O Cavaleiro de Drakkon - Sangue de Dragão (Vol. I)

3. O Coração de Gelo

Capital do Reino de Icerock, 5º ano do fim da grande guerra contra Warlock.
Dia do Sacrifício.

Neve. A primeira coisa que alguém de Icerock via na vida era a neve e, também, geralmente era a última coisa que via na vida. Não foi diferente com o Rei Richard Iceheart. Ele não era um homem muito velho, mas tampouco jovem, ele só deixou para ter descendentes quando sua participação na grande guerra havia acabado e, por ter uma idade um pouco avançada para a paternidade, ele só pôde conseguir gerar apenas uma herdeira.

Violet Iceheart nasceu no mesmo dia em que a grande guerra de Warlock acabou com a devastação completa da ilha-reino de Warlock. Ela era uma menina doce, tinha madeixas brancas como a neve e olhos azuis cristalinos, característicos de sua casa. Mas, por ser filha do rei do gelo com uma nobre da antiga cidade de Ashmut, conhecida por ter uma população, principalmente a nobreza, com uma pele característica escura, Violet era uma menina de pele preta acentuada que tinha longos cabelos cacheados brancos e olhos tão cristalinos quanto o pingente de diamante dado por seu pai no primeiro dia de seu nome.

A nobre Merhissa, mãe de Violet, infelizmente faleceu no parto da garota, levando o rei Richard a se casar novamente. Porém sua segunda esposa, Kyra, uma nobre da cidade de Zork, não engravidava, não conseguindo deixar um herdeiro homem para reinar em seu lugar quando ele morresse, algo que também não demorou muito para acontecer.

Enquanto Murant celebrava o 5º Dia de seu Rei, Icerock lamentava a fatal e última desventura do Rei Richard enquanto passeava pela neve com seus cães. E, assim como a primeira coisa que ele vira na vida, a neve também foi a última.

A jovem Violet não tinha muito mais que seis anos, ela usava um vestido branco que sua madrasta, que cuidava dela como se fosse sua filha, havia lhe dado. Ambas estavam de branco ao lado do caixão de gelo do rei que não aparentava ter mais que sessenta anos, e nem menos. Uma consolava a outra e, assim, elas tentavam se apoiar naquele momento difícil.

As lágrimas da pequena princesa eram cristalinas e desciam pelo seu rosto com uma leveza que não condizia com o momento. A Rainha Kyra também chorava timidamente ao lado da princesa, mas esta não conseguia expressar tanta emoção quanto Violet, que virou seus olhos azuis cinzentos para Lila, a líder da Guarda das Assassinas de Gelo, uma guarda de elite composta exclusivamente por mulheres, especialistas em furtividade e assassinato a sangue frio, mas faziam as defesas do castelo de gelo sempre que possível.

As duas se entreolhavam, eram velhas amigas, afinal, Lila também era negra, apesar de não ter olhos claros e tampouco cabelos brancos. Ela era uma mulher negra comum, descendente de guerreiros de Ashmut e, assim como ela, nascida em Icerock.

Lila sempre levava a princesa Violet para a orla do da floresta sagrada com pretexto de que a princesa estava apenas dando o passeio, mas esta havia insistido para que Lila a treinasse em combate, despertando um instinto de luta absurdamente grande na princesa, principalmente para uma criança de seis anos.

– Violet – Kyra falou baixo, no ouvido da princesa, ela se virou para a madrasta e observou seus olhos verdes nos dela. – Precisamos conversar um pouco. Podemos?

A pequena princesa assentiu e as duas se dirigiram para o quarto, deixando o salão agora vazio, se não pela Guarda das Assassinas de Gelo. A Rainha Kyra segurava a mão de Violet com delicadeza, mostrando sincera afeição pela garota, assim como no primeiro dia em que se conheceram. Ela tentou esboçar um sorriso fraco em meio às lágrimas, a pequena princesa apenas enxugou as lágrimas de seu rosto, olhando atentamente para sua madrasta.

– Minha pequena... Eu sei que é chato falar de politica, até para mim... mas... – Kyra falava, parecia ter uma dor no coração. – O seu pai estava arranjando uma aliança com o Reino de Murant, e ele gostaria que você se casasse com o primogênito do Rei Homero quando ele chegasse a idade certa... e você também.