Capítulo 2 - 20 de dezembro

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Violeta

Chego cedo ao asilo, minha ansiedade é tão grande que mal consegui dormir a noite inteira e, praticamente, madruguei. O olhar que Eduardo me deu não me sai da cabeça.

Seus olhos pediam socorro e quando ele pegou em minha mão e a beijou, senti algo muito estranho, como se sua alma me pedisse ajuda em algo que ainda não consegui decifrar. Então, logo depois seu olhar se transformou, antes eram frios e agora parecem deslumbrados, como se ele enxergasse pela primeira vez, como se tudo ao seu redor ganhasse cores.

Sua aparência de pouca idade me chamou muita atenção, depois descobri que ele trabalha como gerente comercial na empresa e que temos uma diferença de apenas quatro anos, estou com dezoito anos e ele vinte e dois, não que isso tenha relevância, sei que está aqui a trabalho e deve estar retornando hoje para sua cidade.

Tento não pensar, e vou ao quarto da Dona Madalena, ela é uma das mais novas aqui na casa, tem sessenta e cinco anos e chegou há dois anos. Depois que perdeu o marido, não quis dar trabalho aos filhos, veio para cá por livre e espontânea vontade e adora contar as histórias de como ela aprontou antes de encontrar o grande amor da sua vida.

— Oi, Madá! — digo logo que entro em seu quarto, e lá está ela com seu crochê. Durante o ano, ela me dá várias peças dizendo que devo guardá-las para o dia que me casar, então já tenho vários tapetes, caminhos de mesa, entre outras coisas que ela faz.

— Oi, pequena. — Respiro fundo e reviro os olhos, sempre alguém tem que lembrar sobre o meu tamanho. — Estou quase terminando esta peça, você posta pra mim na internet? — Depois de muito insistir, ela me autorizou a postar suas peças na internet e tem tido boas encomendas.

— Claro, só me falar o preço, tenho certeza de que essa venderemos rápido, a senhora é muito caprichosa.

— Vem aqui tentar, desta vez você consegue. — Todos os dias ela tenta fazer com que eu faça um ponto, mas mal consigo fazer aquela correntinha para iniciar o trabalho.

— Sabe que não consigo, faz isso somente para rir depois por minhas costas.

Sento-me ao lado dela e, novamente, tento fazer a temida correntinha, depois de longos minutos fazendo e refazendo consigo terminar duas correntinhas.

— Aí, não te disse que um dia conseguiria? Agora, vamos tentar um ponto baixo — me explica com toda paciência.

Mordo a língua e sei que devo estar fazendo uma careta, mas nunca vi algo tão complexo como esses pontos de crochê.

— Consegui! Consegui, Madá! Olha, são dois pontinhos! — digo fazendo a maior festa, como se tivesse ganhado a coisa mais maravilhosa do mundo. Pode até parecer algo simples, mas pra mim é uma grande conquista, já que nunca consegui fazer muitos trabalhos manuais, minha conversa é somente com a máquina de costura.

— Claro que conseguiu, sempre soube que era esforçada e um dia conseguiria, tenho certeza de que no próximo Natal, já terá conseguido fazer uma peça.

— Menos, Madá, muito menos...

— Tenho certeza de que terá feito várias peças — alguém fala atrás de nós e meu coração acelera na mesma hora.

Madá olha para a porta curiosa, já que ontem quando Eduardo esteve aqui, ela havia saído para ir ao médico e não voltou em tempo de conhecê-lo.

— Você é...? — pergunta curiosa.

— Eduardo Sander, sou o...

— Cara das fraldas! Ainda bem que ainda não preciso delas.

Coloco a mão na boca tentando disfarçar o riso, Madá não tem filtro, diz tudo o que passa em sua cabeça.

Cinco Dias com Você - Conto de Natal AMOSTRAOnde histórias criam vida. Descubra agora