Capítulo 2 - Família

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Não demorou muito para eu voltar ao ringue, uma distensão muscular não me pararia. Desviei do cruzado de Mila um segundo antes de ela ser capaz de atingir meu rosto. O sorriso felino da minha amiga quase me fez tremer. Tinha pena de suas oponentes e agradecia a Deus por ela ter aumentado sua massa muscular e passado para outra categoria desde que se formou como personal trainer. Ela era Peso Leve, e eu, Peso Pena. Aqueles braços poderosos só chegavam perto de mim durante os treinos.

Ao contrário do seu modo habitual, parecia inquieta, quase saltitante em vez de equilibrada. Muito estranho estar relapsa daquele jeito para a melhor treinadora feminina em Phoenix. O melhor do masculino era o meu pai, claro. Mila mantinha os pés juntos demais, desta vez ela beijaria a lona.

Avancei. Jab de direita, para distrair, e cruzado de esquerda para derrubar. Ninguém segurava a pata do sul. Odiava esse termo, mas era o nome utilizado para definir lutadores canhotos, como eu. Nós éramos oponentes mais difíceis. Estava tão acostumada a treinar com destros, que nem mesmo gostava de competir contra outro pata do sul.

Mila aceitou minha mão estendida. Não precisava reclamar por causa dos pés juntos demais, ela trabalhava para a academia e sabia perfeitamente bem qual tinha sido seu erro. No entanto, ainda questionei o motivo da agitação.

— Nada não! Fim de semana está chegando, quero aproveitar.

Estalou o pescoço enquanto falava, um hábito pouco saudável, mas que não conseguia largar. Fim de semana? Ainda era terça. Talvez tivesse algum namorado envolvido... Seria um frequentador da academia? O toque estridente de celular chamou minha atenção. Mila se secava com uma toalha quando pulei do ringue. O visor do telefone mostrou o número da minha sobrinha. Não eram dez horas da manhã e ela estava me ligando. Preocupada, me afastei para ouvir melhor.

Meu coração se aliviou um pouco ao ouvir a sua delicada voz, não a de um sequestrador ou de um funcionário da escola avisando que algo ruim tinha acontecido. Seria bom eu dar uma pausa nas séries policiais. Apesar de a voz ser a mesma, havia uma urgência estranha.

Preciso que fale com papai.

Sinais de alerta tocarem em minha cabeça, a coisa não era boa.

— O que você fez, Amanda?

Hesitação. Ela estava encrencada.

Fiz uma coisa errada na escola... — baixou o tom de voz — e mamãe tá furiosa.

Ora, se a mãe dela estava envolvida, eu queria ficar bem longe. Holly jamais ganharia o título de cunhada favorita, apesar de ser a única que tinha. Tampouco seria mãe, nora ou esposa do ano. Na verdade, mesmo como ser humano, não era um bom exemplar.

— Você acha que vou me meter numa briga dos seus pais?

Quase fiquei surda com o "não" agudo, seguido por um "por favor" desesperado. Tinha que ser eu, sua tia amada e querida.

Alguém precisa ficar do meu lado, tia. Sempre estou no meio da briga, mas ninguém liga para o que eu quero.

Ela não estava me manipulando, era apenas uma criança perdida em meio à separação dos pais. Derek ainda amava a esposa, todavia ela não retribuía o sentimento com a mesma intensidade. Holly Herrington decidiu que casar aos dezoitos anos, após uma gravidez acidental, não era o seu sonho de infância. Detestava qualquer tipo de luta, por mais que o dinheiro utilizado para comprar seu condomínio de luxo tivesse vindo dos ringues.

Apesar de também não parecer avessa a disputas do tipo judiciais.

O divórcio estava sendo longo e cansativo, principalmente para meu irmão e sua filha. Derek não queria sair de casa, porém não houve acordo: o matrimônio estava desfeito. Depois de muita discussão, ficou decidido que eles dividiriam o tempo com a filha. Mandy moraria com o pai durante a metade da semana. Como Derek voltou a morar conosco, eu tinha uma garotinha colada em mim por três dias e meio.

(AMOSTRA) Badboy Lutador - vencer não é o maior prêmioOnde histórias criam vida. Descubra agora