O Casamento | Página 02

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           ABRINDO A CORTINA, Lídia deparou-se não só com uma multidão que esperavam os noivos para a cerimônia, mas também contemplou a quantidade de homens armados que circulavam o local.

Sim, houve de fato um acordo, famílias se uniram para se tornarem fortes, no entanto, nenhuma delas deveriam estarem desprevenidos. Algo poderia sair fora do combinado, como a desistência de uma das partes.

Poderia fugir, pensou Lídia, sorrindo, zombando internamente de todos que a esperavam para a ver noiva. Sua fuga implicaria em uma guerra e quem sabe sua família teria a chance de matar a família de seu noivo.

Sorria ela, pensando sobre esse desastre.

Embora Lídia tivesse todo o prazer de comparecer ao enterro de todos os membros da família Aguiar, ela não iria fugir, não depois de tudo o que passou, o que fizera para estar próxima a se casar.

Talvez até dançasse no túmulo, na desgraça da família Aguiar, continuou ela imaginando seu divertimento particular.

Mas não, Lídia poderia ser muito nova, entretanto não era burra. Tinha dentro de seu coração o desejo de ter tanto poder quando os Aguiar tinham, bem como conseguir arruinar a vida do homem que só trouxera desgraça para a sua família, Afonso Aguiar, o câncer que corroera a família Garcia, mas que teria que engoli-la assim que dissesse sim ao seu noivo.

— O vestido lhe caiu muito bem — comentou Fabiola, sua sogra, sobre o vestido que a mesma escolheu. Condições impostas pela família Aguiar, uma vez que Lídia não tinha mais a sua mãe, era tradição que a sogra organizasse tudo. — Sua cintura ficou pequena... — Fabiola se aproximou, fazendo Lídia sair da janela. — Já mandei Antônio avisar a Fernando que você está pronta.

— Preciso ver minha irmã antes de sair do quarto — disse Lídia, educadamente.

Ficando em frente ao espelho, analisara o vestido e pensando: Sim, ele era lindo, um corpo sereia cheio de cristais, um véu de organza que arrastava ao chão, mas não era o que iria andar até o altar.

Para Fabiola, tal acordo era uma infâmia. Mas a Senhora Aguiar amava demasiadamente seu único filho e se calou diante da decisão dele.

— Não demore — o tom de Fabíola foi de ordem.

Em minutos sua irmã Lilian entrou no quarto. Ela não concordara com o casamento. Para Lilian, essa ideia – de usarem o contrato matrimonial para negócios – deveria ficar na idade medieval. Em resumo, nem sempre era assim com famílias que tinham muito poder econômico.

Diferente de Fernando, Lídia não estava enjoada, enojada. Lídia estava querendo que acontecesse, desejava assinar de uma vez seu contrato matrimonial e ter o nome Aguiar atrelado ao dela.

— O que faz você pensar que esse casamento é um bom negócio, Lídia? — inquiriu Lilian, com desgosto.

— O necessário Lilian — disse Lídia com franqueza. — A segurança para nossa família e os negócios mais promissores, apenas isso.

— Esse casamento será seu funeral — Lilian segurava os ombros de sua irmã —, Lídia.... Não faça isso. — O medo estava estampo nos olhos grandes e esverdeados de Lilian. — Fuja. Consegui fazer com que três capangas do papai lhe ajudem a sair da cidade.

— Agora é tarde demais, Lilian! Se eu sair daqui sem uma aliança no dedo — rebateu Lídia, com olhos cheios, o coração pequeno só de imaginar que sua irmã sofria por ela. — Você e o papai iram morrer.

Lilian estremeceu com a verdade, acordando para a realidade.

— Então porque me chamou? — disse Lilian decepcionada, tirando suas mãos de sua irmã.

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