Prólogo

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JULHO

— Mas Lia, você sempre foi melhor com palavras do que com atitudes — disse mamãe que estava sentada na mesa da cozinha terminando de enrolar os brigadeiros que fizemos para a festa de aniversário do meu primo. Minha família inteira foi passar o fim de semana na casa da minha tia, que fica em Santos, partimos logo cedo de São Paulo na quarta-feira, e chegamos aqui por volta dás 15h.

— Sempre fui, por isso eu e minhas amigas tivemos a ideia de mandar bilhetes e cartas à ele mamãe. Você sabe que eu sou um fracasso com o amor e garotos — já estava sentindo as lágrimas virem novamente no meu rosto — Eu pensei que ia dar certo, que ele era diferente. Mas pelo visto me enganei mais uma vez.

— Não é isso querida, você tem certeza do que viu? — ela terminou os brigadeiros e levou eles a geladeira, a cozinha da minha tia era estilo americana, com uma ilha no meio, rústica de tijolos brancos e a pia de mármore.

— Tenho — a imagem ainda rodava dentro da minha cabeça — Eles estavam juntos no jardim da casa da Raquel.

— Mas você nem esperou ele se explicar filha, simplesmente saiu correndo e chorando. Acho que ele tem algumas palavras para dizer ainda, essa história não pode acabar assim.

— Não quero mais tocar nesse assunto. O nome Noah está definitivamente proibido de ser dito.

Deixei minha mãe na cozinha e fui para o quarto de hóspedes que ficava no andar de cima, eu estava dividindo ele com a minha irmã Luísa mas ela tinha saído com minha prima para fazer compras de artigo de festas.

O quarto é bem grande, disposto com duas camas de solteiro, uma em cada ponta, as paredes são decoradas com papel de parede, ao lado de cada cama um criado mudo com abajur e duas gavetas vazias. E perto do banheiro uma estante, que ocupei com meus livros e dvds, eu e a família Kupffer vamos ficar aqui por duas semanas, é bom ter algo pra fazer e ocupar minha mente enquanto não voltamos à São Paulo.

Eu estava tão cansada com aquela viagem e os acontecimentos que se procederam no fim das aulas que acabei ficando com sono, então deitei e deixei meus pensamentos e sonhos me levarem para onde quiserem.


....

Acordei com minha irma batendo na porta, já tinha escurecido pois a unica luz que iluminava o ambiente era a da lua. Levantei rápido e fui ver como eu estava, o espelho do banheiro não era tão grande mas pelo que consegui notar meus cabelos castanhos e longos ficaram com vários nós nas pontas, no rosto parecia que eu havia levado uma bolada na cara e os olhos inchados de chorar. Tomei um banho não muito longo, coloquei meu vestidinho florido e fui abrir a porta.

  — Oi Lia, a mamãe está pedindo pra você descer porque a gente vai jantar e depois vamos dar uma caminhada em volta da praia, quer vir? — ela perguntou.

Sinceramente? Eu queria ficar deitada na cama vendo alguma série ou filme sozinha sem ninguém pra incomodar. Não. Eu tinha que parar de deixar esses sentimentos ruins interferirem na minha vida e no aproveitamento dela. Esse era o momento de deixar para trás toda a tristeza e infelicidade que eu ainda guardava dentro de mim.

— Eu vou, só espera um minutinho. Tenho algumas coisas para fazer antes— minha irmã se voltou e foi direto para a cozinha, enquanto isso eu peguei minha mala que estava embaixo da cama e fiz uma nota mental de arrumar ela antes de voltarmos à São Paulo, todas as roupas estavam amaçadas e as meias espalhadas por todo canto mas finalmente encontrei meu celular.

Não pensei duas vezes quando bloqueei o contato dele, está na hora de seguir com a vida sem interrupções, não pude deixar de notar que o Noah tinha me ligado pelo menos umas seis vezes, e mandado algumas mensagens nas minhas redes sociais. Ele estava desesperado pra falar comigo nos últimos dias, mas tudo o que fiz e vou continuar fazendo é ignorar. Pelo menos por enquanto. Eu sei que uma hora ou outra nós vamos ter que se falar, afinal, ele estuda no mesmo colégio que eu, e como se não bastasse na mesma sala.

Algo ainda me incomodava, virei o meu celular e percebi que eu ainda usava a capinha que ele me dera de presente com uma foto nossa no começo do ano, eu sei, o presente pareceu clichê, mas naquele dia foi a melhor coisa que eu tinha recebido. Olhei para a foto e tanta coisa aconteceu até agora, meio ano que se passou.
Eu me lembro como se fosse ontem, estava no meu quarto, faltava apenas uma semana para as aulas voltarem e eu fazia a mesma pergunta desde de sempre.

"O que vai acontecer agora?"
É normal se perguntar isso, pois na maioria das vezes temos medo do novo, do inesperado, mas se você quer um conselho. Aí vai um....

Pare de planejar seu futuro, porque se não, você vai perder o presente, e o agora é que mais importa.
O passado é já se foi. Não tem como voltar.
O presente é um presente.
E o futuro ninguém sabe do que  se esperar.
Depois de um tempo tudo isso serão apenas  memórias na sua mente, mas faça com que elas sejam felizes.
Faça com que elas se tornem eternas.

As Cartas Secretas  de Lia KupfferOnde histórias criam vida. Descubra agora