Eu sabia que tinha que sair mais cedo.
Se tivesse saído uma hora antes, a chuva não me alcançaria. Mas ali estava eu, debaixo de uma garoa, segurando as compras e sem um guarda-chuva.
Eu já conhecia o clima de Paris por causa dos anos que morei aqui. Na primavera, apesar de começar esquentar, das flores desabrocharem e até o humor das pessoas começa a ficar mais alegre, é uma estação chuvosa. Sempre costumava levar um óculos de sol e um guarda-chuva junto, para todos os casos, mas bem naquele dia eu resolvi que o céu estava azul e o dia ensolarado e levar o guarda-chuva seria perda de tempo.
Parabéns Sofia.
Continuei meu caminho com um pouco de frio, mas nada que andar um pouco mais rápido não resolvesse, até que a chuva aumentou e eu fiquei encharcada. Corri até uma loja de vinhos onde varias pessoas se refugiavam e ponderei parar por ali para me esquentar e esperar o temporal passar, porém minha casa ficava só há alguns minutos dali. Já estava molhada mesmo.
Passei em frente à Ile de la Cite e, quando estava no meio da Pont des Arts, percebi que aqueles minutos que eu levava para chegar do mercado até a minha casa dobravam quando estava caindo uma tempestade. Maldito dia que eu resolvo esquecer o guarda-chuva.
Continuei correndo para atravessar a ponte, mas me distrai observando os cadeados presos ali. Eu já estava instalada naquela cidade faziam cinco anos, desde que comecei a faculdade, e ainda continuava impressionada e apaixonada por aquela ponte. Chegava a gostar mais do que a Torre Eiffel. Tantas histórias, tantas pessoas apaixonadas...
– Sofi? — ouvi alguém gritar por meu nome e, quando notei o sotaque, percebi que era Luc.
Ele estava há poucos metros de distância com um guarda-chuva preto e um buquê de violetas cheio. Seus olhos semicerrados entregavam que ele não tinha certeza se era eu. Talvez porque meu cabelo estava todo grudado na minha cara.
– O que você tá fazendo aqui debaixo dessa chuva? — perguntou quando teve certeza de que era a amiga louca dele.
Luc era meio francês, meio brasileiro. Ele nasceu aqui em Paris, mas trabalhava com a sua tia brasileira na mesma floricultura que eu, por isso falava português e francês fluente. Achava a coisa mais fofa, tanto o seu sotaque, quanto ele trabalhar em uma floricultura.
– Eu fui fazer compras. — respondi assim que chegou perto e me colocou embaixo do seu guarda-chuva.
– Na chuva?
– Mais ou menos isso.
Ele deu risada e trocou as flores pelas sacolas que eu segurava. Colocou o braço em volta dos meus ombros e me dirigiu até o final da ponte. Eu percebi que ele também gostava de olhar os cadeados presos nela.
– Pra quem eram as flores? — quis saber, observando o buquê nas minhas mãos.
– Para a Sra. Lawrance. Ela mora aqui perto então resolvi ir andando. Ainda bem que vim andando.
Dei o meu melhor sorriso de "não sei o que faria sem você", e perguntei para onde ele estava me levando, já que para chegar no meu apartamento tínhamos que virar a última esquina, mas ele continuou reto. Descobri que Luc estava me levando para a floricultura.
Assim que entramos na loja, o sininho da porta tocou acima de nós e logo Luciana veio nos receber.
– Sofia do céu!
A recepção mais calorosa do mundo.
– Oi, Lu. A sua loja fica tão bonita na primavera. — falei, jogando conversa fora porque talvez levaria uma bronca.
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Do outro lado do mundo
Short StorySofia passou cinco anos morando em Paris e, em todo esse tempo, nunca conseguiu revelar a Luc sua paixão secreta. Mas, quando os dois finalmente conseguem descobrir o que sentem um pelo outro, surge um problema: Sofi só tem mais alguns dias em Pari...