Guilda foi levada a arrastos pelo castelo até grandes portas marrons que se abriram e um ambiente completamente diferente do anterior se fez visível, o cheiro de rosas que a enorme sala em tons de vermelho e dourado exalava inebriava seus sentidos.
- Trouxemos a garota, deem um jeito nesse cheiro de cortiço dela. – um dos homens que a arrastou até ali tirou-a do transe. – O rei logo mais quererá vê-la.
- Ótimo, mais uma putinha real? – riu uma mulher que usava somente anágua e um espartilho mal amarrado, abanando-se com um leque, esparramada em uma poltrona luxuosa. – Bem-vinda ao prostibulo real.
- Não dê ouvidos a ela, menina. – uma linda mulher, com seus cabelos negros presos e seu corpo emoldurado por poucos trajes, aproximou-se. – Entre e sinta-se em casa.
- Já que essa será sua casa a partir de hoje. – continuou outra garota de igual beleza e cabelos ruivos, puxando Guilda pelo braço para dentro do cômodo, enquanto os guardas fechavam e trancavam a porta atrás das duas. – Eu me chamo Amelia. Essas são Aldreda, Eda, Johanne e Anneth. – apontava para as garotas da sala. – E você, garotinha? – perguntou mexendo em seus cabelos repletos de feno.
- Guilda. – sussurrou a garota ainda arisca com a situação. - O que vai acontecer comigo?
- O que aconteceu com todas nós. – respondeu a moça que acabara de descobrir se chamar Anneth. – A partir de hoje você é uma concubina real, uma espécie de esposa da noite do nosso amado soberano.
- Esposa da noite? – olhou confusa para todas que pareceram ter pena de sua ignorância.
- Você sabe o que acontece entre um homem e uma mulher a noite, quando são casados? – perguntou Amelia e Guilda concordou, ruborizando. – Nós prestamos esse serviço ao rei.
A jovem garota ficou ainda mais vermelha, mas não de vergonha, e sim de puro ódio. Nunca se deitaria com o responsável pela morte de sua família e se a quisessem obrigar, cometeria suicídio, já que não tinha mais ninguém a quem voltar.
- Mantenha-se calma. – outra das donzelas advertiu, sentindo a palpável ira de Guilda. – Não há como fugir, ou tentar qualquer coisa. Acredite, eu já tentei. – desatou parte de suas vestes mostrando uma enorme cicatriz com o brasão real. – E foi isso que recebi em troca, fui marcada como gado. – riu fraca, com um semblante triste. – Já vi torturarem até a morte moças que se negaram ao rei, estou farta de ver tantas crueldades. – aproximou-se de Guilda e sussurrou. – Então, por favor, não tente nenhuma loucura. – segurou sua mão. – Iremos lhe deixar perfeita para hoje a noite. – olhou para as outras donzelas, como que se chamasse-as para o trabalho.
Deram lhe um banho demorado numa banheira muito mais luxuosa do que a que tinha em sua antiga casa. Esfregaram seu corpo todo, passando óleos para aromatizá-la. Puseram lhe um traje leve e branco relativamente simples, uma ou outra tira de renda em um tecido de seda. Poderia se sentir honrada por estar vestindo roupa de tamanho requinte, se o temor não fosse seu único sentimento.
Prenderam seus longos e castanhos cabelos em duas tranças de cada lado que se uniam no centro da cabeça, como o rei apreciava, segundo as concubinas. Levaram-na até o grande espelho do cômodo e lhe apresentaram a nova Guilda, completamente diferente do que se lembrava.
- Você é realmente bonita. – Amelia sorriu.
- Essa não sou eu. – cuspiu a garota, ainda irritada.
- Essa é quem deverá ser a partir de hoje. – aproximou-se Aldreda, a concubina que caçoara da garota quando chegou. – Guilda morreu, você é quem vossa majestade quiser.
Antes que pudesse responder, as portas do quarto se abriram e os soldados reais entraram.
