⁃ GAIA -Ajeitei a mesa do jantar e fiquei pensando em como teria sido aquela noite se Bernardo não tivesse chegado. Fiquei repassando e repassando e depois de novo todas as possibilidades de desfecho para aquela noite específica. Provavelmente minha mãe teria me levado a tempo para o hospital, acabaria viva, porém ouvindo um sermão eterno e frequentando a psiquiatra todos os dias da semana e com certeza eu tentaria de novo; as pessoas me olhariam com pena e eu me sentiria louca pelo resto da vida. E infelizmente meus cálculos estavam errados e eles chegaram mais cedo. Eu não morreria naquele dia.
⁃ Eu já busquei sua irmã na Erica- mamãe disse. Erica é a irmã mais velha dela, porém por algum motivo desconhecido elas discutiram há alguns anos e minha mãe nunca disse que ela era sua irmã. A minha tia só servia para cuidar de mim e dos meus irmãos quando a minha genitora tinha que sair.
⁃ Oi, Gaia- Cassie falou para mim, eu e minha irmã não temos nada em comum no quesito aparência.
Cassie puxou para minha mãe, os cabelos loiros, a pele branquinha e macia, os olhos claros com cílios fartos. E eu para o papai, meus cabelos são negros, meus olhos castanhos e minha pele consideravelmente morena, e o corpo curvilíneo em contradição ao corpo esguio de Cassie. O fato de ser parecida com ele já me fez ouvir afirmações péssimas da minha mãe nos dias de recaída pela morte dele.
Não é como se eu não sentisse falta do papai e ela sabia disso, porém sua arrogância não a deixava entender a saudade que eu e minha irmã sentíamos e ela sempre falava dele em vão, com suas palavras que magoavam. Cassie me disse uma vez que mamãe parecia até tentar magoar-nos propositalmente, não me admirava que fosse verdade.
⁃ Oi branquela- respondi empurrando seu ombro de leve- sabe que dia é hoje?
⁃ Sexta-feira?- ergueu as sobrancelhas e fez cara de boba.
⁃ Não, sua idiota!- sinto-me levemente ofendida pelo fato de ela ter esquecido que as sextas nós maratonamos séries ou assistíamos alguns vídeos de culinária no YouTube até meia noite.
⁃ Eu sei que é dia de maratona, Gaga- ela sorriu levemente e depois o sorriso desapareceu lentamente de seus lábios- mas não tô muito legal hoje...
⁃ Qual é, branquela???- peguei sua cintura e chacoalhei seu corpo magro demasiadas vezes, tentando fazê-la rir.
⁃ É sério, Gaia. Hoje não...
E novamente alguém estava procrastinando em me contar o que estava acontecendo. Sempre sentia que as pessoas não queriam confiar seus segredos a mim ou quando faziam eu simplesmente parecia arruinar tudo com uma dezena de palavras. Minha irmã estava triste por uma razão que eu desconhecia. Meu coração palpitou ao olhar seu rostinho avermelhado e um olhar que eu já havia reconhecido, percebi que Cassie já esteve mal antes, eu que talvez nunca tivesse parado para me importar com ela. O que mais me deixava atordoada era que queria negar o fato de que eu só ligava para os meus próprios problemas.
Baguncei seu cabelo e sentei-me na mesa, na ponta oposta ao meu padrasto. George estava na cadeirinha adaptada para bebês e minha mãe estava amassando arroz e frango para ele. Seu rosto estava tenso, dona Eleanor sempre portava-se assim perto do marido.
⁃ Ligaram outra vez aqui, querido... A luz está atrasada, acabei esquecendo de te falar no carro e...
⁃ Mas que droga, Eleanor! Só eu que trabalho nessa porra de casa, eu que saio todas as manhãs e ralo igual um miserável para alimentar as bocas de três vagabundas aqui dentro. Já tá na hora de você fazer alguma coisa, não acha?
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§ GAIA §
Teen FictionGaia tem um espírito suicida. Quando a menina tenta se matar um desconhecido aparece e tenta ajudá-la e a mostra o lado bom da vida. Plágio é crime! Saiba respeitar.