Capítulo 3 - 2015

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Achei que uma mala seria suficiente, mas santa ingenuidade minha, precisarei de mais uma. E em dois dias estaremos viajando, preciso comprar urgente. Ainda bem que em viagens internacionais podemos levar 32 quilos por pessoa. Ana está na mesma situação, acho que estamos levando roupa demais, mas não temos como ter ideia de quanto tempo ficaremos. O curso durará um ano com algumas pausas e como pretendemos trabalhar eu gostaria de ficar mais tempo, na verdade não penso em voltar a morar no Brasil, já a Ana não sabe quais são suas prioridades, ela ainda não decidiu se volta ou não. Meus pais querem que eu volte, mas tudo vai depender se conseguir trabalhar.

Na noite que antecede a viagem meus pais resolvem fazer um jantar especial, meus irmãos ainda estão por aqui, viajaremos juntos até o Rio de Janeiro de onde eu e Ana continuaremos nossa viagem. O clima do jantar é de despedida e mesmo assim estamos felizes. Ana está com seus pais também fazendo as devidas despedidas, penso que para ela seja mais fácil dizer até logo, já que está morando longe de casa a um tempo. A noite relativamente foi tranquila, minhas malas estão organizadas e tudo está encaminhado, o dia de amanhã será cheio, tento dormir, mas a ansiedade toma conta, penso em tudo o que está pela frente, sinto um medo no fundo do peito por vivenciar tudo isso e ao mesmo tempo uma alegria muito grande de poder realizar o meu sonho. Fico pensando em tudo o que está por vir e adormeço. Minha mãe me desperta no horário combinado para o café em família com tranquilidade. Arrumamos tudo com calma e nos dirigimos a garagem, admiro pela última vez a casa, meu quarto e internamente me despeço do que foi meu lar nos últimos 23 anos. Fico me perguntando se voltarei para esta casa um dia ou se esta viagem será meu grito de liberdade para a vida que me espera na Austrália, ou mesmo no Brasil, quem sabe um dia. Chegamos ao aeroporto e logo encontramos Ana, seus pais e tia, vamos todos até o balcão de check-in, despachamos as malas e estamos livres para tomar aquele café da despedida por mais uma hora.

__Filha, eu espero sinceramente que tudo corra bem e não esqueça de nos enviar mensagem quando chegarem ao Rio e também em Perth, todos sabemos que hoje em dia sinal de wi-fi em aeroportos é normal. - diz minha mãe pela terceira vez somente hoje. Eu entendo a preocupação dela e sinceramente também quero manter contato.

__Pode deixar mãe eu prometo enviar mensagens, fotos, tudo o que o wi-fi me permitir.

__Filha, temos uma viagem programada na agência para um grupo de surfistas para a Austrália no próximo verão. Se você não aparecer em casa até lá, com certeza faço uma parada obrigatória em Perth.  - diz meu pai, me olhando com seriedade mas com todo o amor do mundo estampado em seus olhos.

__Com certeza pai ficaremos muito felizes em recebe-los em nosso apartamento em Perth, não é Ana? - digo, rindo com a cara de espanto do meu pai quando percebe que não pretendo voltar em um ano.

__Claro que sim, nossos familiares são muito bem-vindos em nossa casa. - diz Ana entrando no clima.

E assim termina o nosso café e também nosso tempo livre. Temos que entrar na sala de embarque, meus irmãos começam as despedidas, prometendo voltar em alguns meses. E então vem o momento do abraço da minha mãe, as lágrimas são inevitáveis. Não há palavras que descrevam esse sentimento de aperto no peito. Minha mãe não fala nada, somente me olha e passa a mão no meu rosto como que tentando guardar a imagem na memória. Meu pai vem em seguida e me abraça apertado também em silêncio. O mesmo acontece do nosso lado com Ana e seus familiares, despedidas silenciosas e carregadas de emoção. Finalmente entramos no avião, tomamos nossos lugares, cheias de expectativas, bolsas, roupas e aparelhos... meus irmãos sentam logo atrás e partimos em direção ao Rio de Janeiro. Essa é a primeira viagem de avião da Ana, então aproveito para descontrair.

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