- Ela está pronta? – perguntou um deles, rodeando Guilda. – Vejo que até parece gostosinha agora. – riu malicioso acompanhado somente pelos outros três guardas. – Está na hora de encontrar o rei, vadiazinha. – agarrou a garota pelo braço e a arrastou-a para fora.
Guilda foi puxada sem ao menos poder pedir ajuda, ouvindo vários xingamentos vindos dos homens que a levavam. Ela sabia o que estava por vir, já conversara com sua mãe sobre os deveres conjugais de uma mulher, mas aquilo era completamente diferente, a forma como lhe tratavam, a pena nos olhos das concubinas. Deveres conjugais não eram a única coisa que lhe seria exigida.
Depois de muito andar por corredores que a jovem não saberia distinguir, pararam em frente a outra imponente porta, que se abriu sem precisar de chave alguma, revelando um homem alto de aparência nobre, usando vestes cor de vinho com detalhes em fio dourado.
- Vossa Majestade. – os quatro homens se curvaram em reverencia, mas Guilda permaneceu na posição que estava, olhando o homem de cabelos negros e os olhos assustadores.
- Então essa é a garota nova? – questionou o homem em tom de tédio.
- Sim majestade. – o primeiro respondeu, afastando-se da menina.
- Podem se retirar. – fez um breve gesto com a mão e os guardas sumiram num piscar. – Entre, por favor. – sussurrou, abrindo mais a porta, mas Guilda ficou imóvel, procurando formas de fugir. – Eu ordenei que entrasse. – ele agarrou seu braço com muita força e a jogou no chão do cômodo em que estava. – Precisa aprender a obedecer ordens, sua puta. – vociferou. – Eu sou seu rei, Anthony IV, deve a mim sua vida.
O homem se aproximava ferozmente, à medida que a garota se arrastava, afastando-se. Ele pisou em seu vestido para impedi-la de fugir e se abaixou próximo ao seu rosto. Guilda cuspiu nele, em sinal de desprezo e recebeu um tapa que cortou lhe o lábio como resposta.
- Eu serei muito feliz te educando para que aprenda como é a vida aqui. – segurou-a pelo pescoço, para que a jovem o olhasse. – Você é minha propriedade e eu não terei escrúpulos em usá-la, pois sua única utilidade aqui é me proporcionar prazer. Entendeu? – novamente o silêncio se fez presente, quebrado pelo som de outra bofetada no rosto de Guilda, que acabou por cuspir um dente no chão, tamanha a força. – Lhe fiz uma pergunta.
- Por favor, me deixe em paz. – sussurrou, tentando novamente se afastar.
- Eu não tiraria a paz de ninguém. – agarrou o braço da garota, levantando-a. – A não ser que não façam o que mando. – a jogou na cama de bruços, rasgando o vestido que usava, deixando seu corpo a mostra.
- Não! Por favor! – Guilda berrou em desespero.
- Você será minha, vadiazinha. – soltou os cordões que prendiam sua calça, tirando-a.
- Eu imploro! – voltou a se manifestar a garota.
- Vou lhe contar um segredo. – aproximou-se do ouvido dela e sussurrou. – Todos nesse castelo são pagos para me obedecerem e se manterem calados. Não terá salvador.
A jovem chorou e gritou por socorro ao ser violentada pelo homem mais poderoso do reino, implorando para que mantivesse o único bem que lhe restava, sua pureza. Pareceram horas de sofrimento continuo, físico e psicológico.
- Foi divertido. – exclamou o homem, ao terminar o ato brutal, saindo de cima da jovem que chorava compulsivamente. – Poderá voltar ao meu quarto em breve. Por hora, saia daqui! Está sujando os lençóis com seu sangue ruim.
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Trilogia Sangue Azul - Livro 1 - Margarida
Historical FictionRealeza e proletariado não devem se envolver. Lei incontestável que sempre que testada, prova ainda mais sua veracidade. A coroa deve vir antes de qualquer sentimento irracional, pois para carregá-la é preciso ser forte e suportar seu peso.