Assim que abri meus olhos percebi que ainda não havia clareado. Peguei meu celular em cima do criado mudo e olhei as horas. Três da manhã. Me levantei e resolvi ir beber água.
Abri a geladeira e peguei uma garrafa. Bebi. Não estava com sono, então me sento no sofá da sala e fico mexendo no celular. Ouvi um barulho na escada. Quando olho vejo Micael.
- Não está conseguindo dormi, Sôfia? - Ele pergunta enquanto se aproxima de mim.
Balanço a cabeça negativamente e perguntou:
- Você tão bem não?
- Não. Vim beber água.
Aceno com a cabeça e ele segue para a cozinha. Quando volta senta-se ao meu lado. Retirei meus olhos da tela do celular, pois percebi que ele queria conversar.
- Você não é daqui não, né Sôfia?
- Não. - Respondi. - Cheguei sábado.
- E por que veio para cá? - Ele continua, curioso.
- Por causa do trabalho da minha mãe. Tive que vim primeiro. Já era para ela ter chegado, mas aconteceu um imprevisto, que ela não me contou é claro, e só vem hoje a tarde.
- Há.
- Seu pai é bem simpático. - Digo para puxar assunto, mesmo que fosse uma mentira.
- Pode acreditar em mim, ele não é. - Ele diz, e eu percebi que sua expressão muda um pouco.
- Que pena. Eu achei. - Falo meio desconcertada, sem saber se foi pela expressão dele ou por eu ter falho na mentira.
- Me bateu um sono agora, você já vai se deitar? - Impressão minha ou ele tá fugindo do assunto?
- Sim, já vou. - Digo por fim, não querendo forçá-lo a nada.
Nos levantamos.
Quando comecei a caminhar topei em algo. Sorte que Micael conseguiu me pegar a tempo, me erguendo rapidamente. Ele não me soltou. Fitou-me com um olhar estranho que nunca havia dirigido a mim. Seu rosto chegava cada vez mais perto do meu, até... As luzes se apagaram. Me afastei dele.
- Será o que que aconteceu?
- Acho que faltou energia por causa da chuva.
- Há sim.
Voltamos para os quartos. Me joguei na cama entediada. Odeio quando falta energia.
Me cobri e acabei adormecendo logo.
***Acordei com o despertador do meu celular. Me levantei e fui acordar os meninos. Ainda bem que não tive problema com isso, todos os três a levantaram bem rápido.
Voltei para meu quarto e fui tomar banho. Assim que acabei de me arrumar desci. Todos já estavam na sala me esperando.
- Vamos tomar café, Sôfia? - Pedro me perguntou.
- Sim.
Seguimos para a cozinha. Ao chegar lá observei que havia bolo e suco.
- Fui comprar naquela padaria aqui perto. - Disse Fernando.
- Ótimo. Não estava com saco para cozinhar hoje. - Comentei sorrindo.
Comemos. Estava maravilhoso.
Ao terminarmos fomos para sala. Todos já estavam prontos. Assim que peguei na maçaneta, a própria girou sozinha. Me afastei rápido da porta por tal ato e acabei me batendo contra Micael. Ele segurou meus braços. A porta se abriu mais, revelando então a minha mãe.
- Mãe? - Falei indo devagar até ela, ainda sem acreditar.
- Sim filha, sou eu. - Ela me respondeu enquanto vinha me abraçar. -Estava morrendo de saudades de você.
- Eu também, mamãe.
Depois de alguns segundos abraçadas, percebi quando ela retirou seu queixo do meu ombro. A partir dali soube que já vinha bomba.
- Quem são eles, Sôfia?
Meu coração gelou. O que eu ia fazer agora? Minha mãe iria me matar se soubesse que eu estava cheia de amiguinhos garotos. O jeito era soltar a única alternativa que ela mal pudesse me punir. Fiquei meio receosa, mas era o único jeito. Só restava rezar para me perdoarem depois. Olhei para Micael, meus olhos lhe suplicavam perdão pelo que estava prestes a acontecer.
- Este aqui é Micael, meu namorado. E estes outros dois são amigos dele. Eles vieram me buscar pra ir pra escola. Além disso estamos até atrasados, não é meninos?
Todos balançavam a cabeça positivamente. Ainda bem que estavam a entrar no jogo.
- Seu celular, Sôfia. Já pegou? - Micael me perguntou.
Era mesmo. Tinha esquecido no meu quarto.
- Tô indo pegar.
