Não espere.

Capítulo 4 - Julho 2015

Nossos lanches são o sucesso da praia. Iniciamos a venda naquela mesma semana de início do trabalho no restaurante e conseguimos vender todos nossos lanches no primeiro dia. Organizamos nossos horários e roupas e conseguimos fazer tudo dentro do tempo programado. O dono do restaurante soube que vendíamos lanches na praia e nos elogiou por estarmos pondo em prática nossos conhecimentos e ainda mais por conseguirmos nosso próprio dinheiro. As semanas foram passando e nos distraímos tanto com nosso trabalho que não percebemos que o chefe se ausentou durante uma semana inteira sem dar as caras no restaurante. Especulações dos sites de fofoca diziam que ele terminara o namoro, porém nossos colegas de restaurante duvidavam.

__Não sei não Ana, mas algo nessa estória do Christopher não cheira bem. Ele não parece feliz com ela, no entanto continua noivo. O que você acha?

__Então... também não tenho opinião formada a esse respeito. E independente de qualquer coisa a vida pessoal dele não nos diz respeito. Né, dona Camilla? – fala isso e me olha com olhos penetrantes tentando impor medo.

__Eu sei... – digo virando os olhos. – Mas não deixo de ter esperanças que um dia ele me olhe com outros olhos...

Ana nem se dá ao trabalho de me responder, só me olha reprovando minha atitude. Tivemos pouco contato com o chefe nesses últimos dias, mas sempre que ele nos encontra faz questão de nos dar boa tarde e pedir se estamos gostando do trabalho. Muito atencioso e carinhoso. Percebo que olha mais para mim, mas nunca deu a entender uma aproximação diferente, para minha tristeza.

Hoje pela manhã quando acordamos Ana estava com febre, provavelmente resultado do ar condicionado do restaurante ou de nossas caminhadas vendendo lanches na praia. Disse a ela que ficasse em casa, comprei um remédio e deixei chá pronto para que ela tomasse durante o dia, não indo trabalhar. Quando cheguei ao restaurante, o chefe estava lá, por um milagre. Rapidamente falei a ele que Ana não se sentira bem e ficara em casa em repouso para que no dia seguinte pudesse retornar ativamente ao restaurante.

__Sem problemas Camilla. Espero que ela melhore, enquanto isso, venha até a cozinha que gostaria de cozinhar e ter sua ajuda hoje. – Christopher fala isso e me olha intensamente. Fico assustada em saber que terei que ajudar o chefe hoje, porém é meu trabalho então, vamos lá. Muita coragem para ficar do lado desse Deus por algumas horas, sem tocá-lo.

Ele cozinha maravilhosamente bem, sempre simpático me pede ajuda quando precisa de algum ingrediente ou louça. Fico observando enquanto ele cozinha e imaginando aquelas mãos... Ele iniciou um papo distraído comigo enquanto preparava os pratos, pedindo de minha família, do Brasil e sempre respondi prontamente aos seus questionamentos. Porém em um certo momento ele pede:

__Solte-se um pouco Camilla, você está na defensiva. Não precisa ter medo de mim. Só quero conversar... aliás preciso conversar com alguém. – Christopher Glenn dizendo que precisa conversar com alguém e esse alguém sou eu?? Fico olhando para ele com cara de quem não entendeu a colocação e ele continua a falar sem parar.

__Sabe, perdi meus pais a 4 anos, ficamos somente eu e Katherine. Ela casou, tem filhos, é feliz. Eu ainda penso muito em meus pais e em como poderia ter evitado aquele acidente. Se ao menos eu pudesse falar... – e de repente ele para de falar abruptamente como que lembrando de algo que não pode dizer.

__Senhor Christopher – digo engasgada – o senhor pode confiar em mim.

__Obrigada, mas são problemas de família não deveria estar aqui descontando em você minhas frustrações. Vamos trabalhar? E pode me chamar de Christopher, não sou tão velho assim... lembra? – e dizendo isso ele simplesmente muda de atitude e continua a cozinhar como se não tivesse dito nada. Fico estática por um segundo e logo em seguida saio e vou ao salão ver como está a colocação das mesas e tentar respirar um ar que não esteja impregnado com o perfume de Christopher. Esse homem é realmente um enigma a ser desvendado e decidi que gostaria de ser detetive. Estou pressentindo que Ana não vai gostar do que aconteceu justo hoje que ela não veio trabalhar e consequentemente não vai gostar do que tenho para dizer. Sim, estou loucamente atraída por Christopher e não sei como lidar com esse sentimento. Preciso parar e analisar isso tudo, mas sei que estou irremediavelmente apaixonada por tudo nele. O cabelo, os olhos, a maneira como me olha, como fala... sem mencionar a maravilha que é vê-lo cozinhando. Fico me perguntando se em algum momento ele me olhou não como estagiária e sim como mulher.