casa bem estressada às vezes. Era de casa pra o trabalho e do trabalho pra casa. Saia às 10:30 por causa do ônibus que demorava a passar, e chegava às 19:00. Assistia alguma coisa no YouTube ou dava uma olhada no Facebook e ia atualizar as séries. Depois comer, banho e cama. Acordava às 8:00 e cuidava pra ir trabalhar. Tinha folga uma vez por semana e dormia o dia todo, só acordava pra ir na padaria da esquina comprar algo pra comer e ligar a tv. Sempre a mesma coisa... Chegava a cansar só de lembrar.
Um dia ela resolveu sair um pouco da rotina. Acordou cedo no dia da folga e foi pra academia, não planejava ser fitness, mas gostava de pensar que teria algo pra fazer antes ou depois do trabalho. Nem queria conhecer ninguém novo, apesar de fazer tempo que não tinha uma conversa de mais de 10 minutos com alguém cara a cara. Se é que lembrava de como era. Jamille saiu da casa dos pais assim que terminou a faculdade,  mas não encontrou emprego na sua área. -Faz administração - eles disseram. - Vai ser legal!!! - completaram.  E ela boba acreditou.
Ela optou pela parte da manhã,  das 6:00 às 7:30. Quem sabe acordando cedo poderia ter dias mais produtivos. Hábitos alimentares seria mais difícil de mudar, mas iria aos poucos. Mais pra frente pensaria nisso. Até aula de zumba ela quis fazer, mas só tinha vaga à noite e ela não queria perder as séries. Isso não! 
Saiu da academia já se sentindo um pouco mais viva. Precisava comprar roupas e tênis. No provador pensou em mudar o cabelo, dar luzes, quem sabe um corte mais sofisticado. Seria o dia da mudança.
Ligou pra uma amiga, precisava do número de algum salão de beleza. Precisava ser uma nova mulher amanhã neste mesmo horário. Na correria quase atravessa a rua no sinal verde. Sorte que uma moça a puxou.
-Obrigada,  sou tão desligada.
A outra sorriu e continuo esperando o sinal vermelho. Moça simpática,  se fosse outra diria logo que ela era uma louca.
Quando olhou as horas já eram 10:40 e ela mal tinha comido. Procurou uma lanchonete e pediu um sanduíche e um copo de suco de uva. A moça simpática era atendente da lanchonete e estava levando uma bronca por chegar atrasada. Parecia conhecida, mas ela não conseguia lembrar de onde a conhecia. Se não precisasse sair correndo pro salão, teria lembrado de perguntar o nome da moça.  Saiu da lanchonete mais estabanada que antes, sorte que o ponto de ônibus não era do outro lado da rua.