No dia seguinte, acordo antes do despertador e olho pela janela, ainda não havia amanhecido direito, o que era bom, afinal eu tinha um pouco de tempo para me arrumar, arrumar meu apartamento, arrumar minha vida. Me sento na cama e me espreguiço, com os braços para cima e as mãos entrelaçadas, apontando bem para o teto, para tirar toda a preguiça do meu corpo. Me levanto e vou para o banheiro. Me olho no espelho e entro em choque: - É bom que eu consiga disfarçar essa cara inchada com maquiagem, porque se não todos saberão que eu chorei, e muito. E vão pensar que eu sou uma depressiva que corto os pulsos, ou algo do tipo. Digo com uma voz sarcástica. Então tiro toda a minha roupa, jogo no chão, e vou para o banho. Depois do banho me arrumo, escolho uma roupa, dessa vez um blazer e saia azul marinho. Vou para a frente do espelho e começo a disfarçar aquela cara vermelha com muita maquiagem, mas sem parecer exagerado. Depois de tudo pronto, pego o metrô e vou para o trabalho.
Depois de um dia longo e cansativo, finalmente estou em casa. Hoje até que o meu dia foi legal, conversei com algumas pessoas do trabalho, tomei o tão famoso café no meu intervalo, pedi algumas dicas pro meu chefe, e assim por diante. Acho que ele está gostando do meu trabalho, afinal, sou uma jornalista bem autêntica. Ah, e acabei anotando alguns números de telefone do pessoal do trabalho. É, acho que a minha vida está melhorando. Nada como um dia após o outro. Enfim, já de banho tomado e de pijama, ligo a televisão para assistir alguma coisa. Mas não consigo me concentrar, esse apartamento está com uma decoração extremamente horrível. Eu preciso mudar tudo por aqui, mas só depois de juntar um bom dinheiro. Eu não devia ter aceitado esses móveis velhos da minha mãe, devia ter comprado novos, ou ter pedido pra ela me ajudar. Bem, pelo menos hoje conheci uma garota lá no trabalho que além de jornalista, também é decoradora. Então ela poderia fazer um preço mais justo pra mim. Enfim, acho que vou ligar para ela agora, para saber mais sobre o assunto. Pego o meu celular que estava numa mesa de centro de vidro na frente do sofá, e começo a ver os meus contatos. É então quando eu me deparo com o número da minha mãe, e me lembro que eu não liguei pra ela, pra contar as novidades, e nem nada. Então me sinto obrigada a discar o número dela. Ela atende no terceiro toque: - Alô? Filha? Tudo bem? Aconteceu alguma coisa? Disse ela. – Oi, mãe. Não aconteceu nada, só quis ligar mesmo, pra conversar. Eu disse. – Humm, entendi. Mas como você está, filha? E o trabalho novo? Disse ela. – Ah, eu estou indo, mãe. O trabalho está bom, comecei ontem. Meu chefe é um amor, e meus colegas de trabalho são legais. Só preciso redecorar meu apartamento. Eu disse. Olho em volta com cara de espanto, e chego a conclusão de que isso tem que ser urgente. – Ah, que bom, filha. Mas como assim redecorar o apartamento? E os móveis que te dei? Não são o suficiente? Ela fala em um tom indignado. – Pra falar a verdade, não estão bons não, mãe. Os móveis estão velhos, caindo aos pedaços, não combinam entre si, e não são descolados. Eu disse, de uma forma calma. – Ah, mas quando eu te entreguei estavam impecáveis, foi você que estragou. Disse ela. Revirei os olhos, e disse: - Está bem, mãe. Só queria lhe dizer isso. Outro dia te ligo para mais novidades. Estou muito cansada. Tchau, te amo. Eu disse cortando a minha mãe pra não acabar discutindo e acabando com a minha noite. – Humm, está bem. Tchau, se cuida, também te amo. Disse ela de uma forma meio fria. Desliguei o celular e continuei assistindo a televisão. Até me esqueci de ligar para a minha colega de trabalho pra saber sobre a decoração do meu apartamento. Por fim, acabei desligando a televisão e indo pra cama, aonde tive uma noite conturbada de sono. Sonhei a noite toda sobre aquele cara do bar. Que ele vinha falar comigo, tentar me conquistar, e um monte de outras coisas. Quando de repente, eu acordei no meio da madrugada, era 3 da manhã, e eu comecei a pensar no meu sonho, e fiquei morrendo de vergonha de mim mesma. Tentei desviar o pensamento, mas não conseguia. Eu queria saber mais sobre esse cara, queria ir a fundo, queria conversar com ele, ver o que ele tem de tão especial assim. Bem, isso era o que a minha mente e meu coração diziam, mas eu não podia obedecer. Coloquei a cabeça novamente no travesseiro, e tentei dormir. E foi isso que aconteceu. Caí num sono profundo até o sol nascer.
