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Fico por cima dela e ponho a mão na sua coxa, ela põe as mãos nas minhas costas, passando - as levemente pelas minhas cicatrizes e então para na pior delas, ainda estava um pouco machucado, e ela me arranha forte ali

- Aai ! - grito e saio de cima dela

- Vai pra lá - Kate aponta para uma porta e eu a olho triste, como se pedisse piedade

- Kate.... Desculpa, por favor.... Não.... - imploro

- Anda Jack ! - eu vou até a porta e a abro, é exatamente o que eu pensei, ela vai me castigar por ser "desrespeitoso" com ela. Sinto uma mão segurando a minha e olho para o lado, vendo Katherine ali, parada, controlando as lágrimas - Desculpa por isso.....

- Se não quer não precisa fazer.... - tento convencer ela

- Não faça as coisas piorarem Jack.... Por favor - ela me olha - Vai - ela solta minha mão e eu paro em frente às cordas no teto. Estico os braços, sentindo dores, e ela os prende, indo para longe depois - Desculpa..... - sinto a primeira chicotada - Eu não quero fazer isso, mas você não me tratou de maneira correta - a segunda chicotada, e a terceira, a quarta, a quinta, eu estava quase vendo estrelas de tanta dor

- Para ! Por favor, dói muito ! - grito chorando. Ela ignora, então vem mais e mais chicotadas, sei que já foram mais do que antes, ela da mais cinco e para. Ouço o chicote ser largado e passos vindo na minha direção. Kate me solta e cai no chão, fico em posição fetal e continuo chorando, a dor é imensa, ela põe minha cabeça no seu colo e permanecemos em silêncio, apenas o som do meu choro é ouvido naquela sala de tortura.

- Por que você faz isso ? - ponho, com medo e receio, a minha mão na coxa dela, mas sem intenção alguma

- Não quero mais fazer isso, mas... Tenho que fazer - ela passa a mão no meu cabelo, passando pelo meu rosto em seguida

- Kate... - sento meio curvado, com as costas latejando de dor e a olho nos olhos, aqueles olhos verdes - azulado

- Sim ? - ela me olha com.... preocupação ? É isso mesmo produção ? Ela tá preocupada comigo ?

- Desculpa - olho ela tristemente

- Quem pede desculpa sou eu, eu vou tentar parar.... tentar não fazer isso com você

- Kate ? - a chamo. Levanto indo em direção ao quarto e ando até minha mala. Apenas escuto ela me seguir, paro em frente a minha mala e a abro, pego outras roupas e sento na cama, deixando a mala aberta mesmo

- O que ? - ela responde baixo e se senta ao meu lado

- Pode.... Me ajudar ? Sabe, você meio que... acabou com as minhas costas e eu não quero sujar as roupas - ela riu de leve por causa de meu tom zombeteiro e eu sorri apenas

- Claro - ela acariciou minha nuca e fechei os olhos sentindo aquela boa sensação, suspirei e ela limpou das minhas costas.

Me vesti em um pouco mais de tempo do que queria. Em seguida subi novamente indo para o segundo andar, me debruço sobre as barras, sentindo o vento no meu rosto, fecho os olhos, relaxando os músculos do meu corpo pela primeira vez desde que estou com Kate. Solto o ar que nem sabia que estava preso no meu peito, me acalmando com aquilo, abaixo a cabeça e me ajoelho no chão, segurando firmemente nas barras, ignorando qualquer dor, qualquer sentimento e qualquer protesto que meu corpo faça. Me curvo, sinto as lágrimas rolarem pelo meu rosto e choro. Não por alegria, por tristeza ou por saudade da minha família. Eu choro por tudo, pelo sentimento de ter o mundo nos ombros e ter que suportar a tudo e a todos, pelo sentimento de injustiça por nunca ter tido uma vida normal, pelo sentimento de nunca ter sido feliz. Levanto as mangas da camisa e olho para meus pulsos, a visão um pouco embaçada pelas lágrimas, mas ainda assim vejo.... As marcas dos cortes, imperceptíveis se meus pulsos não forem olhados com atenção, minha pele branca demais dificultava ainda mais vê - las e, nesse momento, tudo o que eu mais quero é voltar ao passado, quando os cortes aliviavam a dor

Flashback

Eu acabava de voltar do acampamento militar em que meu pai me colocara. O silêncio no carro durante toda a viagem era constrangedor, olhava para meu pai e para minha mãe, que me consolava com suas belas palavras

- Não Melissa ! Não está tudo bem, ele foi o pior da turma ! O pior ! Ele deveria ser o melhor, igual a mim !

