1. Nora

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Nora Osterhild Finkler. 21 anos. Alemanha. Especialidade em matemática aplicada e física quântica.


...


Socializar na minha idade já deveria ser algo costumeiro, não deveria? Às vezes me pergunto se as pessoas do Instituto achariam que eu sou a mesma pessoa se me vissem agora na Flórida, em uma casa de praia cheia de pessoas bronzeadas que escutam country music e 6 golden retrievers. Os Estados Unidos da América não fazem bem pra minha sanidade mental e muito menos para minhas escolhas de sábado. Quero dizer, eu só vim porque um cara (estilo surfista sarado que não faz o meu tipo) me convidou pra beber e comer de graça. Talvez role algum sexo sem compromisso e rápido na mesinha de orvalho de branco que eu consigo ver da sala de estar. Trago o resto do cigarro e uso um prato com atum como cinzeiro enquanto observo um bando de recém-nascidos se achando adultos porque tem um trabalho de meio período e já podem pagar pelo vinho de $35 dólares. Ok, chega de reclamar. Tudo poderia estar pior. As provas terminaram. Meu namoro acabou. Meus pais não precisam mais cuidarem de mim. As chaves do meu loft serão entregue semana que vem. Está tudo ok.

Ajeito o meu sutiã sem disfarçar que a minha maior vontade era tirá-lo e jogar em qualquer canto dessa casa-de-cheiro-de-sal-forte-e-sujo. Tento encontrar o emaranhado castanho de cabelo do meu parceiro da noite, porém ele me surpreende com um beijo na cabeça por trás.

"Hey, Freddie. Como estão indo as coisas lá fora, uh?"

"Me desculpe de verdade, Noah. Não pensei que meu amigo ia terminar com a namorada justamente hoje, bem no nosso dia..."

É Nora! Meu nome é Nora!

"Não tem problemas, eu entendo. Você precisa acalmar os ânimos deles antes que acabem com toda a festa"

"Sim, isso mesmo. uau. Você é a única garota que compreendeu até hoje situações turbulentas em um encontro comigo"

Situações turbulentas? Encontro? O que não fazemos por vinho grátis e sexo, né?

"Bem, se você não se incomoda, eu vou tomar um ar, mas antes poderia me dizer onde tem borbulhante?"

Dou o meu melhor sorriso, mas no fundo estou bem impaciente com toda essa situação. Talvez eu devesse apenas ir embora de uma vez por todas. Talvez.

"Naquela estante refrigerada ali"

Freddie aponta e enquanto eu procuro com o olhar, no entanto, ele se aproxima lentamente por trás, de forma que agora consegue afastar o meu cabelo mediano e negro da clavícula esquerda e deslizar sua mão por debaixo dos primeiros botões da minha camisa de cetim brilhante. Por essa eu não esperava.

"Acho que mesmo em atraso, ainda está dentro do prazo, certo?"

Sua voz é calma, porém firme e possessiva. Ele traja calças caqui, está sem sua camisa e seus cachos recentemente aparados e úmidos chamam minha atenção para uma beleza comum, porém não menos impressionante. Meus olhos instantaneamente se fecham e Jacob entende o recado, larga a garrafa de cerveja da mão para me beijar suavemente no queixo enquanto andamos devagar e tropeçando em algumas pessoas rindo e alguns móveis gélidos até encontrar a bendita mesinha de orvalho que eu tanto observei.

Solto minha taça na mão da primeira pessoa que passa ao meu lado e tiro a meia calça arrastão sem me importar que 50 pessoas estejam no mesmo ambiente que eu. Nada que ninguém nunca tenha visto ou feito antes.

