Capítulo 1

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Já era fim de tarde quando escultei uma voz me chamando de longe enquanto corria o mais rápido que podia com a visão embaçada por causa das lágrimas. Dentro da minha cabeça só pensava em uma coisa...
Por que?
A dor me consumia por inteira, desde a raiz dos fios do meu cabelo até a unha do dedinho do pé, e o que me deixava pior ainda era que eu não conseguia entender o por que.
Não sei bem por quanto tempo corri sem rumo, só se que parei sem fôlego na frente de um lago, um belo lago, havia nele algumas aves como patos e gansos, mas eu não conseguia me importar muito com isso, eu estava triste demais pra poder apreciar.
Eu me sentei próximo a beira do lago, e fiquei lá, pensando e tentando refletir enquanto lia num pedaço de papel as ultimas palavras que a meu melhor amigo tinha escrito... Lia, relia e lia de novo, decorei cada virgula, cada ponto final.
****- Porque está chorando menina?- virei me para trás , e vi uma linda menininha, a julgar pelo tamanho, tinha pouco mais de 6 anos.
Manuela- Eu só estou um pouquinho triste. E qual é o seu nome?
****- Meu nome é Maria Luíza, mais todo mundo me chama de malu, e o seu?
Manu- eu me chamo Manuela, mais todo mundo me chama de manu- ela abriu um sorriso lindo deixando a mostra a falta de dois dentres da frente, era lindo- nossos apelidos são muito parecidos nao acha?
Malu- é verdade, você é muito bonita.
Manu- obrigada, mais você que é linda- meus olhos ainda estavam úmidos, mas ainda sim consegui forçar um sorriso carismático.- quantos anos voce tem malu?
Malu- eu tenho 6 anos e meio, e você?
Manu- eu tenho 14 anos.
Malu- porque você tava triste?- era uma pergunta tão inocente .
Manu- um amigo meu que eu amava muito virou um anjinho malu.
Malu- ele vai ficar juntinho com minha mamãe lá no céu então, eu vou pedir pra mamãe cuidar bem do seu amigo tabom.
Ela me deu um beijo na bochecha e saiu correndo pra perto do seu pai. Eu fiquei pior do que eu estava depois dessa conversa e eu resolvi voltar pra casa, precisava dormir até acordar e perceber que tudo era um pesadelo muito ruim que teve final.
No caminho de volta foi tranquilo, enquanto o sol terminava de se pôr, eu andava em direção a minha casa, não me preoculpei muito com o tempo.
Quando cheguei em casa subi direto pro meu quarto, e me tranquei lá, não havia sinal de ninguém em casa, acho que meu pai ainda tava trabalhando. Tomei um banho demorado e coloquei o meu conjunto de moletom favorito, eu desci até a cozinha e fiz um café como de costume pro meu pai, e fui assistir um DVD.
Eu escolhi o disco da minha festa de 10 anos, fiquei rindo enquanto as lágrimas rolavam livremente por entre o meu rosto, eu via a gravação e lembrava como se fosse ontem quando eu e o Edu brincavam os abobadas na piscina de bolinhas e pulavamos quase com o objetivo de tocar o céu, era momentos muito bons, nao demorou muito e eu adormeci em meio as lágrimas.
Meu pai chegou um pouco tarde do trabalho, acordei com ele vindo me cutucar pra ir pra cama, eu dei uma olhadinha no relógio e vi que já se passava da meia noite, meio sonolenta meu pai me ajudou a subir ate meu quarto e me deitou.
Gabo- Boa noite minha princesinha, durma bem.- ele me deu um beijo na testa de forma carinhosa enquanto eu adormecia.
Nessa altura do campeonato meu pai já devia ter sabido o que aconteceu com o Edu.
Na manhã seguinte acordei por volta das 10h e fiquei enrolando na cama, eu nao tinha sonhado com nada, apenas descansei meu corpo. Só desci as escadas quando escultei a campainha tocar. Fui atender a porta.
Gina- Oi manu, como você ta? - a Gina era minha melhor amiga, foi ela que tentou ir atrás de mim quando sai correndo ontem.
Manu- eu to levando né, entra ai- dei passagem pra ela entrar e Fechei a porta- já estão comentando?
Gina- os boatos ainda estão se espalhando, eu vim aqui saber se você vai querer ir no velório dele hoje à noite?
Eu nao senti minhas pernas, minha cabeça girou e eu sentia meus olhos perdendo o foco, até que me vi presa na escuridão, sem pensar sem sentir sem respirar.
Minha cabeça doía muito quando acordei, me vi deitada numa maca de hospital, do meu lado estava vários equipamentos de hospitais, eu não conseguia compreender nada, quanto mais eu tentava me desvincilhar daqueles aparelhos, mais meus pulsos iam se machucando, eu estava presa na maca pelos pulsos e tornozelos.
Não demorou muito até que os enfermeiros ouvissem o barulho e viessem correndo, eles me fizeram ficar calma, quando consegui raciocinar eles me soltaram.
Manu- o que tá acontecendo?- minha cabeça ainda doía muito.
Enfermeiro- você foi presa justamente por isso, normalmente quando os pacientes acordam do coma ficam muito assustados e a primeira reação é tirar os aparelhos.
Eu fiquei muito confusa, EU em coma? Como isso aconteceu, tudo ficou muito confuso na minha cabeça, foi então que eu lembrei da ultima coisa que fiz..
Manu- quanto tempo eu fiquei apagada?- não era a pergunta mais importante que eu tenha pra fazer, mais era a que me deixava mais inquieta.
Enfermeiro- você chegou aqui na sexta feira, e hoje é domingo...- me deu um alivio nao foi tanto tempo assim- mas duas semanas se passaram.
Meu coração disparou e a maquina começou a apitar, o enfermeiro me deu um pouco de calmante, e me acalmei, como assim... Eu fiquei apagada por duas semanas?
Manu- cadê meu pai?
Enfermeiro- ele esta na sala de espera, ninguém tem acesso a UTI.
Manu- o que aconteceu comigo?
Enfermeiro- você chegou aqui no hospital inconsciente, fizemos de tudo pra te acordar mais você nao reagia, então os médicos te internaram na UTI e te deixaram sob minha supervisão.
Manu- ai meu Deus, eu perdi o velório e o enterro do meu melhor amigo. - as lágrimas saltaram para fora dos meus olhos, e eu entendi o que tinha acontecido, tudo ficou claro em minha cabeça.
Os dias iam se passando rapidamente, eu era atendida por vários médicos e psiquiatras, todos ficaram comovidos com o motivo de eu estar ali, todos me ajudaram, em menos de uma semana eu já estava em casa, mais o pior estava por vim, eu teria que ir pra escola no dia seguinte e encarar a todos me olhando e cochichando sobre isso, já imaginava o quão ruim ia ser. Mas meu pai nao me deixaria faltar mais um dia, se não eu ia repetir de ano, já tinha faltado quase um mês. Mesmo com atestado nao era retirada as faltas.
Assim que cheguei em casa, eu pai me colocou na cama e me cobriu.
Gabo- boa noite minha princesa. Durma bem, qualquer coisa é só me gritar.- ele nao se demorou muito.
Eu fiquei ali, deitada olhando pro nada e pensando em tudo, tudo o que já vivi e na dor, ah, a dor, ela não diminuiu nem um pouco, se manteve intacta dentro de mim. Mas eu tinha agora que ser forte e me acostumar com ela.

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⏰ Última atualização: Dec 27, 2016 ⏰

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