Futuro

5.5K 507 160
                                    

Uma vez, quando eu era menor, havia um livro diferente na biblioteca do orfanato. Ele era verde, com alguns traços em dourado. A maioria das crianças passavam reto, ou então rolavam os olhos quando liam as primeiras páginas.

A verdade é que aquele livro não tinha nada dentro. Ele era todo e completamente vazio. Me lembro da dedicatória escrita em letras caprichadas, eu passava dias tentando desvendar o que a pessoa sentia para conseguir escrever aquilo.

"Não importa para onde eu olhe, eu sempre vejo você. Pois você me tatuou a alma e me marcou a memória com seu olhar tão intenso como as obras de Van Gogh. Você é a minha noite estrelada"

Como poderia alguém amar a outra pessoa tão intensamente assim?

Me lembro de ver todas as páginas detalhadamente, para tentar captar alguma mensagem subliminar. Eu olhava e analisava e cheirava e passava dias fazendo isso. Até que encontrei um rasgo na contracapa, rasguei o resto da folha amarelada e encontrei a mesma caligrafia.

"Eu tentei escrever, mas você está me observando em todas as páginas. A cada gota de tinta eu vejo o seu rosto. Porque, se eu escrever, então vou me lembrar de você. E isso dói. Prometi a você que superaria isso, mas já fazem cinco anos. Cinco anos que não escrevo nada. Você, minha querida esposa, sempre foi apaixonada por estrelas. E agora você é uma delas."

E então eu entendi. Não se tratava de uma ignorância do escritor, mas de amor. Ele dedicou um livro em branco para a esposa morta, mas isso não significa que ele não a amava, significa que ele a amava tanto que não tinha palavras para descrever.

E eu nunca me imaginei no lugar dele.

Amar alguém ao ponto de sofrer durante cinco anos e, sabe-se Merlin, até mais? É algo surreal.

Mas agora, na minha frente, estava uma garota falando que eu amaria alguém e teria filhos com ele. Na minha frente, uma garota estava dizendo que eu me casaria, e que ficaria feliz. Que eu formaria uma família.

ㅡ Eu não acredrito ㅡ sussurro, lembrando das vezes que sonhei que isso fosse real. Das noites em que eu me imaginava amando alguém. Parecia tão distante, tão complexo.

ㅡ Pois acredite, futura senhora Black ㅡSirius fala rindo. Como ele pode ficar assim? Ele não tem... medo? Pavor? Pânico?

Porém, eu não era única em choque. James estava com os olhos tão arregalados que eu achei que poderia estourar a qualquer momento. Talvez, mas só talvez, ele pensou a mesma coisa que eu: uma pessoa que não teve família consegue formar uma família?

Remo estava sorrindo, como se já soubesse. Talvez ele fosse um vidente ou algo do tipo, porque sempre parece estar um passo na frente do resto de nós.

ㅡ Você não vai tocar nela, Almofadinhas ㅡ James fala, olhando sério para o melhor amigo. Se eu não soubesse, poderia jurar que um lampejo de medo passou pelos olhos de Sirius.

ㅡ Não tem como mudar o futuro, Pontas ㅡ Sirius respondeu. Não sei se por um milagre ou derrota, mas James pareceu entender. Seu olhar ficou compreensivo e, de repente, Sirius não parecia mais uma ameaça.

ㅡ E o Remo, ele tem filhos? ㅡ perguntei, tentando desesperadamente mudar de assunto.

ㅡ Sim, Teddy Remo Lupin. ㅡ respondeu James do futuro.

Talvez eu devesse o chamar por outro nome. Porque são muitos "James" e isso pode confundir alguém que esteja lendo isso. Portanto, para melhor entendimento, irei o chamar de Thiago. Uma tradução abrasileirada do nome James.

A MarotaOnde histórias criam vida. Descubra agora