Prólogo

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- Então o diário estava com você o tempo todo? – perguntou Claire para Erika, enquanto as duas arrumavam um colchão no pequeno quarto de hóspedes da mansão dos Potter.

- Sim, desde alguns meses antes de você nascer. Sua mãe descobriu todos os esquemas em que Marjorie estava envolvida e me contatou. Aconselhei que mantivéssemos segredo até termos certeza sobre a melhor forma de agir, mas receio que esperamos tempo demais. Seus pais foram assassinados logo em seguida e desde então tento reunir provas que acusem Marjorie como a mentora de sua morte.

Claire, com um rápido movimento de varinha, encapou um travesseiro e o acomodou no colchão recém coberto. Apesar dos depoimentos prestados no dia anterior, uma sensação latente de impotência ainda tomava conta de seu ser. Agora todos sabiam que Marjorie era a assassina de seus pais, mas de que adiantava? Todos estavam mortos, inclusive sua única amiga.

- Não se preocupe, querida. Você não vai ficar desamparada. – disse Erika, fazendo um afago nos cabelos de Claire. – Com a sua herança, você poderá viver confortavelmente pelo resto da vida. O que não vai te impedir, é claro, de ter muito sucesso em qualquer carreira que escolher. Sei da sua fama em Hogwarts.

Claire forçou um sorriso.

- Obrigada, Erika. Acho que estou pronta para dormir, agora.

- Tudo bem. – disse Erika, levantando-se. – Além disso, você pode ficar aqui em casa o quanto quiser.

- Erika, já fazem dois meses.

Erika sorriu.

- O quanto quiser. E qualquer coisa me chame.

E saiu, apagando a luz.

Claire virou para o lado, mas não dormiu. Esperou por alguns minutos até ouvir os passos da aurora escada acima. Lentamente, deixou o colchão e foi até sua mochila, no canto do quarto. Marcou uma hora no relógio e, o mais silenciosamente que pode, saiu da mansão. Ela tinha as chaves, pois Erika nunca estava em casa.

Cerca de meia hora depois, com a ajuda do ônibus bruxo, Claire estava no saguão da Mansão Malfoy. Desceu até as masmorras, que agora abrigava um único cavalete de pintura, além das velhas quinquilharias de Marjorie. No cavalete, a pintura A Boneca e Os Segredos Bem Guardados, retratando a Sala Precisa sem uma viva alma para contemplá-la e um pequeno bilhete no canto.

"Sempre estarei contigo. Mesmo que não esteja. Ass: Jean Rose."

Claire largou a mochila no chão e tirou a varinha. Com um movimento, fez o livro oculto sair do vão da parede. O livro flutuou até a mesa de trabalho e os candelabros ao redor se acenderam.

Claire foi até um velho baú e, com outro movimento de varinha, suas inúmeras trancas se abriram e de dentro dele surgiu um corpo de boneca. Uma boneca com o crânio quebrado e sem uma parte do tronco. O corpo de porcelana flutuou até a mesa, pousando levemente em frente ao livro velho. Claire foi até a mesa e, num movimento ríspido, arrancou a cabeça da boneca. Apontou para a mochila e dela saiu um emaranhado de fios vermelhos. A cabeça ruiva voou displicentemente até as mãos de Claire, que a encaixou com cuidado no frágil recipiente em forma de corpo. Com um toque da varinha, as duas peças se tornaram uma só.

Claire apontou para a grande ilustração no livro antigo e recitou um pequeno encantamento. A ilustração que antes ocupava a folha inteira se desfez em pequenas letras, dando origem ao capítulo "Feitiços de Ressurreição". Claire tirou a flor dos cabelos e prendeu aos cabelos vermelhos da nova boneca. Com um curto movimento, um pote de vidro veio da prateleira até ela. O recipiente não continha nenhuma identificação além da sigla "M. M." pintada na tampa. Parecia conter algum tipo de cultura fúngica. Quando a garota o abriu, um espectro esverdeado de aparência repugnante sobressaiu-se, infestando o cômodo com seu cheiro pútrido, e foi sugado quase que imediatamente pela boca semiaberta da boneca. Claire prendeu a respiração e iniciou uma série de encantamentos. A cada palavra, o corpo inerte parecia estremecer um pouco, como se pouco a pouco uma fagulha de vida o perpassasse. Na pintura da Sala Precisa, pouco a pouco, a figura bruxuleante de uma garotinha ruiva tomava forma.

- Feitiços de Ressurreição só podem ser realizados se o bruxo oferecer em troca uma vida a qual ele próprio deu origem. – recitou Claire, de forma mecânica - Ou uma vida da qual sua geração foi proveniente.

FIM

Honey SongWhere stories live. Discover now