- O problema é que ele não é você André ! O Jackie não é sua cópia exata ! - minha mãe gritou com meu pai, que lhe acertou um tapa no rosto me assustando

- Cale a boca, sua vadia imunda ! - minha mãe virou para a frente novamente, encarando a estrada. Eu sabia que meu pai batia na mamãe, mas eu não entendia, só tinha sete anos.

Ao chegarmos em casa papai foi assistir TV e mamãe subiu para o quarto comigo. Ela me pôs na cama e me mandou ficar deitado de olhos fechados, não importava o que eu ouvisse. Ela saiu do meu quarto e foi para o dela e então eu ouvi..... O disparo, ela tinha se matado e eu sabia disso, mas não me mexi, apenas chorei em silêncio.

(Três anos depois)

Mesmo depois de tanto tempo, eu ainda sofro muito. Meu pai me bate todos os dias e me abandonou praticamente. Sempre saindo, uma mulher diferente a cada dia.

(Cinco anos depois)

Com quinze anos fui pego roubando um carro e mandado para o reformatório. Eu morava sozinho quase, meu pai nunca estava em casa mesmo, ouvi os vizinhos dizerem que ele havia ido morar com outra, outros diziam que ele tinha ido para o exército, pois é, os outros estavam certos. Ele estava no exército e fui mandado para um dos reformatórios do exército e encontrei ele lá.

(Dois anos depois)

Com dezessete anos continuava naquela merda de reformatório, eu havia roubado uma faca no meu primeiro dia, papai descobriu, mas não deu a mínima, desde então me cortei

(Um ano depois)

Aos dezoito, sai daquele inferno. E fui morar com um amigo. Foi um desastre, como a minha vida inteira

(Dois anos depois)

Morei com meu amigo durante dois anos e depois me mudei, para um apartamento pequeno, mas meu. Eu tinha apenas vinte anos.

(Um ano depois )

Eu vi meu pai novamente, casado com outra mulher, e ele me obrigou a morar com ele.

Flashback

Depois que saí daquela casa, Katherine me pegou. Desde que ela me pegou não me corto, mas não aguento mais.

Retorno para o quarto, vendo Katherine deitada no sofá, lendo um dos vários livros dela. Fui até a mala dela, sentindo seu olhar sobre mim, abri, peguei uma de suas milhares facas, fechei a mala e fui para o banheiro. Tiro a blusa e sento no chão, encostando as costas na parede, deixando os azulejos frios aliviarem a dor física. Ponho a lâmina contra a pele e a deslizo da direita para a esquerda no meu pulso.

- Jack.... Que merda é essa ?! - Kate se ajoelha ao meu lado, tentando fazer o sangue parar de escorrer

- Deixa ! - puxo meu pulso de suas mãos - Vai parar sozinho - me corto novamente, logo abaixo do primeiro corte

- Para com isso ! - ela tenta pegar a faca, mas eu a empurro e ela cai sentada

- Você perguntou que merda é essa... Eu te digo que merda é essa, é uma coisa de merda ter que aguentar a porra de tudo dando errado na minha vida - aperto o cabo da faca, as pontas dos meus dedos ficam brancas, fecho os olhos com força, como se tudo fosse um mero pesadelo e jogo a faca em algum lugar do banheiro - Olha, Kate, eu só quero ficar sozinho - ela levanta e sai batendo a porta com força. Mas eu não me importo com isso, tudo o que eu quero agora é encontrar aquela faca e me cortar.

Aquela Mafiosa....Onde histórias criam vida. Descubra agora