Cherry Lips

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  Eu adentrei a boate, já passando da portaria principal. As luzes oscilavam por todo o salão, o vermelho, azul e verde eram intensos. Passei direto pelo pequeno corredor que dava acesso ao banheiro feminino, e parei de frente ao espelho, analisando-me.
  O vestido estava ok; um preto básico de seda, com alças finas e detalhes brilhantes na barra. O caimento V no colo deixava-o entre o intimidador e o "não estou tão interessada assim", mostrando minhas coxas um pouco mais do que deveria.

  Como num efeito de transição, eu já estava posta na pista de dança; os olhares caíram sob mim, mas dei de ombros e caminhei até o balcão, pedindo um drink diferenciado dos que eu já havia visto; era um rosa florescente com uma cereja na borda.
Virei-me abruptamente, encarando os que estavam ao meu lado nas banquetas do balcão, na ponta final um cara me encarava, então cemicerrei os olhos à fim de tentar identificá-lo: era Michael.
  Poderia jurar que meu coração iria sair pela boca naquele exato instante, me virei rapidamente e bebi de uma vez o álcool com sabor que enchia o copo. Peguei a pequena cereja e coloquei-a de uma vez na boca, voltando para a pista principal; encarava Michael tentando não demostrar nenhuma reação, ele também não parecia se importar. Mordi a cereja, fitando-o séria, mas tudo escureceu de repente e algum tipo de flash estourou nos meus olhos.

  Agora estávamos as sós, apenas os dois na boate como se a festa estivesse encerrado e nós não havíamos percebido. Uma música lenta e calourosa tocava ao fundo, Michael estava sentado numa cadeira mais alta, de frente pra mim e devorando-me com aqueles olhos pequenos e castanhos tão escuros, quase pretos.
  Algo surgia dentro do meu âmbito, de dentro para fora; uma vontade repreendida. Passei a mão direita nas mechas ruivas e curtas do meu cabelo, colocando-as atrás da orelha, minha cintura mexia-se de acordo com a batida, virei-me de costa, minha mão esquerda deslizava sob os ombros e eu encarava Michael por cima destes, séria. Sua boca estava entreaberta, mas ele ainda não esboçava nenhuma expressão facial.
  Segurei a barra do vestido, puxando-a mais para cima quase deixando parte do meu quadril à mostra. Soltei-a de uma vez e mordi o lábio inferior, Michael agora passava o dedo indicador no queixo e franzia a testa, como quem estivesse concentrado em ver o que estaria por vir depois daquilo. A música não parava de ecoar em minha cabeça, meu corpo sedia a ela e eu sabia que estava fazendo aquilo muito bem.
  Propositalmente, deixei uma alça do vestido cair, e em seguida tirei a outra deixando toda minha costa nua; o resto da seda havia ficado presa por mínimo entre o final da costa e o bumbum. Michael soltou um suspiro e sorriu de lado, levantando-se e juntando-se à mim na dança.
  Ele deixou os lábios próximo ao meu pescoço, ofegando a respiração, eu fechei os olhos e seus braços passaram pela minha cintura, suas mãos agarravam-me fortemente e pressionava nossos corpos. O calor que estava alí naquele meio tentava escapar de alguma forma, mas eu não queria me mover um centímetro sequer. Levei meu braço por trás de sua nuca acariciando-a, os cabelos lisos e ralos passavam entre meus dedos, dei uma leve puxada e ele me virou subitamente.

  Meus olhos o devorava, sua boca chegou bem perto da minha soltando um ar quente e doce, nesse momento pude sentir minhas pernas trêmulas. Entrelacei os braços em volta de seu pescoço, e antes que eu pudesse encostar-me nele novamente e juntar nossas bocas, um barulho irritante ecoou no local.
  Tudo havia ficado preto e eu abri os olhos, piscando algumas vezes. Levantei num salto da cama e desliguei o despertador do celular, sentindo meu ânimo baixar ao me dar conta de que não passava de um sonho.

  Combinei de me encontrar com Clarice no Porpino Burger na hora do almoço, mas eu havia me atrasado na hora de copiar uma matéria então mandei um mensagem:
"Oi, tô saindo agora, pede nosso almoço que eu já chego aí."

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