CAPÍTULO 7

9 1 0
                                    

          Se, ao final da sua vida, você descobrisse que foi o motivo da infelicidade da pessoa que mais amou, você teria coragem de desejar uma segunda chance?

          Com toda certeza, da forma mais egoísta possível, eu diria que sim, que agarraria essa segunda chance sem nem pensar duas vezes, mesmo sabendo que sou eu — não minhas ações —, mas sim meu ser que o fez sofrer. Mesmo sabendo disso, eu ainda desejaria passar outra vida ao lado dessa pessoa.

          Não importa de quantas maneiras isso seja dito, não importa de quantas formas possíveis a história se desenrole, no final, a imagem do seu sofrimento iria sempre aparecer na minha cabeça.

          E mesmo que, em todas as várias vezes as quais essa vida se repetiu, ele tenha sorrido enquanto dizia que eu era importante, e mesmo que ele acariciasse meus cabelos da forma mais amável, no fundo, eu sempre saberia que ele estava sofrendo.

          Talvez seja apenas meu subconsciente que desejasse esse tipo de desenvolvimento, afinal, uma vida inteira de ignorância pode ser perdoada por um pouco de egoísmo, certo? Essa poderia ser uma situação bem romântica... Descobrir apenas no final da sua vida o que realmente fez e então, ainda assim, escolher a pessoa amada, seria um ótimo final de filme, não acha?

          Pensar tudo isso, ou melhor, apenas cogitar essa ideia, já me torna um ser nojento, só de aceitar esse fato e, ainda assim escolher esse caminho, já me faz digna de morte, então, o que dizer sobre meu eu atual? Que tem plena consciência sobre esse sentimento sem nem ao menos ter chegado ao "fim".

          É que me torna esse ser repugnante, que nem ao menos é digno de ser chamada de "humana", o fato de, desde o início, saber que destruiria a vida dessa pessoa, e ainda assim não ser capaz de me afastar, não ser capaz de tirar essa coisa que eu chamo de "vida".

          De saber que, a partir do momento que aquele pacto foi iniciado, o fim da vida dessa pessoa já tinha sido decretado, e eu, na minha mais pura arrogância e prepotência, cobri meus olhos e deixei que aquilo continuasse.

          Porém, antes que esse pensamento se acabe, eu gostaria de tentar justificar... Não, justificar não é o melhor jeito de falar, o certo seria dizer que eu quero me iludir com um motivo para tudo isso... Como eu mesma disse, não importa quantas vidas eu tenha, em todas elas, eu vou sempre escolher ficar com ele, porque eu, do fundo do meu coração, o amo. E mesmo sabendo que esse egoísmo não é nem de longe uma demonstração de amor, eu ainda quero amar ele.

          Por mais que no final ele acabe sofrendo, talvez, mesmo que seja apenas por alguns segundos, eu talvez possa tê-lo feito feliz, e isso, para mim, já é motivo suficiente para viver uma vida inteira.


2

          A luz do quarto se acendeu e alguém entrou, continuei imóvel na cama, em silêncio, esperando que essa pessoa falasse algo.

          — Hikari...? — Parecia ser a voz da Luna, porém, eu não me virei para confirmar. — Eu sei que você não está se sentindo muito bem, mas você precisa comer... Nós fizemos um pouco de biscoito... Você não quer? — Continuei sem dizer nada.

          Por mais que a Luna esteja tentando me animar, eu sei que ela me odeia... A forma como ela me olhou naquela noite... O modo como ela e a Minami me encaravam queria dizer isso claramente.

          "Eu te odeio, seu monstro!"

          — Eu não entendo muitas coisas... Você sabe como sou... — Luna continuou dizendo. — As coisas que aconteceram sexta-feira... Eu sei que a Minami ficou um pouco frustrada, mas ela já está mais calma... Vocês têm que conversar um pouco...

Kaii - Volume 2Onde histórias criam vida. Descubra agora