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  O barulho das gotas d'água caindo sob o teto do carro soavam como uma música, o ar gelado entrava pelas frestas das janelas, o mesmo ar condensado que saía da nossa boca e alcançava o vidro da frente do carro, embaçando-o, onde Estella desenhava um coração com os dedos. 
  Mesmo aparentemente o clima estando frio, não vestíamos nada que pudesse esquentar, havíamos encostado num posto de gasolina, mesmo que flashes de uma cena anterior mostrasse eu e Estella saindo para comprar sorvete de creme sem passas; mas no meio do caminho o tempo fechou e as nuvens acinzentadas nos seguiram, nos obrigando a estacionar o carro até que a chuva, que agora mostrava-se mais forte, cessasse.
  Eu olhei-a fixo nos olhos, eram de um castanho muito escuro, poderia jurar que eram pretos feito carvão, e eu gostava. Estella abria um sorriso e mordia os lábios, como quem estivesse prestes à aprontar algo, então eu me aproximava mas não conseguia chegar tão perto, como se fosse impossível tocá-la. Aquilo me deixava agoniado, eu queria beijar suas bochechas mas minhas mãos só conseguiam tocar seus ombros, tirando a alça da blusa branca que ela usava. Dei um suspiro e torcia para que toda aquela roupa sumisse logo, e quando menos percebi Estella se esgueirava no banco, montando-se em cima de mim. Suas mãos acariciaram meus cabelos, descendo pela nuca, e quando seus lábios bem desenhados num formato perfeito, remetendo à boca de boneca e posso afirmar; estavam prestes a tocar os meus, Jhone me cutuca na barriga, para que eu despertasse.


  Pelo visto eu havia dormido numa cadeira qualquer no meio do evento, em horário de trabalho. Mas a sessão de fotos que eu tinha que tirar já havia acabado e eu estava esperando Jhone para irmos pra casa, então resolvi me sentar e literalmente apaguei. Eu cocei os olhos e bocejei em seguida, me levantando e arrumando a camiseta em meu corpo.

- Tava num sono bom né? Jhone rodopiava as chaves nos dedos. – O evento acabou, vamo que vamo.

- Vamo passar na casa do Nik, deixei uns tripés lá.

- Esqueci que vocês tem um caso!

Ele me deu um tapa na costa, e seguiu caminho até entrarmos no carro e ir em direção ao condomínio de Nikolas. Eu passava alguns finais de semana lá, por isso acabava sempre esquecendo algo.
  Nós pegamos o elevador no hall de entrada e logo chegamos no sexto andar, Nik estava jogando no video game e havia uma garota lá, seus cabelos eram longos e loiro, ela usava uma blusa velha de Nik e eu sabia porque ele usava aquela camiseta pra absolutamente tudo. A garota epreguiçava-se no sofá, hora mexendo no celular, hora olhando ele jogar, talvez fosse alguma menina que Nik estivesse pegando, então não dei muita bola e apenas cumprimentei ambos. Caminhei até seu quarto; eu iria somente pegar o material mas Nik veio atrás, deixando Jhone à sós com a garota, o que, poderia ser um pouquinho perigoso levando em conta que, quando se trata de mulher, Jhone não tem receio de nada.

- Ela é bonita né?

- Que?
Peguei os tripés desmontados e enfiei na mochila. – Eu não reparei...

- Fala sério, cê passou meia hora encarando a guria.

- Nik, eu não tava encarando ela. Sim, é bonita. Mas e eu com isso?

- Qual foi cara, nem parece o mesmo Michael que eu conheci à um tempo atrás.
Ele se encostou numa cômoda preta, cruzando os braços e me encarando.

- Ela é amiga da Sara, ficou bêbada e pediu pra dormir aqui. Eu poderia facilmente dar em cima dela e aproveitar a noite, mas deixei-a exclusivamente pra você!

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