Saí correndo dali de tal forma que nem bala me pegava. Peguei meu velar em cima da cama e desci correndo novamente. Quase que caia na escada. Sinceramente eu ainda achava que aquela escada ainda iria me derrubar.
- Cuidado, você pode cair. - Micael me falou.
Era impressão minha ou Micael entrou no jogo rápido demais? Não reclama, Sôfia. Não reclama. Agradeça muito por isso, se não uma hora dessas você já estaria completamente ferrada.
- Difícil não se apressar uma hora dessas, estamos atrasados. Tchau mamãe.
- Tchau filha, até mas tarde.
Saímos.
Um alívio imenso tomou conta do meu corpo quando nos afastamos de casa. Eu não consegui pronunciar uma palavra se quer para os meninos naquele momento. A vergonha me consumia por inteira.
Ao chegarmos na sala o professor havia acabado de entrar também. Pelo visto não éramos os únicos atrasados. Ele pediu para apresentarmos primeiro. Apesar do que aconteceu a pouco tempo atrás, minha apresentação saiu excelente,assim como a dos meninos.
***
O intervalo chegou, não podia mais adiar a conversa. Adiei de mais inclusive. Eles já mereciam uma explicação.
Todos já estavam a sair da sala quando falei:
- Micael, posso conversar com você?
- Claro. - Ele me respondeu gentilmente.
Comecei a sair da sala com ele me acompanhando. Procurei um lugar mais vazio no pátio. Encontrei. Sentamos em um banco debaixo de uma árvore.
- O que quer falar comigo? - Perguntou-me.
- Queria me desculpar com você pelo que fiz mais cedo em minha casa. Entenda, precisava fazer aquilo. Você não sabe como é minha mãe.
- Não se preocupe com isso. Sei que não faria isso se não tivesse um bom motivo. Você não parece uma pessoa que faz isso por diversão.
Novamente veio na minha cabeça aquela pergunta inconveniente: " Por que ele aceitou tão fácil assim?". Mas então eu disse:
- Obrigada Micael. Obrigada mesmo. - O abracei bem forte. - Você poderia por favor explicar aos meninos isso. Acho que eles estão boiando com tudo que aconteceu.
- Claro que posso. Não precisa se preocupar. - Disse ele me apertando mais um pouquinho e me dando um belo sorriso.
Voltamos pra sala.
Horas depois o último horário tocou. Arrumamos nossas mochilas e fomos embora. Micael já havia explicado tudo aos meninos, e eu fiquei mais morta de vergonha quando ele fez isso,na minha frente. Me surpreendi bastante quando não tiraram o sarro que eu espera. Eles levaram numa boa. Sério, esses três meninos não existem.
Estava prestes a atravessar o portão de entrada quando Micael me perguntou:
- Quer ir passear com a gente?
- Obrigada, mas não posso hoje. Minha mãe tá em casa, não vejo a dias.
- Entendemos. Até amanhã então.
-Até.
Apesar do acontecido de mais cedo não via a hora de poder abraçar minha mãe.
Abri a porta de casa e a primeira coisa que vi foi minha mãe sentada no sofá. Corri até ela e lhe dei um longo abraço.
- Mãe, já voltou viu? To morrendo de calor.
- Ok, mas não demore.
Tomei um banho, troque de roupa e desci novamente para almoçar. Já estava pronto, me dirigi logo para a cozinha. Minha mãe já estava lá, terminava de pôr nossos pratos. Me sentei e nós duas começamos a comer.
Toda vez que a encarava ela lembrava de mais cedo.
- Como foi esses dias longe de mim? - Mamãe perguntou, querendo puxar assunto.
- Bem, na medida do possível sem você, é claro. - Há se ela ao menos imaginasse tudo que ocorreu desde que cheguei aqui.
- Bem mesmo, já está até namorando!
- É... - Respondi envergonhada. Já podia sentir meu rosto esquentando.
- Me conta como vocês se conheceram.
- Depois, vamos terminar de comer logo. - Eu precisava de um tempo pra inventar alguma coisa.
Terminamos de almoçar, arrumamos a cozinha e fomos nos sentar na sala para assistir um filme. Nem assistimos o começo do filme direito, pois ela fez questão de me cobrar a resposta de como Micael e eu havíamos nos conhecido. Consegui inventar algo e acabou colando bem.
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A traição
ActionSôfia ver sua vida transforma depois que mada de cidade. E logo no seu aniversário de dezessete anos sua mãe é assassinada na sua frente. Recuperando-se desse enorme choque ela vai tentar vingar-se dos responsáveis pela morte de sua mãe...