i've been far away for a long time

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Tamborilando os dedos frios sobre a grande mesa de madeira, um carvalho polido, liso e rico, Louis de Pointe du Lac fixava seu olhar melancólico na ampla janela da grande sala de estar da mansão de mesma característica, obviamente. A janela era branca e ia do teto ao chão, com vidros tão límpidos que poderia ver-se naquela superfície como via-se em um espelho. Encontrava-se sozinho naquela propriedade que comprou para si, com todo o dinheiro acumulado durante a luxuosa vida imortal que levava desde séculos passados, mais por um impensado capricho do que necessidade, já que não tinha mais nenhuma companhia desde muito tempo atrás. Montara ali, naquela exuberante propriedade, uma biblioteca lírica e fascinante, recheada de Shakespeare e outros autores. Eram sua companhia e lhe entendiam, afinal, falavam de amores e tragédias, coisas estas de que Louis sabia bem. Vivia só, misturava-se rotineiramente aos humanos, mascarando-se como um deles, aproveitando-se de seus resquícios emocionais, e alimentando-se daqueles que cruzassem seu caminho em uma infeliz noite, estas que eram frequentes. Era infeliz. Porém, diferente de um tempo noturno como aquele mencionado, nesta noite não havia saído para se alimentar ou tentar se divertir como tanto tentava. Não sentia que necessitava, muito menos possuía a vontade de ver a excruciante dor nos olhos de suas presas, e portanto, preferiu ficar ali, em sua comum solidão bela e detalhista. Olhava para a janela mas não a via, via apenas si mesmo, vazio e perdido ali. Seus dedos batiam cada vez mais devagar contra a mesa. O silêncio era imortal. Não havia um coração para bater, não havia como respirar, mas havia como sentir emoções. E muito.

Sua mente extraviava-se para muito longe, muito além do que seus distraídos olhos viam no lado de fora da janela: uma cidade moderna sempre desperta, com suas futilidades e beldades misturadas, num só âmbito, distinto do modo pretérito onde vivera humanamente, uma vez., onde tudo era pacato ou sangrento. Seus pensamentos eram do passado, simplesmente não era capaz de ignorá-los ou fazer uma recusa sem hesitar, já eram de casa. Especificamente naquela noite, Louis sentia-se na necessidade de vaguear pensamentos e constatações por seu passado, longo de fato, onde nenhuma mera vida humana atreveria-se a sequer intentar, onde pensavam ser apenas fantasias, ficções de falsas e ruim produções cinematográficas, que faziam cada vez mais sucesso. Pensou em tudo, nada lhe escapou. As memórias pareciam frescas e as sensações eram ainda intensas - boas ou ruins. Talvez aquele fosse o mal da imortalidade. Nada ficava no passado. Cem dias ou cem anos, o que sentia era o mesmo. O que vivia dentro de seu interior era igual. 

Pensou detalhadamente em tudo que acontecera naquela sua vida soturna, triste e comicamente trágica, até que, em um impulso mais emocional, consumindo-lhe o negro coração, onde o sangue já não era bombeado há tempos, chegou nele. Lestat. A mesma sensação antiga tomou seu corpo gélido, e o fez pensar mais profundamente - se é que poderia ainda existir mais profundidade em sua mente, já demasiada afogada naquilo que deixara para trás, com escolhas ou não. Fechou os olhos vidrados e recordou, com a particular vivacidade sigilosa. Ainda podia ouvir a atraente voz de Lestat, autoritária e sarcástica, e raramente doce, como tivera o irônico prazer de ouvir uma ou duas vezes. Ainda podia lembrar-se dos detalhes de suas rebuscadas roupas francesas, de tecido aprazível ao toque e a visão, azul e branco, sempre bem cuidadas, lavadas e apresentadas, os adornos de ouro que reluziam à luz dos candelabros na madrugada. E, acima de tudo, ainda podia lembrar com precisão do misto de sensações que acometiam-lhe quando estava na presença do outro vampiro. Podia sentir como se fosse no presente. 

Louis amava-o, nunca pode negar, e quando permitia-se a dizer o oposto do que sentia verdadeiramente em seu ser ainda preso às emoções humanas, sabia que não era convincente o bastante, era como um bobo. Seu amor ardia como o fogo das velas que usavam ao lado do piano para iluminar a sala, e doía como o veneno que o acordou para a vida eterna. Era um amor amargo, quente, lascivo e completamente dependente. Não conseguia odiá-lo por longos instantes, mesmo quando teve todos os motivos para tal coisa, somente munia-se de uma raiva impulsiva, colérica em seus momentos próprios, mas que sempre despedia-se quando via Lestat vindo em sua direção, com um belo e atraente sorriso, mesmo que também soubesse que aquilo era tóxico, nada saudável para si. Shakespeare teria adorado escrever aquela tragédia que eram juntos. Se é que um ser das trevas, como era, poderia exigir ou viver de modo saudável. Era cômico. Suspirou. Arriscou-se em pensar se Lestat também havia sentido o mesmo por ele, se também o amara daquele modo ardente, jamais praticado, apenas vivido e alimentado em devaneios como aquele que tinha naquele instante. Em seu coração com essência humana, Louis ainda mantinha a insana, tola, esperança de que um dia fora amado pelo vampiro de madeixas loiras que dera-lhe o castigo da imortalidade. Na pior das aceitações, a qual tinha de considerar para cortar tais pensamentos utópicos, tinha de pensar que talvez o outro nunca o amara - o que decerto sempre tivesse deixado explícito - e que essa ideia era apenas uma fantasia sua, uma súplica interna para conseguir suportar uma imortalidade tediosa longe de seu criador, mesmo que este fosse petulante e outros variados adjetivos que repudiava, mas que, hipocritamente, suportava em Lioncourt.

i've been far away for a long time// louis & lestatOnde histórias criam vida. Descubra agora