"Preciso de privacidade"

Ele sussurra no meu ouvido enquanto me afasta da mesa e me empurra pra uma suíte presidencial de outro mundo. Não parecia pertencer àquele mesmo lugar, porém não reclamo. Ele se senta na cama enquanto pega um preservativo do bolso da calça e passa os dedos entre os cachos em sua cabeça. Ele me observa como se eu fosse a única estrela no céu depois de uma tempestade e isso excita. Excita pela forma que ele morde os lábios enquanto eu me viro para me despir, porém não completamente. Eu, a lingerie de renda branca e o cheiro de óleo de coco que a pele do surfista emana. Permito-me sentar em seu colo, entrelaçando sua cintura e beijando seu pescoço da mesma forma que ele fez anteriormente. Minhas unhas agora se preocupam somente com o quão profundamente podem entrar em sua pele, porém numa tentativa de me colocar por baixo, prendo seus pulsos com uma força que eu sei que ele nunca imaginaria que eu teria. Sorrio satisfeita.

...

É meio dia e trinta e três quando acordo desnorteada numa cama gigantesca que poderia ser do tamanho da minha casa nova. Olho para o lado e vejo as costas de Jacob e dou um sorrisinho de vitória quando percebo que foi uma noite e tanto, apesar de ter achado que deveria ter ido embora.

Que seja. Já é domingo e eu tenho um avião para pegar. Levanto da cama somente de meias e uma blusa social branca com algumas listras verticais azuis que vai até a metade da minha coxa. Ele provavelmente me vestiu. Fofo. Prendo meu cabelo com um pedaço de fita que encontrei no chão e recolho rapidamente minhas roupas enfiando as peças abaixo do braço.  Me aproximo do jovem para saber se está mesmo vivo, porém o mesmo acorda me puxando pelo pulso me fazendo deixar cair todas as coisas que antes segurava. Damn it.

"Hey, bom dia. Onde pensa que vai?"

Sorriso forçado? Confere.

"Hey, Freddie... Eu preciso ir pro aeroporto daqui, tipo, duas horas. Foi um prazer transar com você"

Dou um beijo em sua bochecha, pego as roupas do chão e saio correndo do quarto o mais rápido possível.

Agora na cozinha procuro pelo meu celular enquanto pulo das pessoas jogadas no chão dormindo e consigo roubar uma maçã da fruteira e um twix da mão de um bêbado qualquer. De nada. Pesco alguns pertences pessoais e dou o fora enquanto peço um uber que, pelos anjos, não demorou nem 4 minutos depois de pedir.

"Bom dia, senhorita Finkler, como você está?"

"Bom dia, senhor..."

"Wisdom, pode me chamar de Wisdom"

"Pode me chamar apenas de Nora, por favor. Gostei do seu sobrenome. Tem algo a ver com a rainha da Inglaterra, certo?"

Dou uma mordida na maçã enquanto abro minha caixa de e-mail no celular e respondo alguns dos mais importantes que são, obviamente, do Instituto Alemão de Ciência e Astronomia, e mamãe.

"Aceita uma água?"

"Você é um anjo na terra, Win. Obrigada."

Merda. Não fiz o meu trabalho de cálculo que precisa ser entregue hoje e estou sem nenhum livro e apenas com o 4g. Droga, droga, droga.

"Win, estou encrencada. Você teria algum caderno, por gentileza? Desculpa te incomodar, é urgente!"

"Às suas ordens"

Ele me oferece um caderno de Star Wars e eu abro um leve sorriso por isso. Cinco segundos depois minha mente só foca em números e faltando exatos 3 minutos para chegar ao aeroporto eu consigo terminar o trabalho de cinco páginas em apenas 20 minutos. Meu record? Não mesmo. Já fiz em 14 minutos e 27 segundos ano passado. Memória fotográfica vem a calhar nesses momentos.

"Obrigada por ser tão gentil e me trazer tão rapidamente. Tenha um ótimo natal com sua família!"

Me despeço depois de fotografar as páginas e enviar para o meu orientador de pesquisa extensiva. Emoções, meus amigos: elas deixam tudo mais fascinante.

{ continua }

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