2009
Julian acordou no seu beliche do orfanato, olhando para o teto. Ele pode afirmar que só observou dois outros tetos além desse: o do hospital na noite que nasceu, e o teto de estrelas quando foi abandonado pouco tempo depois.
12 anos se passaram, sem nenhuma figura familiar e poucas amizades. Por algum motivo as crianças da sua idade não gostavam dele, seus poucos amigos eram efêmeros, pois um tempo depois eles eram adotados por alguém.
O leão se sentia especialmente solitário aquele dia, seu último amigo (Daniel) havia sido adotado tarde passada e agora ele se sentia como um barco de pesca numa tempestade marítima, mas ainda assim ele saiu da cama para fazer suas atividades diárias.
O orfanato não tinha um sistema de ensino interno, então ele precisava ir para uma escola que ficava nos arredores. Julian se dava bem nos estudos, mas o que o preocupava era a hora de sair da sala e voltar para o orfanato. E tudo acabou se repetindo novamente
— Olha lá gente, é aquele viado que não tem pai, mãe e agora também não tem amigos.
Julian sofria bullying por bastante gente por ser órfão, especialmente de Allan, um raposo que vinha de uma família conservadora de classe médio-alta. Ele costumava ignorar as provocações com a ajuda do Daniel, mas agora ele estava bem longe. Ele tentou ignorar as provocações e sair andando, mas foi surpreendido quando o raposo o empurrou, levando-o ao chão em poucos segundos.
— Olha pra mim quando eu falo com você — Disse Allan, com um tom ameaçador.
Julian respondeu com silêncio, pegou sua mochila do chão e saiu correndo, parando em um beco próximo ao orfanato
— E-eu não aguento mais isso... P-por que tiram todos de mim? — Ele havia sentado em posição fetal na parede, agarrando sua juba com tanta força que poderia arrancá-la, lágrimas silenciosas escorriam por seu rosto — Po-por que ninguém me adota e me tira desse inferno?
O leão ficou por cerca de 10 minutos chorando até decidir se levantar, secar as lágrimas e voltar para o orfanato.
Ele seguiu direto para o quarto que dividia com outras 3 crianças bem menores do que ele e encontrou uma empregada do orfanato esperando por ele.
— Julian? Temos um casal querendo um filho um pouco mais velho para adotar, está pronto pra deixar esse lugar?
Ele arregalou os olhos e quase deixou a mochila cair de felicidade e disse com convicção:
— Sim!
— Ótimo, você já passou tempo até demais por aqui, me siga, elas querem ver você antes de te levar para casa.
Julian seguiu-a com uma dose de curiosidade extra após ter ouvido "elas". Mas isso não influenciava o seu sorriso. O sorriso de alguém que 12 anos depois teve a chance de recomeçar do zero.
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Candy
General FictionUma história sobre um jovem leão e seus (muitos) altos e baixos