1. Recomeço

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No céu cinza-perolado as nuvens agrupavam-se formando outras mais escuras, carregadas de água pluvial. Com toda certeza iria chover mais tarde.

Eu inalei o ar, enchendo meus pulmões com os aromas silvestres que emanavam do verde vibrante ao meu redor - um lugar totalmente novo para mim apesar da proximidade que tinha com a natureza.

Dei uma rápida olhada no interior da casa nova. Todos já estavam instalados e, pela tranquilidade, parecia que morávamos aqui a muito tempo.

Columbia Falls, no condado de Flathead, noroeste do estado de Montana, é a cidade a qual nos mudamos a algumas horas. A primeira impressão que tive ao passar pelas ruas dessa cidade foi a de um povo simpático, do tipo que adora receber os novos vizinhos. A nossa sorte era que iríamos morar em meio à floresta densa, longe do núcleo urbano. Isolados.

Era em Columbia Falls que iremos mentir por mais alguns anos - uma atitude acostumada por todos nós.

Afinal, éramos uma família de vampiros.

E isso significava sigilo total. Nossa regra número um de sobrevivência. Um clã como o nosso - que opta viver entre os humanos - têm de criar uma fachada impecável.

Deixei que minha audição expandisse a área de reconhecimento. Eu podia ouvir tudo. O bater de asas dos pássaros no alto das árvores, os passos sincronizados de um batalhão de formigas seguindo em fileira perto dali, o zumbido de vários insetos pelo céu... e o mais leve dos passos descendo a escada da varanda dos fundos, onde eu estava. Não me virei para ver quem era. O vento mudou de direção, trazendo o suave cheiro floral ao meu alcance. Eu sequer precisava pensar para distinguir o aroma familiar. Era a pessoa que eu mais amava na vida, aquela que me apresentou ao mundo e que me deu a honra de habitar seu ventre.

Era minha mãe, Bella.

- O que achou da nossa nova casa? - perguntou ela com sua voz de soprano, pegando uma de minhas mãos. O toque não me fez estremecer, eu já havia me acostumado com sua pele gelada.

Mostrei-lhe os detalhes que mais me chamaram a atenção e enfatizei minha comparação entre nosso lar anterior, perplexa.

Mamãe riu de minha insinuação, o som era suave como o de sinos repicando. Ela beijou meu cabelo, depois afagou meu rosto. Olhei sua face e não pude reprimir um sorriso. Seu rosto imaculado era pálido como a lua, perfeitamente composto, o entalhe de uma deusa. E o cabelo castanho-escuro criava um contraste único com sua pele cor de gelo.

- Eu também fiquei surpresa. Sem dúvidas é maior que a casa de Forks - Forks era a minha cidade natal. - E a decoração... Esme é uma artista muito talentosa.

- Vovó tem um dom para isso - destaquei. - Eu simplesmente adorei meu quarto.

Meu novo quarto ficava no fim do corredor do terceiro andar; a cama era imensa, o chão forrado por um carpete dourado tão espesso dava a impressão de estar andando sob nuvens de algodão, e a parede leste era tomada de prateleiras com incontáveis livros - meu hobby preferido. A sacada tinha uma linda e inconfundível vista para as copas das árvores.

O silêncio deu fim a conversa. Não era desconfortável, muito pelo contrário, era tão bom esse momento quieto que não gostávamos de impor palavras - e além do mais, nosso relacionamento mãe-filha nunca poderia ser chamado de falante.

Me lembrei do que minha tia, Alice, havia comentado animada enquanto deixávamos Forks - seus planos mirabolantes. Ela pretendia fazer compras, renovar o closet de todos.

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