Chuva. Gotas e mais gotas de água caíam de nuvens cinzentas no céu, extremamente carregadas. Tudo estava propício para que a chuva perdurasse o dia inteiro naqueles arredores.
Uma árvore com mais de sessenta metros de altura, centenária, o Carvalho Branco de Vrandhil, ficava exatamente no centro da Capital do Reino Élfico. Em um dos maiores galhos, na copa da árvore, dois elfos de feições e aparência juvenil pareciam estar atentos a qualquer coisa fora do normal ali, eram dois soldados do Exército Élfico. Uma arqueira e um espadachim.
Não se engane com os elfos, apesar de sua aparência jovial, eles costumam viver até cinquenta vezes mais que os seres humanos. Aqueles dois elfos certamente teriam mais de duzentos anos de idade.
A arqueira tinha olhos cinzentos, observava as nuvens carregadas despejarem a chuva sobre as árvores que protegiam todo o Reino Élfico, seus cabelos eram curtos e de cor prata e suas feições eram como as de uma jovem de dezessete anos humanos. Ela provavelmente seria a garota mais bonita que se poderia ter notícia. Sua pele parecia marfim, ou porcelana, era leitosa e impecável, ela carregava seu arco com muito afinco, dava pra sentir a carga emocional trazida naquela simples arma.
Tal como a garota, o elfo guerreiro aparentava ter dezessete ou dezoito anos em idade humana. Ele tinha uma pele leitosa tão perfeita quanto a da garota, poderia-se dizer que eles eram gêmeos. E realmente eram. Vê-se o reflexo disso em suas feições angelicais e em seus cabelos prateados.
– Angeline, você tá sentindo o mesmo que eu, não é? – O elfo guerreiro quebrou o silêncio, observando sua irmã.
– Sim... a profecia de Thyruim inicia-se hoje – Angeline continuava com os olhos fixos nas nuvens cinzentas que formavam imagens impossíveis de se identificar e escuras, pairando no céu.
– De fato... O andarilho, o caçador e o inverno – o elfo falou, mexendo em sua espada com lâmina de prata élfica que descansava na bainha. – Infelizmente, o Mestre só fala em enigmas, ele sequer dá alguma dica ou pistas sobre o que exatamente a profecia se trata, isso é extremamente irritante!
A elfa finalmente para de olhar para as nuvens, ri brevemente com a impaciência de seu irmão e o observa, com um pouco de solidariedade e um pouco de zombaria.
– Niphlin, você conhece o Mestre Thyruim, ele não dá ponto sem nó – ela volta-se para baixo, observando a maior cidade élfica dos cinco reinos, uma das únicas ainda existentes, sua expressão deixou de ser divertida e tornou-se séria com certa facilidade. - Eles... eles dependem dessa profecia, meu irmão...
– Eles? – Niphlin parecia um tanto confuso, observando sua irmã.
– Sim, todos os elfos. Nós. Todas as raças que convivem em harmonia dependem disso – Angeline falava, olhando para os elfos passeando entre as árvores lá embaixo, mesmo debaixo de chuva eles não deixavam de ser produtivos e nunca abandonavam seus afazeres: deveres, obrigações, direitos, entre outras coisas.
– Defina "harmonia", irmã – Niphlin falou, encostando-se ao tronco da árvore. – A população de humanos cresce exponencialmente enquanto a nossa raça corre risco de entrar em extinção, tal como a raça dos anões e dos gnomos. Estão tomando nossos espaços e nos subjugando.
Sua irmã não respondeu, ela continuou observando os elfos de Vrandhil passaram sob os seus pés. Ela depois voltou-se novamente para o céu, que agora começava a se abrir magicamente. A chuva havia parado de cair, o tempo começara a mudar, as nuvens, antes cinzentas, escuras e carregadas, voltavam a se tornar brancas e do espaço onde se abriam. E o Sol surgia de forma monumental, imponente.
Angeline sentiu os raios solares em seu rosto, aquecendo sua pele de porcelana intacta, revelando um envolvente abraço caloroso do Sol. Ela fechou os olhos e respirou fundo, aproveitando os raios solares que vinham de encontro a ela. Então a elfa soltou a respiração e abriu os olhos, virando-se para seu irmão.
– Talvez você esteja certo, talvez os humanos sejam parasitas que se procriam de forma rápida – disse-lhe, pegando a própria adaga e desenhando uma runa élfica no tronco da árvore onde eles estavam, marcando que eles estiveram por ali. – Mas, como você bem sabe, os tempos mudam, meu irmão... o tempo sempre pode mudar.
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O Cavaleiro de Drakkon - Sangue de Dragão (Vol. I)
FantasyClassificação Indicativa: 16 anos Contém violência extrema, sangue, nudez explícita, sexo e palavreado forte. O Continente dos Cinco Reinos já foi próspero, estável. Os maiores reinos humanos, Icerock e Murant, agora convivem em paz com os reinos él...