No dia seguinte, acordei morrendo de fome, e antes do despertador tocar, de novo. Aproveitei e fui para a cozinha fazer um café da manhã decente. Fiz ovos mexidos com bacon. Comi tudo. Depois fui para o banheiro escovar os dentes, e enrolar o meu cabelo. Não sei porque, mas nesse dia eu me arrumei mais do que o normal. Passei batom vermelho, e coloquei um blazer preto combinando com a saia. Me olhei no espelho e me sentia sexy, pela primeira vez na vida. E pensei: - É hoje que eu vou naquele bar. Estava decidida, minha auto estima tinha mudado do dia pra noite. Eu me sentia linda. Como é boa essa sensação de estar segura de si. Eu estava acima do peso? Estava. Mas nada que me deixe horrível, não hoje. Então, havia dado o meu horário de sair de casa para o trabalho. Chegando lá, falei com a minha colega que era decoradora, papo vai, papo vem, ela me disse que poderia fazer um desconto, porém, eu precisava guardar dinheiro de qualquer forma. Depois do trabalho, fui para aquele bar. Quando coloquei o pé pra dentro do bar, reparei que aquele barman babaca, me olhou com outros olhos. Mas eu não iria fazer confusão, muito pelo contrário, iria dar uma de superior. Fui rebolando até o balcão, coloquei minha bolsa lá, e pedi um whisky. O barman não falou nada, apenas ficou observando. Melhor assim, também. Peguei meu copo de whisky, me virei para as mesas e fiquei apreciando o movimento, procurando rapidamente com os olhos aonde estava aquele cara, o cafajeste. Para o meu azar, não encontrei ele, apenas outras pessoas inúteis que não me interessavam. O barman percebeu que minha expectativa foi fracassada, e começou a rir. Eu fingi que não ouvi, peguei meu celular e liguei para aquela colega de trabalho, cujo nome era Grace. Caiu na caixa postal. Fiquei indignada, porém, continuei a observar o bar, ouvir a musica que tocara, e a beber meu whisky. Já eram 22:30 da noite, e o cafajeste ainda não tinha aparecido, e meu copo de whisky já havia acabado, meu dinheiro também, e a minha maquiagem já tinha saído. Resolvi que era hora de ir embora. Pensei: - Que merda! Perdi meu tempo á toa me arrumando. E também gastei meu dinheiro. Peguei minha bolsa e saí do bar. Peguei um táxi mesmo, e quando cheguei, tive que subir no meu apartamento, e buscar dinheiro pra dar pro motorista. Cheguei no meu quarto e me joguei na cama, como se não houvesse amanhã, e adormeci num sono profundo.

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Máscaras de Vidro
RomanceAmália é uma jovem garota de 18 anos que acaba de se mudar para a sua primeira casa em Londres, Inglaterra. Amy, como é conhecida, não possui os padrões de uma mulher considerada ''bonita'' na sociedade, ela está acima do peso. Com isso, vai encaran...