O que dizer sobre a Rachel? Não é muito fácil definir as pessoas, por mais que você viva toda uma vida com ela, simplesmente dizer o que alguém pensa ou faz não passa de suposições. Não é certo dizer que realmente conhece alguém, até porque nem mesmo as pessoas se conhecem verdadeiramente, então, como eu poderia definir uma pessoa da qual eu passei apenas cinco meses junto? Talvez o melhor fosse começar pela sua aparência.
Em termos gerais, eu diria que ela era uma garota rebelde ao mesmo tempo em que era desligada da vida, quem sabe até mesmo ela não sabia muito bem como se definir. As roupas certamente lembravam as de uma garota "problemática", sempre usando um jeans todo rasgado e, em muitas das vezes, nem mesmo o uniforme da escola ela vestia. O cabelo preto desbotado que, na maioria dos casos, está sempre bagunçado ajudava a reforçar essa ideia de menina rebelde. Porém, em contrapartida, seu comportamento em sala era neutro.
Tirando algumas exceções, como às vezes em que ela discutia com os professores por não a deixarem forma duplas com quem queria — alegando que eles estavam tirando sua "liberdade de escolha" — ela quase sempre demostrava ser uma pessoa dócil. Os seus olhos eram de um vermelho quase sem vida, como se estivessem pedindo para que alguém os notasse. Ela parecia perdida em pensamentos, e quase sempre, não notava o que estava acontecendo ao seu redor, daí a ideia de que ela era uma garota "desligada".
Na sala de aula, as pessoas que comumente conversavam com ela eram apenas eu e Nina, entretanto, algumas vezes ela acabava por conversar com a Hikari, já que a Nina adorava pegar no pé dela. Eu não diria que teria alguém que a odiasse, mas também não posso dizer que as pessoas a amavam. Graças aos seus surtos de sinceridade, muita gente a deixava de lado, foi difícil aceitar esse jeito dela, até mesmo para mim.
Logo no primeiro dia, assim que me sentei na carteira ao lado, ela se virou me interrogando sobre a cor do meu cabelo. Ela disse algo como: "Você faz parte de alguma tribo rebelde que adora questionar os padrões da sociedade?", e em seguida cutucou a Nina, que estava na sua frente, para poder me observar também... Talvez, seja graças a ela que eu pude fazer amigos na sala e perder parte da minha timidez...
— Liss, você está bem? — A voz do mestre me trouxe dos meus pensamentos.
— Sim, estou — respondi enquanto observava o arredor.
Nós estávamos agora no enterro da Rachel. Todos os alunos da sala estavam aqui, com exceção da Hikari. Porém, a Luna e a Minami vieram, e por mais estranho que fosse, até mesmo o Ash estava parado próximo a uma árvore não muito longe daqui, acredito que os motivos dele estar ali sejam apenas porque teve de trazer as duas irmãs.
Nina estava parada a poucos metros de onde a família se encontrava, chorando como se fosse uma criança de dois anos de idade. Ela limpava os olhos com as mangas da blusa a cada cinco segundos e não conseguia controlar os soluços, mesmo tendo uma simpática senhora ao seu lado para consolá-la.
Essa senhora em questão era a avó da Rachel, pelo que pude entender, ela não morava com os pais e por isso estava agora vivendo com ela. De acordo com o que a Nina disse em meios às lágrimas, elas se mudaram quando a Rachel era pequena e têm vivido aqui desde então.
— E que Deus acompanhe essa pobre alma. — O padre que estava de frente para a cova, terminou seu discurso dizendo. — Agora, podemos abaixar o caixão.
Seguindo as ordens do homem todo vestido de preto, o coveiro começou a preparar o caixão para ser deixado na vala que estava aberta em frente a nós. Nesse momento, Nina começou a chorar de uma forma mais intensa, e até mesmo a pobre senhora derramou algumas lágrimas.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Kaii - Volume 2
AzioneKAII História por Marcelo Revisão por Tany Isuzu Distribuição: My Light Novel - www.mylightnovel.com.br Sinopse: Dizem que a cada cem anos de uso, um objeto pode ganhar vida, ficando assim conhecido com Tsukumogami. Depois disso, eles sã...