8. Boas-vindas

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Estava pendurada e molenga; minha cabeça pendia para trás e meu pescoço doía por causa disso. Alguém que não reconheci o cheiro me carregava de um modo desajeitado, pouco se importando com minha postura, como se levasse um animal moribundo. Alguma parte de mim me aconselhava a despertar e querer saber o que estava acontecendo — ser carregada por um estranho. Mas não havia nada em mim que me desse forças capazes para exercer tal ato.

Através das minhas pálpebras tingidas de vermelho, percebi que o sol estava no seu auge. Era o fim da manhã, talvez já tivesse passado do meio-dia, eu não tinha certeza. A única coisa que eu poderia afirmar era que eu não estava em casa — acho que nem remotamente perto do estado de Montana.

Limitei-me a usar meus outros sentidos — que estavam tão confusos quanto meus pensamentos. Minha audição captou dois pares de pés esmagando a vegetação rasa com intensa rapidez e, com o ar soprando em meu rosto, estimei que a velocidade beirava cento e cinquenta quilômetros por hora. Já o trabalho do olfato fora dificultoso, porque nenhum dos dois cheiros eu conhecia. Mas eram vampiros com toda certeza.

Empreguei mais energia à medida que as funções do meu organismo voltavam ao normal, entretanto tentei continuar aparentando estar desacordada até o vermelho que toldava meus olhos se transformar em preto e o vento parar de correr contra minha face. Meu tato me informou que a temperatura havia caído minimamente.

"Coloque-a no chão, Felix. Ela já está consciente.", disse uma voz sinuosamente perfeita.

Meu raciocínio processou a nova informação com um sucesso instantâneo, no mesmo momento em que senti o chão em meus pés — o desconhecido praticamente me arremessou para o chão. Eu ainda estava um pouco tonta e iria cair senão fosse por uma solidária parede de pedras gigantescas amontoadas uma em cima das outras.

Mais alguns segundos e liguei os pontos em minha cabeça, turva com leves pontadas de dor.

Felix. Um membro da guarda Volturi.

Apesar da constatação não ser a melhor notícia que eu poderia descobrir naquelas circunstâncias, fiquei grata por pelo menos reconhecer esse nome. A segunda coisa em que pensei foi que possivelmente eu estava na Itália, e um frio no estômago se apossou de mim quando arrisquei abrir meus olhos. Com a cabeça baixa, vi duas formas negras destacadas no escuro.

— Saudações, híbrida — a voz sinuosa era superficialmente calma e agradável. — Acho que já está em condições para caminhar, não é?

— Não deveríamos iniciar uma conversa com ela, Katherine — sussurrou Felix de forma ameaçadora. Logo pude identificá-lo porque eu já o ouvira anos atrás.

Levei meio segundo para encontrar a minha voz.

— Onde estou? — Eu ainda estava grogue ao tentar pronunciar as palavras num tom duro. — Como vim parar aqui?

Quão clichê eram essas perguntas, debochei de mim mesma. Elas faziam o gênero de um filme de sequestro, onde a vítima estava altamente desesperada a ponto de encher os sequestradores de perguntas, mesmo sabendo que não obteria respostas. Eu sabia disso tão bem quanto o diretor de filmagens.

— Terá respostas em breve. É apenas isso que tenho permissão para adiantar — disse a sombra mais escura num tom brando. A que deduzi ser Katherine. Os dois vampiros estavam ocultos por mantos até o chão que se agitavam ao vento. — Vamos levá-la aos nossos senhores agora. — esclareceu ela.

Deixando de lado a vertigem e o medo, saltei do canto da parede para assumir uma posição defensiva, um rosnado desfigurado saindo por entre meus dentes. Eu não iria a lugar nenhum com eles contra a minha vontade, já bastou eles me raptarem e me trazerem para Volterra — os muros altos e majestosos da cidade antiga e histórica me permitiram chegar à essa conclusão. Me controlei para que a histeria não se espalhasse para a parte do meu cérebro que queria manter a calma. A luz tocou minha pele por um instante e eu era um prisma refletindo fosco a intensidade do sol.

Forever DawnOnde histórias criam vida. Descubra agora